terça-feira, 30 de março de 2010

Você está preparado para o caos?

Mídia Sem Máscara

E não pense que o Brasil escapa dessa. Essa não vai ser uma mera "marolinha" não.

"You are about to enter a world of pain." A frase é do filme "The Big Lebowski", dos irmãos Coen, que assisti apenas recentemente. (É bem bacana, e é um filme que só poderia ter sido rodado em Los Angeles. Esses personagens excêntricos não caberiam em nenhum outro lugar.)

Mas voltando à frase: acho que resume como poucas o sentimento que percorre grande parte do mundo civilizado hoje em dia. Ou, parafraseando Marx. Há um fantasma rondando o mundo. O fantasma do colapso global. Não, não uma mera crise: um colapso total.

Ei, não gosto de ser apocalíptico, mas é o que está no zeigeist. A passagem do Obamacare nada mais é do que o último baile da ilha fiscal. Après Obama, le deluge.

Em recente post, Richard Fernandez observou que vem uma tempestade aí. Coisa séria. Desvalorização da moeda, guerra e tudo mais. A crise não é apenas americana, é mundial. Se os EUA estão gastando o dinheiro que já não têm, a Europa (leia-se Alemanha e França) está para emprestar o dinheiro que tampouco tem à Grécia, para que esta não entre em bancarrota e puxe o euro junto. A China? Não se iludam: também enfrenta uma housing bubble particular. Os países árabes? Vejam o caso da crise em Dubai. Isso sem falar nos vários conflitos que ameaçam pipocar aqui e ali, dos quais os atentados em Moscou são um mero lembrete. Ninguém se salva tão facilmente dessa.

Mas é possível que quem fique pior sejam os EUA, simplesmente devido ao velho ditado: quanto maior a altura, maior a queda.

Em um artigo extremamente interessante, um russo fez uma comparação entre o colapso soviético pós-comunismo e um hipotético colapso americano. Segundo ele, os russos estavam bem melhor preparados do que os americanos, e por isso sofreram menos do que os americanos irão sofrer.

O raciocínio é simples. Os soviéticos estavam acostumados à fila do pão, à falta de combustível, ao racionamento, ao cortes de luz. "In Soviet Russia, you don't go to party, the Party goes to you."

Mas a América? Os EUA vivem um grande sonho, e ainda não acordaram. Sempre digo que o grande problema dos EUA foi a excessiva prosperidade. Só esta pode explicar tantos e tão absurdos gastos, a ilusão de querer dar "saúde grátis para todos" em um momento que não há dinheiro nem empregos.

Imagine então quando o colapso vier. Não digo uma mera crise passageira, digo uma crise geral, total, como ocorreu na Rússia após o fim do comunismo ou em Berlim nos anos 20. Quebra das instituições. Moeda desvalorizada. Hiperinflação. Falta de comida. Falta de água. Falta de eletricidade. Falta de Internet. Imagine uma multidão de gordos, que até ontem estavam brincando com seus iphones, andando pela cidade como zumbis, em busca não de uma conexão wifi, mas de água e comida. Vai ser o caos.

Multiculturalismo? As diversas culturas juntas enfrentando unidas as ameaças? Não creio. Gangues de negros e mexicanos lutarão entre si pelo direito de assaltar brancos e asiáticos. Não espere solidariedade entre árabes e armênios, ou entre indianos e judeus. Vai ser cada um por si.

Alguns poucos estarão bem preparados. É bem verdade que os EUA também são o país dos survivalists, e que as pessoas aqui desde pequenas vão se acostumando à idéia de um apocalipse vindouro. Quase todo blockbuster americano que se preze tem cenas de destruição, cataclisma, morte e horror. E, depois, 9/11, Katrina e os riots de 92 ainda estão presentes na memória coletiva. Mas a sensação é de que algo ainda pior virá.

Essa sensação só aumentou no governo Obama. Que a venda de armas e munições bateu todos os recordes não é segredo. Alguns vão além e estão construindo bunkers, com mantimentos de água e comida. Eu mesmo estou pensando em estocar água e alimentos, o que sempre é útil, mesmo em caso de terremotos. Nunca se sabe o que pode acontecer.

Os analistas apontam uma reprise da crise de 29 em escala global. Possivelmente seguida de guerra também. Ou o contrário, guerra seguida de crise. Basta o Irã atacar Israel, ou Israel atacar o Irã, ou a Coréia do Norte atacar a Coréia do Sul, ou a China atacar Taiwan, ou algum novo terrorista atacar os EUA com uma dirty bomb. Não só explode a guerra, como o preço do combustível sobe às alturas, o comércio mundial é interrompido, e inicia a escassez.

E não pense que o Brasil escapa dessa. Essa não vai ser uma mera "marolinha" não.

A questão não é mais se a crise global vai acontecer. A questão é apenas quando.

Você está preparado?

http://blogdomrx.blogspot.com/

A Brigada de "Operações Burocráticas"

Mídia Sem Máscara

Valmir Fonseca Azevedo Pereira | 30 Março 2010
Artigos - Governo do PT

De acordo com o tenebroso gerente da defesa, mais vale um "aspone na mão do que um bando de soldados rastejando no campo".

A recente investida do Ministro da Defesa em ampliar sua equipe de "estrategos" vai ao galope de encontro do "Estado Grande e Boçal" preconizado pelo petismo e abençoado pela candidata Dilma.

O Ministério da Defesa conta hoje com 931 cargos de DAS e prevê a criação de 647 novos cargos de confiança na estrutura do próprio Ministério. São os chamados Direção e Assessoramento Superior (DAS), vagas de livre escolha do Ministro, sem concurso.

Na prática, constatamos que o Ministro e o Ministério incham, enquanto as Forças Singulares mínguam... conforme o planejado.

De acordo com o renomado jornalista Alexandre Garcia:

"A melhor maneira de derrotar um exército, sem precisar dar um tiro, é cortar-lhe os suprimentos."

"O Exército Brasileiro já recebeu 80 mil recrutas por ano. Hoje recebe metade disso. Por ano, apresentam-se 1.300.000 jovens. Já imaginaram se houvesse recursos para incorporar todos? Um exército de tremendo poder de dissuasão. E, mais do que isso, 1.300.000 jovens das classes mais pobres fora das ruas, das drogas, com três refeições por dia, preparo físico, assistência médica e dentária, aprendendo civismo, disciplina, obediência às leis e à autoridade e aprendendo uma profissão? Seria o maior programa social do país".

Mas, enquanto isso, o dia-a-dia nas casernas é o de economia de guerra, menos tropas, menos recursos, meio-expediente, menos manobras, menos profissionalismo, menos nacionalismo, menos vergonha, no entanto, muito mais Ministério da Defesa, com muito mais "assessores".

Forças menos aptas, com menor capacidade de atuação, com autoridades militares desprestigiadas, e um vaidoso à frente, fardado, grandiloqüente, cercado por janízaros e com poderes de vida e morte sobre a carreira dos profissionais. Um todo poderoso, temível, terrível,... conforme planejado na END.

Esta é a triste história das Instituições Militares Permanentes, soterradas na falta de respeito ao seu glorioso passado, e que na atualidade são o trampolim para vaidades e cabides de emprego.

Aos poucos, a pequena parcela da população que era inoculada com os valores e as virtudes militares foi escasseando e, assim, perde o Estamento Militar um tímido e cada vez mais restrito testemunho de sua excelência. A caserna, independente do grau hierárquico de seus integrantes, despertava naqueles jovens padrões de excelência de reconhecida valia para a sua formação e vivência.

Contudo, não satisfeitos com a subserviência das autoridades militares, empolgados com a pusilanimidade percebida, seguem em frente, até quando, nem o "magnânimo molusco" sabe, pois o céu é o limite.

O segmento militar pode não ter recursos mínimos para uma sobrevivência decente, mas, certamente, o Ministério os terá para pagar os vencimentos da sua "Brigada de Burocratas".

A medida é politicamente correta uma vez que muitos reclamavam que a sociedade civil estava desligada dos assuntos militares. De acordo com o tenebroso gerente da defesa, mais vale um "aspone na mão do que um bando de soldados rastejando no campo". Dito isso, virou as costas, e foi-se.

Valmir Fonseca Azevedo Pereira é general-de-brigada (reformado).

Alckmin e Afif

Mídia Sem Máscara

Nivaldo Cordeiro | 30 Março 2010
Media Watch - Folha de S. Paulo

Penso que o PT fará, como sempre, uma campanha suja e essas notas maledicentes publicadas hoje pela Folha não deverão parar por aí, apoiando a campanha petista.

O Datafolha divulgou pesquisas nesse final de semana revelando que a chapa tucana para o governo paulista, composta por Geraldo Alckmin e Guilherme Afif Domingos, seria vitoriosa em qualquer cenário, com grande vantagem. Há grande chance de ser eleita ainda no primeiro turno. Para quem acompanhou a dança pela definição dos nomes dentro do PSDB é um alívio observar esses dados. Por um momento pareceu que o governador José Serra deixaria de lado o pragmatismo para apostar em uma opção ideológica, bancando o nome de Aloysio Nunes Ferreira, seu escudeiro de longa data e radical esquerdista desde tempos idos.

A importância, seja da escolha desses nomes, seja da sua eventual vitória, não é pequena. José Serra assim colocou para o adversário petista uma fortaleza inexpugnável em São Paulo, maior colégio eleitoral do país. Ganhar em São Paulo é meio caminho andado para ganhar as eleições majoritárias no Brasil. Creio que as chances do candidato petista, Aloísio Mercadante, de surpreender, são quase nulas. Pacificado o território paulista Serra poderá se concentrar em obter votos pelo Brasil afora.

Mais uma vez ficou claro que o eleitorado, quando chamado a escolher, prefere nomes de centro e de direita, contra os revolucionários esquerdistas. É quase um milagre que essa chapa tenha uma composição assim. Não ao acaso a Folha de São Paulo, reduto de jornalistas esquerdistas militantes, dá um tom de lamento fúnebre aos números da pesquisa (ver, por exemplo, a coluna de hoje de Fernando Barros e Silva "A direita manda brasa").

É menos relevante se Serra ou Dilma venham a vencer do que assegurar que o governo paulista não caia nas mãos do PT. Eu tenho escrito que a única fragilidade estratégica da tomada do poder pelo PT tem sido a sua incompetência em vencer as eleições em São Paulo, especialmente a de governador do Estado. O peso paulista é imenso e tem sido o fator de contraponto à expansão avassaladora do petismo nos últimos anos.

A sagração da chapa Alckmin/Afif dará maior estabilidade às instituições democráticas, mesmo se Dilma Rousseff venha a ser a vencedora. Nenhuma decisão de maior vulto no Brasil poderá ser tomada ignorando o poder constituído no Estado de São Paulo. Como em Minas e no Rio de Janeiro o petismo também está enfraquecido; é possível que estejamos diante do limite máximo de expansão do poder revolucionário petista dentro da ordem democrática. Qualquer passo adicional terá que prescindir do instrumento das urnas. Em São Paulo o projeto eleitoral petista fracassou, para o bem geral do Brasil.

Do ponto de vista do enfrentamento das forças integrantes do Foro de São Paulo é mais relevante eleger o governador de São Paulo do que mesmo o presidente da República. Isso parece claro. Vamos ver agora como se dará a campanha eleitoral. Penso que o PT fará, como sempre, uma campanha suja e essas notas maledicentes publicadas hoje pela Folha não deverão parar por aí, apoiando a campanha petista. A velha cantilena de ressuscitar o fantasma do malufismo para desqualificar essa dupla de grandes políticos, Alckmin e Afif, não deverá tirar voto algum deles, mas certamente deixará claro que o jornal do Frias virou mesmo cabo eleitoral petista.

segunda-feira, 29 de março de 2010

O espírito do capitalismo

29 de março de 2010 | 0h 00

Denis Lerrer Rosenfield - O Estado de S.Paulo


O Brasil está sendo objeto de um cerceamento progressivo da liberdade de escolha, que atinge contextos tão díspares como a escolha propriamente individual até uma presença cada vez maior do Estado na esfera econômica. A Anvisa, por exemplo, crê-se autorizada - e edita uma resolução - proibindo a venda de remédios que não necessitam de receita na frente do balcão, local de livre opção. Proíbe também a venda de balas e chocolates. Os cidadãos são tomados como idiotas, incapazes de decidir por si próprios. Ao mesmo tempo, o governo edita um decreto, o PNDH-3 que, em nome da democracia, procura minar as bases mesmas da democracia representativa, visando a instituir no Brasil uma espécie de República sindical ou dos conselhos.

O perigo está no enfraquecimento do espírito do capitalismo, pois ele pode levar consigo as instituições democráticas. O capitalismo não reside apenas no seu "corpo", constituído pela economia de mercado, mas também na sua "alma", formada pela liberdade de escolha e por um conjunto de atitudes, hábitos e instituições que lhe dão sustentação. Pode perfeitamente ocorrer que um Estado autoritário capture o espírito do capitalismo tornando-o socialista, enquanto etapa preliminar de um controle maior dos cidadãos e da própria economia de mercado. Um corpo sem alma seria uma presa fácil.

Durante esse período de captura, empresários podem até se sentir muito confortáveis, desenvolvendo seus negócios e ganhando privilégios do Estado, que se apresenta como encarnando um novo modelo nacional de desenvolvimento. As palavras podem até mudar, porém o que conta é o processo de captura do espírito capitalista, que vê reduzido progressivamente o seu espectro de atuação. A captura do espírito capitalista pode, por parte dos seus beneficiários do setor econômico, ser uma espécie de servidão voluntária, traduzindo-se por lucros crescentes, que, no imediato, provocam a adesão desse setor aos que estejam conduzindo tal política governamental. O problema, no entanto, está no longo prazo, pois a servidão voluntária poderá traduzir-se por correias cada vez mais opressivas, inviabilizando que estas possam, depois, vir a ser rompidas. Os elos da corrente serão forçosamente de maior resistência, pois o que terá sido quebrado é a espinha dorsal do espírito capitalista.

Isso é particularmente claro no que diz respeito à liberdade de escolha. Pode-se dizer que a liberdade de escolha é o princípio mesmo do espírito capitalista. Liberdade de escolha que se opera sobre bens materiais e imateriais, bens tangíveis e intangíveis. A liberdade de escolha de bens materiais é aquela que se torna mais visível nas operações de uma economia de mercado, quando um cidadão compra ou vende algo. Temos o conjunto de transações que constituem a economia mesma de mercado, ancorada que está neste significado da liberdade de escolha.

A liberdade de escolha no sentido imaterial concerne à escolha de crenças, de um(a) parceiro(a) amoroso(a), de objetos de gosto em geral; concerne também a uma determinada religião ou, mais genericamente, ao que uma pessoa estima como o seu próprio bem. Articula-se um conjunto de atitudes, de comportamentos, todos eles baseados na liberdade de escolha, que encontra suas formas mais elaboradas na liberdade de pensamento, de imprensa, de eleição dos governantes, também denominada liberdade política. Há todo um conjunto de hábitos que, de tão naturais, escapam a nosso ângulo de visão, como se não pudessem ser mudados, como se seu espírito fosse, por assim dizer, eterno.

Acontece, porém, que esse segundo conjunto de atitudes, o da liberdade de escolha imaterial, começa a ser enfraquecido e progressivamente limitado, enquanto o livre-arbítrio na acepção material continua intacto ou aparentemente intocado. Os cidadãos podem estar contentes com seus benefícios materiais, suas rendas, seus salários, empregos e lucros, enquanto o cerceamento da liberdade se faz em sua acepção imaterial. O paradoxo que se esboça é o do enfraquecimento do espírito do capitalismo no momento mesmo em que a economia capitalista mantém o seu crescimento e pujança.

Na verdade, uma situação desse tipo termina, a longo prazo, reverberando sobre a própria liberdade material, porém quando isso acontece o jogo, por assim dizer, da liberdade já se encontra jogado, tendo o seu desfecho na eliminação da liberdade em suas duas acepções. Acontece que o processo é lento, gradativo, fazendo-se mesmo por meio do contentamento das pessoas. Por exemplo, o governo começa a estabelecer uma série de restrições relativas a escolhas individuais ou de propostas em relação às instituições e ao Estado de Direito. O conjunto dessas medidas se faz em nome do bem do indivíduo, em nome de sua saúde, como se coubesse ao Estado ditar aos cidadãos o que é melhor para eles. As propostas podem ser também ditas de aperfeiçoamento da democracia, quando esta, na verdade, está sendo posta em causa.

A questão, porém, consiste em que o Estado começa a invadir competências que não deveriam ser suas. Ele começa a monopolizar um saber que diz ser seu, o de decidir em lugar dos próprios indivíduos. E termina impondo ao cidadão o que entende como o seu próprio bem. Num primeiro momento, ele toma o lugar do cidadão, determinando o que ele pode fazer ou não relativamente à sua própria saúde. Num segundo momento, procurará impor o que entende ser a "boa" matéria jornalística, estabelecendo a censura aos jornais. Em outro momento, passará a determinar o que os indivíduos deveriam ouvir ou não no rádio, ver ou não num canal de televisão, em nome daquilo que também vem a considerar como o bem. Processo semelhante poderá ocorrer na educação, com livros didáticos que terminarão impondo um credo político ou religioso. Propostas essas já contempladas no PNDH-3. É o espírito mesmo do capitalismo que se esfacelaria e, com ele, a democracia representativa.

PROFESSOR DE FILOSOFIA NA UFRGS. E-MAIL: DENISROSENFIELD@TERRA.COM.BR

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100329/not_imp530653,0.php