quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Reinaldo Azevedo para me fazer companhia nas arquibancadas vazias...

Quinta-feira, 18 de Dezembro de 2008

Blog do Clausewitz

Penso que estou a muitos quilômetros da competência redacional de Reinaldo Azevedo... sempre leio seus artigos e me sinto feliz em termos alguém com esse nível de consciência no meio do pântano moral em que vivemos... disse hoje há pouco que estava me sentindo só e vendo as arquibancadas vazias, mas ainda bem que li o presente texto e o ponteiro voltou a acusar vida...

Não me sinto refém do que os outros escrevem, nem do que os outros pensam... me sinto refém da existência de motivos para continuar lutando... e penso não estar só, quando vejo a indignação de um homem inteligente e bem sucedido como é Reinaldo... intransigente lutador contra os despautérios e contra a realidade de ver nosso país ombreando ações com líderes moralmente fracassados...

Tiranos, que em muito envergonham nossas vidas tê-los doravante na condição de sócios... propostas de governo e estado totalmente controversas e inversas daquilo que a imensa maioria do nosso povo pretende para seus futuros... penso que nossa imersão nesse caldeirão repleto de sangue e óleo azedo só nos deprecia como cultura e como população que aspira à liberdade... mas penso que há vida nesse final trágico de jogo, depois que li o presente artigo de Reinaldo Azevedo... e as arquibancadas estão vazias, mas há torcedores em campo...


AMORIM E LULA, BABÁS DE DITADORES

"Em outros tempos, o ingresso de Cuba no tal Grupo do Rio, sob o patrocínio do Brasil, provocaria um certo alarido na imprensa brasileira. O petralha indagaria: “Nos tempos da ditadura?” Não. Diria que, há coisa de cinco ou seis anos, tal atitude não passaria sem uma crítica severa feita pelos radares, vá lá, democrático-liberais da nossa imprensa. Agora, se houver um muxoxo, será muito. O tal Grupo do Rio reúne países da América Latina e Caribe. Uma das cláusulas de inclusão — e, pois, de exclusão — era a “democracia”. Sim, exigia-se que o país cultivasse um regime democrático. Cuba é uma tirania — notem: nem escrevo “ditadura”, mas tirania mesmo. E é agora membro permanente da tal cúpula.

A reunião se realizou na Costa do Sauípe. A estrela da festa foi o ditador cubano Raúl Castro, que aproveitou para deitar falação contra o embargo americano, afirmando que o país sofre há décadas com isso etc e tal. Conversa. Até quando existia a URSS, a tirania tinha tudo aquilo de que precisava para ser, em suma, uma tirania. Na prática, o embargo hoje já não tem grande importância. O que mantém na miséria a população da ilha é a ditadura.

Celso Amorim, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, não cabe em si de contentamento. Está feliz porque o Brasil conseguiu fazer a reunião sem observadores externos — leia-se assim: ninguém dos Estados Unidos. De fato, trata-se de uma grande honra: a democracia americana não vem nem para olhar, mas se joga no lixo um princípio do grupo e se acolhe uma ditadura. Dela, nada é exigido. Ao contrário: Raúl Castro foi tratado como um grande herói. Entre os presentes, notórios aproveitadores — gente que vem desafiando e humilhando o Brasil nas relações bilaterais: com destaque, Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador); na segunda linha, Fernando Lugo (Paraguai). Todos eles regidos pelo maestro Hugo Chávez (Venezuela).

Amorim foi mais discreto no ataque à OEA, mas Castro, que não está muito acostumado a esses ambientes, vá lá, um pouquinho mais plurais, entregou o jogo: a idéia é fazer o tal Grupo do Rio substituir a OEA — porque, afinal de contas, a Organização dos Estados Americanos conta com a presença dos Estados Unidos. A cúpula da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) aproveitou a oportunidade para uma rápida reunião, formalizando a criação do Conselho Sul-Americano de Defesa — outra tentativa de sabotar a OEA de lado. Não custa lembrar que, no conflito havido entre o filoterrorista Equador e a democrática Colômbia, não fosse a Organização, o país que estava sendo realmente agredido — aquele presidido por Álvaro Uribe — teria ficado sozinho. O Brasil — sim, o Brasil — liderou a tentativa de censura à Colômbia. Por quê? Ora, Brasília não considera as Farc terroristas. Logo, não considerava grave que Rafael Correa abrigasse os bandidos em seu território. Como sei disso? Procurem algum documento da época ou declaração censurando o Equador. Nada! Amorim se mobilizou contra a Colômbia — sem contar o Marco Aurélio Top Top Garcia, que, por estes dias, decidiu submergir um pouco.

Os que, no Brasil, pedem com tanta energia a revisão da Lei de Anistia para punir, como dizem, os torturadores não se importam que Cuba seja paparicada pelo Brasil. A ilha tem reservadas suas masmorras para intelectuais, artistas e oposicionistas em geral. A dupla Castro, por 100 mil habitantes, criou e lidera um regime assassino. Já demonstrei aqui que Fidel é 2.700 vezes mais homicida do que o regime militar brasileiro. Mas o que estou dizendo, não é? Os 95 mil mortos da tirania cubana certamente eram reacionários nojentos, direitistas safados, contra-revolucionários asquerosos, gente que merecia morrer mesmo por não entender os altos desígnios daqueles bravos guerreiros do povo.

Para Lula, este é um momento de ouro. Amorim comentou nestes termos o ingresso de Cuba no grupo: “A posição do Brasil sobre esse tema sempre foi de manter o diálogo aberto. Eu acho que não foi feito com a intenção de pressionar ninguém, isso é uma decisão da América Latina e do Caribe e dos países que integram o Grupo do Rio. Agora, se servir para que o futuro presidente dos Estados Unidos veja para que lado estão soprando os ventos, eu acho válido”. Entenderam? Amorim está mandando um recado para Barack Obama: “Os ventos estão mudando”. Ora, se os ventos mudam porque Cuba passa a integrar um clube, eles mudam necessariamente para pior. Trazem o cheio da morte. Em seu discurso, Raúl Castro teve a coragem de falar dos “muitos que tombaram” para Cuba ser o que é. Nem diga. A sua ditadura matou, reitero, 95 mil pessoas.

Ah, sim: Obama deve ter tremido nas bases ao saber da declaração de Amorim e deve ter pensado: "Preciso ouvir o que tem a dizer este sábio"."

Fonte: Reinaldo Azevedo / Veja

Clausewitz

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