Sexta-feira, 14 de Março de 2008
40 anos depois.
Coturno Noturno
A injustiça é flagrante, foi denunciada por Élio Gaspari e virou matéria nos principais telejornais. Um asssassino terrorista recebe uma indenização muito maior do que a sua vítima. Se fosse o inverso, haveria passeatas dos movimentos sociais, missas, atos de desagravo, visitas do Suplicy, manifestações no Senado. A Imprensa fez a sua parte. O Judiciário não abriu a boca. O Legislativo não deu um pio. O Executivo fez cara de paisagem. O caso já está caindo esquecimento.
Vítima de um atentado à dinamite praticado por Diógenes Carvalho de Oliveira, membro da Vanguarda Popular Revolucionária, em 1968, contra o consulado dos EUA no Brasil, Orlando Lovecchio Filho, 62 anos, descobriu que seu algoz ganha do governo federal uma ajuda mensal de R$ 1.627 mais R$ 400 mil por atrasados, enquanto ele recebe míseros R$ 571 mensais. "O governo negou duas vezes o meu pedido de ajuda. O autor do dano tem mais direito do que a vítima", afirma Lovecchio. Ele perdeu parte da perna após a explosão de uma bomba e ainda teve de provar que não tinha responsabilidade no atentado. Hoje recebe do governo R$ 571 mensais. O Ministério da Justiça informou que a lei da anistia é para perseguido político e que Lovecchio não se enquadra nesse perfil.
O Diógenes da VPR virou o Diógenes do PT, assessor do governador Olívio Dutra, o Truta. Hasteou a bandeira de Cuba na sacada do Palácio Piratini, foi a ponte do partido com o jogo do bicho e principal ator dos rolos do Clube da Cidadania. Foi anistiado pelos assassinatos e crimes cometidos quando era terrorista. Quando explodia bombas que arrancavam pedaços de inocentes. Hoje vive de proventos e de uma aposentadoria como ex-bandido, pagas pelos impostos recolhidos por gente decente. Inclusive pelo Orlando Lovecchio. Se tivesse sido mais estratégico e menos operacional, hoje seria ministro do Governo Lula.
O caso, agora, vai cair novamente no esquecimento. Não mexeu com a opinião pública. Não chocou senadores e deputados. É a prova mais concreta de que o povo brasileiro não quer falar mais nisso, 64, golpe, guerrilha, regime militar, terrorismo, seqüestros... O Brasil tem 184 milhões de habitantes. E apenas 14 milhões de brasileiros acima de 60 anos, que poderiam ter algum discernimento sobre fatos como estes, ocorridos há 40 anos atrás. Quem, por método, ainda mantém a mística da luta contra a ditadura militar é a esquerda, nas suas homenagens, prêmios e discursos, onde apenas uma parte da história é contada. Queiram ou não, a história é contada pelo vencedor. O perdedor aceitou a derrota quando, ao entregar um país pronto para a democracia e livre do comunismo, em vez de contar a verdadeira história, preferiu dizer, sob o silêncio covarde dos seus comandados : "me esqueçam!" Esqueçamos o Lovecchio. Quem venceu foi o Diógenes.
Coronel
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