domingo, 9 de março de 2008

08/03 - O Brasil e a guerrilha

08/03 - O Brasil e a guerrilha

Por Flávio Oscar Maurer

A verdade sufocada

O episódio da libertação de reféns em poder da guerrilha colombiana, como todos viram, foi realizado sob os auspícios de um show de autopromoção pessoal do histriônico presidente venezuelano Hugo Chaves. A neo-ideologia bolivariana fundada por ele, como qualquer observador medíocre pode concluir, é apenas uma nova e nada original versão do velho e decrépito ideário comunista do ditador cubano Fidel Castro que já deu provas suficientes ao mundo de sua truculência e incompetência em proporcionar liberdade e desenvolvimento ao seu povo. Depois de sucessivas derrotas internas em seu megalonômico projeto político de se perpetuar no poder, Chavez apostou todas as suas fichas no papel holiwoodiano de herói sem fronteiras, atuando como intermediário na libertação de alguns reféns em mãos de seus amigos das FARC.

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A libertação de dois reféns é irrisória ante as centenas de pessoas de várias nacionalidades que se encontram sob constante tortura nos campos de concentração das FARC. Ela serviu apenas para colocar Chavez sob os holofotes da imprensa internacional e principalmente a de seu próprio país. É muito provável que este ato de libertação já tenha sido previamente negociado por Chavez com os terroristas com o exclusivo intuito de alavancar a imagem dele na mídia mundial que estava em franco processo de deterioração diante de sucessivas derrotas políticas.

A esquerda mundial, é claro, encontrou todos os motivos do mundo para voltar a incensar o pseudo-líder venezuelano. Ao mesmo tempo em que Chavez em inflamado discurso que fez para a sua claque, também chamada de congresso nacional venezuelano, provavelmente como parte do acordo com os narcotraficantes, conclamou o mundo a retirar as FARC e outras organizações guerrilheiras colombianas da relação dos grupos terroristas que atuam no planeta, como também mostrou a íntima ligação que mantém com estas organizações. Por si só, este ato já seria motivo suficiente para que o regime de Chavez seja incluído entre aqueles que apóiam o terrorismo em escala mundial.

As FARC,porém, para não deixar dúvidas ao governo da Colômbia, imediatamente após a escusa negociação que mantiveram com Chavez, mostraram sua verdadeira face: seqüestraram logo um grupo de turistas que se juntaram àqueles mantidos em cárcere e sob tortura na densa e inóspita selva. O tiranete bolivariano foi mais uma vez desmoralizado em seu rompante de estadista ao pretender convencer o mundo de que as FARC são apenas um grupo insurgente na Colômbia, com propósitos políticos definidos fundados na democracia.

O que pretendo, porém, comentar é a disfarçada simpatia que, em nosso país, segmentos da mídia, bem como figuras hoje de projeção nacional e conhecidos intelectuais nutrem pelas FARC, logo demonstrados com toda a veemência, diante do êxito da libertação de duas reféns pela guerrilha. É preciso lembrar à população brasileira que as FARC são produto da guerra fria e surgiram na Colômbia em 1964, na mesma época em que grupos terroristas apareceram em quase todos os países da América do Sul, inclusive no Brasil, todos apoiados, financiados e treinados por países comunistas, cuja estratégia para a tomada do poder ainda era inspirada na luta armada.

Naquela mesma época, aqui no Brasil, como é sabido, surgiram grupos terroristas que adotaram a guerrilha urbana e rural como estratégia para alcançar o poder e cuja única meta foi a de implantar aqui um regime comunista semelhante ao de Cuba. Paradoxalmente, apesar de seu reconhecido fracasso em resgatar a dignidade social, política e econômica do povo de Cuba, Fidel continua sendo alvo da admiração e dos aplausos de autoridades de nosso país, bem como os terroristas daquela época são hoje regiamente indenizados pelo Estado pelos seqüestros, assaltos e assassinatos que cometeram naquele tempo.

Como é sabido de todos, porém muito pouco reconhecido, o nosso pais foi salvo da sanha dessas organizações terroristas pela ação decisiva e patriótica da Forças Armadas que as combateram e as venceram de forma definitiva em todo o território nacional. O objetivo da guerrilha e do terrorismo no Brasil durante a década de 60 e início de 70 do século passado nunca foi segredo de ninguém. Alguns de seus próprios integrantes, quer em depoimentos veiculados pela mídia, quer em livros publicados, deixaram sempre claro que desejavam, sim, implantar aqui um regime comunista, para o qual, pasmem caros leitores, chegou a ser modelo por algumas dessas organizações, a mais pobre e miserável nação européia: a Albânia. Aquele país e seu sofrido povo até hoje não conseguiram se recuperar do atraso social, político e econômico a que foram submetidos pelo regime cruel lá instalado, isto depois de ter se tornado uma nação democrática há quase 20 anos.

Já na América do Sul, naquela época, o único país que resolveu tolerar os movimentos guerrilheiros existentes em seu território, foi a Colômbia. Os governantes daquele país, num erro estratégico sem precedentes, desconheceram a “práxis” marxista de tomada do poder pela força e a qualquer preço – os fins justificam os meios – e ingenuamente acreditaram no diálogo com as organizações de esquerda, cujo braço armado deixou de ser combatido na ocasião oportuna com o vigor e a determinação imprescindíveis para as circunstâncias da conjuntura mundial daquela época.

Já imaginou o prezado leitor se as autoridades brasileiras daquela época tivessem caído na mesma cilada em que a Colômbia caiu? Muito provavelmente centenas de famílias brasileiras e de outros países estariam lamentando seus parentes há anos seqüestrados no sul do Pará ou em qualquer outro local da imensidão da nossa selva amazônica. E os imensos recursos forçosamente desviados para combater os grupos terroristas muito provavelmente iriam, muito mais que a CPMF, comprometer os projetos sociais do governo. Qual não seria o vexame que a nação brasileira teria que passar diante do mundo inteiro em abrigar em seu território grupos terrorista, aliados ao narcotráfico, que inapelavelmente estariam entravando a nossa credibilidade internacional para seu desenvolvimento, bem como fazendo naufragar siglas tipo PAC e outras que são, hoje em dia, o carro chefe da publicidade do governo?

Flávio Oscar Maurer

mmaurer@terra.com.br

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