por Percival Puggina em 17 de março de 2008
Resumo: Há uma culpa majoritária da sociedade em relação às escolhas políticas que faz, e em sua negligência quanto ao modelo eleitoral que adotamos.
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Penso que é mais ou menos esse o tipo de raciocínio que muitos fazem ao examinar o setor público sul-rio-grandense. É como se fossem observadores de uma realidade autônoma e como se o ato de compor uma tabelinha de duas colunas, agrupando na primeira aquilo que está mal e na segunda os objetivos em vista, fosse a receita para solucionar os problemas. Em seguida, ainda pior do que o sujeito da anedota acima, concluem que o Estado precisa dever menos, proporcionar a todos um padrão de vida superior e construir um bom futuro sem upgrade da receita, ou seja, ganhando a mesma coisa.
Assim como a fotografia que cada cidadão faz de sua realidade presente corresponde a um corte na linha de tempo, assim também a situação do Estado expressa uma trajetória. Ela foi construída com investimentos (bons e maus); com serviços públicos que geraram os níveis educacionais, culturais e de saúde da população; com as concessões feitas aos corporativismos de todos os perfis; com as obras de infra-estrutura que realizou; com os quadros de pessoal; com seus miseráveis ou abusivos vencimentos, aposentadorias e pensões; com os atrativos e benefícios concedidos à atividade produtiva de empresas e setores econômicos; com transferências de recursos a promoções culturais, instituições de assistência social e assim por diante. Isso tudo e muito mais gerou os ativos e passivos, materiais e imateriais, da sociedade sul-rio-grandense. Dado da realidade, leite bebido ou derramado. Choros e risos tão livres quanto inúteis.
Em artigos anteriores rejeitei a tese esquerdista de que somos todos culpados por nossas mazelas sociais. Aqui sustento o contrário: há uma culpa majoritária da sociedade em relação às escolhas políticas que faz, e em sua negligência quanto ao modelo eleitoral que adotamos.
Suponhamos, para argumentar, que os responsáveis pelo quadro atual sejam nossos homens públicos em virtude do mau uso dos recursos do Estado e com a proteção dada aos interesses corporativos que repartem os nacos do erário. Ora, se a culpa é deles, ao longo de sucessivas décadas, cabe indagar: quem os escolheu, dentro do conjunto de alternativas presentes em cada pleito? Mais grave ainda: estarei errado se afirmar que muitos são eleitos precisamente em virtude dos interesses corporativos que representam? Entendam-me. Não concordo com generalizações. Apresento-as como contraponto aos que se crêem, cheios de razões e exigências, livres de quaisquer responsabilidades quando, de fato, teriam tudo a ver com elas. Parafraseando o que Saint-Hilaire disse das saúvas: ou o Rio Grande acaba com os corporativismos ou os corporativismos acabam com o Rio Grande.
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