terça-feira, 15 de abril de 2008

A Petição: indignação real ou armadilha ideológica?

por Heitor De Paola em 14 de abril de 2008

Resumo: O que teria acontecido a Ziraldo e Jaguar se eles tivessem exercido suas atividades “sociais” e de “defesa da liberdade e da democracia” em Cuba ou na China?

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Foi lançada na última semana uma petição de “Repúdio às imorais indenizações de Ziraldo e Jaguar” no site http://www.petitiononline.com/zj171/petition.html, visando explorar a indignação com tais medidas de uma parte da população, expressada através de cartas aos jornais. Tais cartas superaram no último dia 9 de abril as referentes à dengue, n’O Globo. À primeira vista parece que há uma indignação real, mas olhando mais detidamente, salta aos olhos uma pergunta: por que Ziraldo e Jaguar? E os milhões que já foram gastos com outras assim chamadas “vítimas da ditadura”, os mais de 1.400 terroristas, assaltantes de bancos e seqüestradores agraciados com indenizações igualmente milionárias e imorais? Nada a dizer? E as supremas ofensas às Força Armadas Brasileiras e a todos os brasileiros de brio: as promoções post mortem de assassinos, desertores e espiões da laia de Prestes, Marighela e Lamarca? Provavelmente os indignados peticionários acreditam que estes mereceram as prebendas com que foram brindados.

Escrevo este breve texto para alertar os leitores de que esta petição é uma armadilha cínica bem aos moldes dos comunistas e seus assemelhados. Note-se que a apresentação da petição aceita explicitamente os méritos dos indigitados quando diz: “Sem desconhecer ou negar os méritos do extinto jornal e sua corajosa participação na luta contra o regime implantado pelo golpe de 1964, não se pode, de forma alguma, aceitar esse equívoco lamentável do Ministério da Justiça”. Equívoco lamentável? Mas não é esta a função principal deste Ministério, entregue a um dos companheiros de luta dos indenizados?

Mais adiante, após desdenharem a “cupidez vergonhosa dos dois jornalistas”, diz que eles “Transformaram em negócio o que pensávamos ter sido feito por dignidade pessoal e bravura cívica. Receberam, por décadas, o nosso aplauso sincero. Agora, por dinheiro, escarnecem de toda a cidadania, chocada e atônita com a revelação de suas verdadeiras personalidades e intenções”. Será que entendi direito: querer dinheiro é o que os degrada, e não terem servido fielmente às verdadeiras ditaduras genocidas, as comunistas de Cuba, URSS, China e outras menos votadas? Com isto dão razão ao mote de Millôr, que lhes serve de epígrafe : “Então eles não estavam fazendo uma rebelião, mas um investimento”. Isto é falso pois nega a verdadeira intenção das pretensas vítimas: a de transformar nosso País numa grande e miserável Cuba onde eles sozinhos gozariam de todas as benesses do trabalho do povo a quem alegam servir. Nada de novo no front: as verdadeiras intenções das esquerdas são exatamente estas: a criação de uma nova classe e dela já fazem parte os indenizados (todos).

Prossegue o texto de autoria de um tal Ruy Nogueira Netto, que não tenho o desprazer de conhecer: “Com a ditadura sofreram todos os brasileiros. Por isso não encaramos como negócio lucrativo, prebendário (sic) e vergonhoso o que se fez por idealismo, honradez e dever. A ditadura não só não provocou danos terríveis a Ziraldo e Jaguar, como agora os enriquece e os torna milionários à custa de um país de miseráveis e doentes”. Estranho... Durante a tal “ditadura” os miseráveis se elevaram na escala social, não havia desemprego – pelo contrário, segundo depoimento do atual Presidente da República as fábricas viviam a cata de operários oferecendo enormes vantagens e complementações, e foram criados 13 milhões de empregos - os leitos hospitalares eram suficientes para a população, os médicos ganhavam salários dignos – sei porque sou um deles – e não a vergonhosa gorjetinha de hoje. O PIB cresceu 14% por ano em média, passando do 45º para o 10º lugar. Dos cinco “ditadores” só Geisel saiu com quatro empregos – e neles trabalhou até se aposentar – os demais saíram como entraram. Não havia cartões corporativos e D. Scylla Médici decorou a granja do Riacho Fundo sem gastar um tostão com móveis dos depósitos públicos de Brasília. A reforma da hierarquia reduziu drasticamente o número de Oficiais Generais e aboliu o posto máximo das três armas (Marechal, Marechal-do-Ar e Almirante) – estranha ditadura militar esta que não distribuiu “indenizações” aos seus pares, mas cortou cargos e aumentou encargos!

Assinar esta petição é referendar a existência de uma cruel ditadura que perseguia gente bondosa preocupada com “o social”, como se diz no dialeto politicamente correto de hoje. É mais ainda: é referendar que os que a ela se opuseram eram lutadores pela democracia e pela liberdade quando não passavam de terroristas, guerrilheiros e ladrões de banco, revolucionários que faziam rebelião sim, não “investimento”. Mesmo os jornalistas, artistas e intelectuais orgânicos coniventes e que, o mais das vezes, eram seus mentores intelectuais.

Pergunto, à guisa de conclusão: o que teria acontecido a Ziraldo, Jaguar e todos os outros se eles tivessem exercido suas atividades “sociais” e de “defesa da liberdade e da democracia” em Cuba ou na China?

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