21/03 - Imperialismo imaginário
A verdade sufocada
Por Jarbas Passarinho
A onda vermelha dos países que têm sido eleitos na América do Sul, embora ligados ao Foro de São Paulo, nascido em 1990 por iniciativa do Partido Comunista de Cuba e do qual participou o hoje presidente do Brasil, não nos tem poupado de críticas típicas da esquerda. O imperialismo nos tem sido atribuído pela Venezuela de Chávez, a Bolívia de Evo Morales e pelo candidato favorito à Presidência do Paraguai, que trocou as vestes eclesiais de bispo pela de chefe do nacionalismo paraguaio.
O general venezuelano Alberto Müller Rojas é ex-professor de geopolítica do então cadete da Academia Militar, hoje presidente Hugo Chávez. O mestre e o aluno mantêm ligação íntima. Rojas chefiou a campanha eleitoral que elegeu Chávez, coordena a criação do Partido Socialista Unificado (que se propõe a ser Partido Único) e é o ideólogo da revolução bolivariana. Que seria essa revolução, senão a restauração da Grã Colômbia de Bolívar, que incluía Venezuela, Colômbia, parte do Peru, Equador e Bolívia? Presentemente, só o Peru e a Colômbia não são satélites de Chávez. Aos presidentes Garcia e Uribe, ele tem dedicado adjetivos altamente ofensivos, torpes até. No Peru, porque foi vencido seu protegido. Na Colômbia, é notório o apoio que presta à guerrilha comunista Farc, velha de 44 anos e que pela primeira vez está confinada na floresta.
Em entrevista, o general Rojas disse que “o Brasil nem compra petróleo da Venezuela, o que se deve às tradições imperialistas do Brasil, que existem desde antes do descobrimento, devido ao Tratado de Tordesilhas (sic). As forças conservadoras no Congresso brasileiro querem que o Brasil execute um choque imperial na América do Sul”. Ele não sabe que não compramos petróleo porque somos auto-suficientes e é melhor continuar vendendo o petróleo venezuelano, pesado por sinal, aos Estados Unidos. Como o mundo vive a era pós-colonial, claro que ao imperialismo a que se refere o geopolítico general é do tipo cultural, de choque com “o socialismo do século 21”, na verdade anacrônico, do tipo entrado em colapso na Europa desde 1991, mas redivivo no Terceiro Mundo.
Evo Morales, a quem atendemos todas as exigências, na realpolitik de Lula (“é nosso dever ajudar os países mais pobres”),cita outro tipo de imperialismo, o definido pelos teóricos da Teoria da Dependência. Teríamos comprado o Acre por um cavalo, acusa-nos o líder cocaleiro. Só se o cavalo valia 2 milhões de libras esterlinas e mais 119 mil pagas ao Bolivian Syndicate, que alguns de nossos patriotas ainda vêem como prova de cobiça internacional da Amazônia, ao contrário dos governos brasileiros que sempre reconheceram pertencer o Acre à Bolívia. Pagamos pelo gás não consumido, devido à cláusula leonina do take or pay. Duas refinarias da Petrobras foram expropriadas e logo depois vendidas na bacia das almas a Chávez. Aceitamos rompimento dos contratos vigentes e aumentado o preço do gás que a Petrobras ajudou a produzir, pesquisando poços ao custo de US$ 15 milhões por unidade. É a isso que o senhor Evo Morales chama de imperialismo brasileiro. Fez doutrina, como se verá a seguir
Quando, em maio de 2007, Lula desembarcou em Assunção, em visita oficial, o principal jornal local, ABC, estampava esta manchete: “Brasil, um país imperialista e explorador”. A matéria explicitava “o povo paraguaio tem direito a uma rebelião, farto de tantas injustiças e vil exploração”. O exemplo a seguir, escrevia o editorialista, era Evo Morales, “que partiu para cima do Brasil e venceu os dois rounds que disputou: o aumento do preço do gás e a nacionalização das refinarias”. O motivo desse delírio acusatório centra-se no preço da energia que a Itaipu paga ao sócio paraguaio.
O presidente da usina binacional nega que falte transparência à sua gestão e apresenta abundantes argumentos, mas não convencerá os nacionalistas rancorosos prenhes de ressentimentos históricos. O ex-bispo Fenando Lugo, líder nas pesquisas, “promete levar o Brasil à Corte de Haia, para recuperar a soberania energética”. Espanto-me, pois acompanhei, de perto, as negociações. O notável engenheiro Marcondes Ferraz, que construiu a hidrelétrica de Paulo Afonso, batia-se pelo traçado de Itaipu todo no território brasileiro, desviado-se para isso, no Brasil, o leito do Rio Paraguai. O Itamaraty venceu ao discordar.
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