21/03 - Acabou o dialogo
A verdade sufocada
Por SÉRGIO PARDELLAS
Empresas como Monsanto e Vale acusam o MST e a Via Campesina de provocarem prejuízos de US$ 200 milhões e vão brigar na Justiça
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A onda de protestos e invasões promovida pelo MST, Via Campesina e Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) contra o agronegócio em pelo menos 18 Estados escolheu como alvos preferenciais a mineradora Vale e a transnacional americana Monsanto. As ações guardaram a mesma característica: foram organizadas por lideranças não pertencentes às comunidades que vivem nos arredores das áreas ocupadas pelas empresas. Essa constatação reforça a tese de que os atos tiveram cunho eminentemente político, o que vai alterar a estratégia das empresas para evitar novas invasões e, simultaneamente, buscar a reparação dos prejuízos estimados em US$ 200 milhões. Se, em outras situações, a negociação com os movimentos sociais foi considerada o melhor caminho para alcançar o entendimento, agora as empresas dizem que não há alternativa senão recorrer à Justiça. “Vamos processar os líderes dos movimentos. Trata-se de um movimento político. Estão querendo usar a Vale somente para ganhar visibilidade”, acusou o diretor-executivo de assuntos corporativos e energia da mineradora, Tito Martins. A Vale, afirma ele, sempre investiu no relacionamento com os moradores de regiões exploradas pela mineradora. “A interlocução é freqüente com públicos que possam sofrer algum tipo de impacto, positivo ou negativo, com nossos projetos”, explicou.
Em Estreito, onde cerca de 200 ativistas ocuparam a entrada de acesso ao canteiro de obras da usina hidrelétrica por 11 horas, já foram feitos 39 convênios socioambientais com a maioria dos municípios da área, de acordo com o presidente do Consórcio Estreito Energia, José Renato Ponte. O canal de diálogo com os moradores e associações de classe e de bairro permanece aberto. “Nosso relacionamento com a população local é o melhor possível”, garante Ponte. Por isso mesmo, as empresas não reconhecem como legítimas as manifestações do MST, da Via Campesina e do MAB. Alegam que não há nem pauta de reivindicação por parte dos movimentos. E entendem que, desta vez, o litígio judicial será inevitável. “Esses movimentos não estão na nossa área de influência, não podem dizer que foram prejudicados. Discordamos desses atos de banditismo e não negociamos com bandidos”, ataca Tito Martins. A direção da Monsanto, que teve o acesso a sua subsidiária, a Agroeste, fechado por 700 mulheres em Xanxerê (SC), e sofreu uma invasão na sua unidade em Santa Cruz das Palmeiras (SP), faz coro com a Vale. Em nota, a Monsanto indicou que vai cobrar na Justiça a reparação dos prejuízos causados pela perda de dois anos de pesquisas com milho transgênico: “A Monsanto condena veementemente atos ilegais como este, que, inclusive, desrespeitam recentes decisões do Poder Judiciário.”
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