quinta-feira, 29 de novembro de 2007

A lógica da proliferação nuclear

por Jeffrey Nyquist em 27 de novembro de 2007

Resumo: O homem de negócios americano não apoiará uma politica externa agressiva. O Regime de Shopping Center acredita na paz e na prosperidade econômica.

© 2007 MidiaSemMascara.org


Podemos olhar para trás e ver o passado. Mas quem pode ver o futuro? O passado está firmemente estabelecido, retido na memória e acessível à reflexão. O futuro, no qual mergulhamos dia após dia, é um ponto de interrogação. Desejamos certezas sobre o futuro. Buscamos respostas que acalmem nossos temores e renovem nossas esperanças. Para esse fim e ao longo da história, homens e mulheres buscaram o conselho de astrólogos, videntes e médiuns. Eles consultaram oráculos. Pelo lado mais científico, os quantificadores têm medido acréscimos e decréscimos na população, riqueza e opinião, dando algumas vezes a impressão de que a mudança avança contínua e firmemente na mesma direção.

É bem conhecido o fato de que a população mundial vem crescendo numa taxa exponencial há séculos. Se hoje temos seis bilhões de pessoas, teremos doze bilhões em uma ou duas décadas e vinte e quatro bilhões uma década depois disso. Alguns observadores, ressaltando a aproximação do peak oil [*] (pico do petróleo), duvidam que jamais cheguemos a tais incrementos populacionais. O estudioso de armas de destruição em massa, com um olho na II Guerra Mundial e no Holocausto, não se surpreenderia diante de uma grande e súbita diminuição da população mundial. De fato, um súbito giro na direção da dizimação e do empobrecimento global é muito mais provável do que doze bilhões de pessoas vivendo em paz e abundância. Uma visão como essa, é claro, vai contra uma já antiga crença no progresso. Os crentes no progresso imaginam que cada geração será mais inteligente, mais rica, mais pacífica, mais democrática e mais livre do que aquelas imediatamente anteriores a ela. Eles se esquecem de que o progresso nos trouxe a bomba atômica e de que a bomba inevitavelmente cairá nas mãos de loucos.

Sem dúvida receberei cartas de reclamação de leitores que insistem que o presidente George W. Bush é um louco. Eles perguntarão por que eu não aproveitei a oportunidade para ressaltar esse ponto. Bem, é suficiente dizer que, com freqüência, os loucos são atraídos para a política e às armas nucleares. Ideologias repletas de inveja tomam a dianteira na loucura política, e um complexo de inferioridade nacional pode fazer com que as lideranças de um país contemplem seriamente uma guerra nuclear, coisa que de outra maneira e em outras circunstâncias seria impensável. A Religião do Progresso não monta nenhuma barreira contra tais elucubrações. Portanto, o caminho para uma súbita mudança nas tendências populacionais globais há muito já foi pavimentado. A aproximação dessa mudança deu muitos sinais; e, década após década, os americanos ignoraram esses sinais.

A Rússia continua a realizar exercícios de guerra nuclear tendo como alvo os EUA. A China faz preparativos de guerra abertamente. O Irã busca adquirir armas nucleares. Os líderes iranianos falam abertamente em varrer Israel da existência. Será que alguém pode ver o que tudo isso significa? Significa que uma guerra demolidora está no horizonte. Mas nós nos recusamos a encarar o perigo seriamente. Onde está o seu abrigo nuclear? Onde está a sua máscara contra gases? Quanta comida você estocou? Os Estados Unidos não estão prontos, mesmo que você esteja. O Regime de Shopping Center e seu Culto ao Otimismo Econômico Obrigatório não podem ser contestados. Os americanos sabem, é claro, que haverá recessões e problemas econômicos. Não obstante, esperamos que a grande máquina econômica prospere e que a tendência geral seja de crescimento e não de declínio. Tais são as máximas do Otimismo Econômico Obrigatório. Tal é a nossa fé no Regime de Shopping Center.

Há uns dias atrás, o presidente Bush fez uma declaração que esfriou um pouco esse entusiasmo. Ele disse que, se quiséssemos evitar uma III Guerra Mundial, não deveríamos permitir que o atual governo do Irã obtivesse armas nucleares. Ele falou a partir da convicção de que fundamentalistas islâmicos com armas nucleares não podem ser postos em xeque por simples ameaças de retaliação. Uma fé que santifica homens-bomba pode muito bem santificar uma troca de ataques nucleares suicida. Mas o que ninguém quer ouvir e ninguém dirá é que a situação é muito pior do que o presidente Bush imagina. Mais de meio século atrás, os russos obtiveram armas nucleares. Em 1964, a China tornou-se uma potência nuclear. Mesmo que o martírio nuclear de uma nação islâmica seja algo a se temer, o uso racional de armas nucleares pela Rússia e China é ainda mais provável. Se uma bomba nuclear fosse detonada em Nova York não seríamos capazes de provar que Moscou ou Pequim conspiraram para o ataque; especialmente se o Irã e a Coréia do Norte possuírem armas nucleares.

Os Estados Unidos podem ser atacados anonimamente. Os inimigos dos EUA sabem que isso é verdade; por isso querem que a tecnologia de armas nucleares se espalhe pelo mundo. Quando Nova York e Washington forem destruídas, ninguém saberá quem ordenou o ataque. A Destruição Mútua Assegurada (sigla MAD, em inglês) será uma coisa do passado. Os generais em Moscou e Pequim estão montando uma estratégia com base no conhecimento de que os EUA estão indefesos, pois a estratégia americana foi baseada numa doutrina de retaliação maciça.

O desamparo dos Estados Unidos é cada vez mais óbvio. No longo prazo, os americanos não podem prevenir a disseminação da tecnologia nuclear. O presidente Bush aponta o Irã e alerta o mundo. Mas percebam quão impotente o presidente Bush se tornou nos meses recentes. Percebam a paralisia em Washington. O homem de negócios americano não apoiará a política de Bush. O Regime de Shopping Center acredita na paz e na prosperidade econômica. É um regime que não se preparará para a guerra e para o declínio econômico (peak oil); não aprovará a construção de abrigos contra bombas ou uma segurança mais firme nas fronteiras.

Estamos emperrados.

© 2007 Jeffrey R. Nyquist

[*] NT: Peak oil ("pico petrolífero"): termo que descreve a situação na qual a extração petrolífera terá atingido o seu ponto máximo -- o pico -- e a partir daí cairá inexoravelmente ao longo dos próximos anos, com todas as implicações que esse fato tenha na economia e na sociedade. Ver também: http://www.midiasemmascara.com.br/artigo.php?sid=4558. O MSM indica ainda mais um link com texto em português, mas sem corroborar o que lá está afirmado. O link é indicado a título meramente informativo quanto ao conceito e terminologia: http://www.biodieselbr.com/destaques/2005/crise-petroleo-peak-oil/1.htm

Publicado por Financialsense.com

Tradução: MSM

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