domingo, 9 de março de 2008

Comissão de Anistia dá indenização para companheira de Maringhella, mas protela o caso do "Cabo" Anselmo

Sábado, Março 08, 2008

Comissão de Anistia dá indenização para companheira de Maringhella, mas protela o caso do "Cabo" Anselmo

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Por Jorge Serrão

Os 22 membros da Comissão de Anistia do Ministério da Justiça vêm cometendo, há quase quatro anos, o “justiçamento burocrático” do personagem que é considerado o maior “traidor” da esquerda, nos tempos da dita-dura. O lendário Cabo Anselmo - na verdade um marinheiro que entrou de gaiato no navio das ideologias - tem seu pedido de indenização postergado pela mesma comissão que ontem anistiou ex-guerrilheiras e já promoveu a General de Divisão o “capitão” Carlos Lamarca (desertor voluntário do Exército brasileiro que é considerado um dos heróis da esquerda na tentativa de implantar o socialismo no Brasil, no começo da década de 70).

A anistia a Anselmo está amparada no art. 8º do Ato das Disposições Transitórias da Constituição Federal de 1988, que é regulamentada pela Lei nº 10.559, de 13 de novembro de 2002. O “Cabo” Anselmo reclama que o presidente Lula conseguiu indenização pela Comissão de Anistia em setembro de 2004, depois de ter requerido o benefício em maio de 2003. José Anselmo dos Santos, de 65 anos, entrou com seu pedido em primeiro de abril de 2004. Mas, até hoje, não viu a cor da indenização.

O processo de Anselmo (n.º 2004.01.42025) se arrasta pela comissão, sem apreciação. Em 5 de dezembro de 2006, o advogado Luciano Blandy entrou com uma nova petição no Ministério da Justiça para que o caso seja apreciado. A petição chegou a desaparecer, misteriosamente, na burocracia da comissão. O caso Anselmo é empurrado burocraticamente com a barriga. José Anselmo desconfia que a comissão de anistia age com rigor seletivo e ideológico contra ele.

Ontem, a comissão reconheceu a condição de anistiada política de Clara Charf, que foi companheira de Carlos Marighella - fundador da Aliança Libertadora Nacional (ALN). Clara terá direito a uma prestação mensal continuada no valor de R$ 2,5 mil que começa a ser paga em 30 dias. Comunista, após a morte de Marighella, em 1969, exilou-se em Cuba. Hoje, trabalha no Conselho Nacional dos Direito da Mulher e articula a rede Mulheres pela Paz ao Redor do Mundo. A concessão de sua anistia foi uma homenagem simbólica ao Dia Internacional da Mulher – celebrado hoje.

A Comissão de Anistia também aprovou ainda pagamento de indenização a Nancy Mangabeira Unger. Ela é irmã do ministro das Ações de Longo Prazo, Mangabeira Unger. Nancy irá receber prestação única de R$ 100 mil. Ela teve o polegar da mão direita decepado por um tiro de fuzil. . Nancy foi uma das presas políticas trocadas pelo embaixador suíço Enrico Bucher, seqüestrado por organizações políticas de esquerda, em 1970. Durante a sessão, ela se emocionou e elogiou a decisão do presidente da comissão, Paulo Abrão, em criar o memorial da anistia.

A comissão aprovou ainda anistia para Ana Wilma Moraes, que foi presa e torturada em 1969 e ficou 92 dias presa; Beatriz Arruda, que exilou-se no Chile e só voltou com a Anistia; Estrella Bursztyn, estudante e militante, torturada entre 1970 e 1973; Halue Yamaguti, costureira e militante do PCB, torturada pela repressão; e Maria Socorro de Magalhães, presa em Pernambuco, em 1972, submetida a sessões de tortura por horas.

Um morto perante a História

José Anselmo dos Santos é, provavelmente, o único remanescente da luta armada que ainda permanece na clandestinidade, sem família, sem trabalho fixo, obrigado constantemente a mudar de endereço e sem condições de desfrutar de uma velhice normal e tranqüila.

Anselmo se vê obrigado a viver na clandestinidade há mais de 42 anos.

Ele é jurado de morte pela esquerda, porque, na década de 70 foi obrigado a optar entre “morrer” ou promover uma espécie “delação premiada” dos militantes de organizações guerrilheiras de esquerda (em troca da sua própria nada mole vida).

O homem que não existe

Nascido em 13 de fevereiro de 1942, na cidade sergipana de Itaporanga D’ajuda, José Anselmo dos Santos é “um homem que não existe”.

Tecnicamente, nem dá para defini-lo como “cidadão”.

Não tem identidade, CPF, direito ao INSS e muito menos acesso aos programas assistenciais do governo.

Para provar que é ele mesmo, suas impressões digitais foram colhidas no 8º Distrito Naval, em São Paulo, mas a Marinha guarda tudo em segredo.

Falso mito da esquerda

O Marinheiro de primeira classe, que tem a patente de cabo só na lenda histórica, Anselmo concedeu uma entrevista exclusiva ao Alerta Total, em 4 de abril de 2007, que foi notícia do Jornal da Record, em 5 de julho do ano passado.

Anselmo desfez alguns mitos sobre si próprio, garantindo que não é assassino.

Negou os crimes que a esquerda tradicionalmente lhe atribui.

Principalmente o famoso massacre da Granja São Bento ou Timbi, em janeiro de 1973.

O marinheiro Anselmo jurou que “nunca esteve presente em qualquer cenário de violência e morte”.

Assegurou que os documentos da repressão (os arquivos que não são abertos) podem ter este detalhe.

De gaiato no navio da História

Anselmo esclareceu que não era um agente contratado e remunerado do sistema de repressão à guerrilha urbana comunista.

Contou que sobrevivia com dinheiro repassado pela esquerda.

Revelou até que, em algumas ocasiões, foi a polícia quem compareceu aos pontos de encontro para receber o dinheiro vindo da VPR - a Vanguarda Popular Revolucionária, grupo de esquerda do qual fazia parte e é a acusado de trair.

Vida perdida pós-64

José Anselmo dos Santos foi o cassado número 100 pelo Ato Institucional número 1, de 9 de abril de 1964.

Anselmo foi preso logo depois do golpe de 64, mas conseguiu escapar da cadeia.

Exilou-se, primeiro no Uruguai, com a ajuda de Leonel Brizola, e depois em Cuba, retornou clandestinamente ao Brasil em 1970, mas acabou preso menos de um ano depois e “mudou de lado”.

Anselmo garantiu que não teve opção: era colaborar com a equipe do delegado Sérgio Paranhos Fleury, da Operação Bandeirantes, ou morrer.

O que Anselmo não sabia é que sua sentença de morte histórica já estava assinada de qualquer jeito.

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