Quarta-feira, 5 de Março de 2008
Algumas considerações sobre o conflito.
Coturno Noturno
Quem é belicista?
Enquanto Álvaro Uribe não moveu um só homem do exército colombiano, de um lado da fronteira Hugo Chávez manda tanques, de outro lado Rafael Correa desloca efetivos. Ambos adotam o discurso da guerra, sob o silêncio cúmplice ou apoio tácito de Lula, Cristina Kirschner, Bachelet e Evo Morales. Álvaro Uribe, acusado de gerar insegurança é, justamente, o que não significa ameaça alguma à paz da região. Na verdade, todo o movimento feito pelos membros do Foro de São Paulo é em razão de que está definitivamente frustrada a estratégia dos socialistas da região, de fomentarem o "canje humanitário" de reféns como forma de mostrar que as FARC não são apenas uma narcoguerrilha assassina, mas sim uma força beligerante. Ao mesmo tempo, negociando diretamente com a narcoguerrilha, tentam isolar Uribe, qualificando-o como um presidente radical e desalmado, comandado pelos Estados Unidos, que não possui nenhum sendo humanitário.
Quem está radicalizando o discurso?
Enquanto Álvaro Uribe resguardou-se de qualquer manifestação imediata, colocando o seu Governo a falar sobre o episódio, qual o posicionamento de Hugo Chávez e Rafael Correa? Tomar a frente do episódio, desferir ofensas inomináveis ao colega presidente da Colômbia, fechar fronteiras, chamar embaixadores, expulsar diplomatas, romper relações, ignorando por completo a discussão nos foros apropriados. Criam, assim, a radicalização que permite com que possam usar o discurso de cunho patriótico, com o objetivo de obter aprovação interna que, depois, será utilizada para obter as mudanças necessárias rumo à ditadura socialista. Seguem, também, à risca, o que foi determinado pelo Foro de São Paulo em relação à Colômbia, na sua última edição, realizada em janeiro de 2007. Leia aqui.
Quem respeita as instituições?
Enquanto Álvaro Uribe levou o problema, imediatamente, para os foros internacionais da ONU, OEA, Tribunal Penal de Haia, o que faz Rafael Correa? Organiza um périplo em direção aos países aliados, em busca de apoio para que existam retaliações de países aliados, formando-se um bloco contra a Colômbia. Isto no exato momento em que o Conselho Permanente da OEA está deliberando em reunião extraordinária, com a presença de todos os países-membros, para debater o tema. Ontem, Rafael Correa chegou ao Brasil chamando Álvaro Uribe de "canalha".
O que sustenta as acusações de ambas as partes?
Toda as acusações referidas por Álvaro Uribe contra o Equador e a Bolívia foram retiradas dos computadores pessoais de Raul Reyes que, por sinal, estão à disposição da OEA, desde o dia de ontem, para perícia e comprovação da sua fidedignidade. Ali estão provas cabais e contundentes do uso político que está sendo feito dos reféns, tanto por parte das FARC, quanto por parte dos governos equatoriano e venezuelano. Ingrid Betancourt é tratada como um troféu que deve ser valorizado ao máximo. De onde vêm as acusações de Rafael Correa? De um único fato: de que lhe foi relatado um tipo de ação militar e que, na verdade, o que ocorreu foi uma invasão do seu território e um ataque a um acampamento onde os guerrilheiros dormiam. A partir daí, as suas ofensas contra Uribe são pessoais, seguindo a mesma linha adotada há meses por Hugo Chávez. É que, contra Correa, existem provas contundentes. Por que os guerrilheiros dormiam tranqüilamente, em vez de manterem vigilância rigorosa, como é de praxe? Quem poderia garantir que o acampamento não teria sido desmanchado, horas antes, tornando o bombardeio um fracasso? Simples. Porque o acampamento contava com a segurança oficial do Governo do Equador e porque o acampamento era permanente, uma base militar das FARC construída com o consentimento e aprovação do Equador, seguindo os passos da Venezuela.
Quem fere mais a soberania?
Não há dúvidas de que a Colômbia, ao fazer o ataque ao acampamento das FARC, dois quilômetros adentro da fronteira equatoriana, violou o território do vizinho. Para isso, pediu desculpas públicas por duas oportunidades. Houve, sim, uma violação técnica de soberania, que seria perfeitamente compreensível se existisse uma afinidade ideológica entre os dois países e não uma estratégia de bloco, identificado com o Foro de São Paulo, que busca exatamente mostrar uma Colômbia belicista, agressiva e desumana. Quando tal fato ocorreu com o Brasil, anos atrás, todo foi resolvido como um episódio isolado. Neste caso, o Equador recebeu a oportunidade perfeita para exercer o discurso anti-Colômbia e assim está procedendo. No entanto, não fere a soberania da Colômbia o fato de que o Equador estava hospedando a dois quilômetros da fronteira a maior liderança das FARC, que ali mantinha um acampamento permanente, seguro e inviolável, ao ponto de que os guerrilheiros estavam sem farda e utilizando telefones satelitais rastreáveis, protegidos por um salvo-conduto equatoriano? Não fere a soberania colombiana o fato de que Rafael Correa, conforme correspondência encontrada no computador de Raul Reyes, estava negociando, sem o conhecimento de Álvaro Uribe, a libertação de reféns em solo equatoriano, dentro de um plano estratégico que demandava, inclusive, reuniões pessoais do presidente com a liderança das FARC? O que fere mais a soberania de um país? Um bombardeio cirúrgico contra um acampamento guerrilheiro ou negociar com bandidos em nome dele, para colocar-lhe a faca no peito frente à opinião pública internacional?
Quais as projeções do dia de hoje?
A reunião do Conselho Permanente da OEA foi suspensa, ainda sem deliberação. Deve continuar no dia de hoje, mas existe um dado muito importante: o Equador já aceitou que uma resolução não diga que "a Colômbia violou a soberania do Equador", enquanto a Colômbia aceita que se diga que "o território dos países é inviolável". Existe uma nítida divisão dentro da OEA. De um lado, os membros do Foro de São Paulo, entre eles o Brasil, Argentina, Bolivia, Nicaragua, Venezuela e República Dominicana investiram contra a Colômbia, exclusivamente. Enquanto isso, Panamá, Uruguai, Perú, El Salvador e Guatemala, mesmo rechaçando a violação da soberania equatoriana, reconheceram que deve haver uma investigação sobre o suposto apoio do Equador e da Venezuela às FARC. Pela primeira vez na diplomacia, o Brasil toma partido, abandonando a sua tradicional neutralidade.
Qual a posição de Equador e de Colômbia na OEA?
O Equador exige três pontos: reunião extraordinária de dos chanceleres do continente, designar uma comissão que investigue os fatos no local do ataque e uma resolução de condenação à Colômbia. Os colombianos aceitam a reunião e a comissão, rejeitam a resolução, mas exigem que Equador e Venezuela sejam investigados por abrigar e proteger terroristas, o que é contra todas as determinações dos organismos internacionais, e o faz baseado em provas extraídas dos computadores de Raul Reyes. Um país se baseia nos princípios da soberania, outro nas resoluções que permitem atuar em fronteiras para enfrentar grupos terroristas.
Escudos humanos viram escudos diplomáticos
O que estamos assistindo, com o apoio de Venezuela e Equador, com o beneplácito e incentivo dos membros do Foro de São Paulo e de alguns países europeus, como a França, é uma sofisticação do uso criminoso dos reféns seqüestrados pela narcoguerrilha das FARC. Primeiro utilizados para cobrar resgate e fazer caixa, evoluindo para o uso como escudos humanos, agora os reféns passam a ser utilizados como o escudo diplomático usado pelos inimigos da democracia colombiana. Basta que seja dito por um protoditador como Chávez ou pelo seu filhote Rafael Correa, que existe uma negociação em andamento, para que os dirigentes das FARC passem a ser intocáveis, possam circular livremente, inclusive sejam recebidos em palácios de governo. É como queriam que tivesse ocorrido com o bandido número 2 da narcoguerrilha, Raul Reyes. É de um cinismo sem precedentes, mas é o que move toda esta reação de Rafael Correa e Hugo Chávez.
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