quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Pare de “fazer diferença”

por Thomas Sowell em 28 de novembro de 2007

Resumo: Aqueles que vivem falando em "fazer a diferença" e “compensar” deveriam fazer a diferença compensando a verdade. É um débito há muito vencido.

© 2007 MidiaSemMascara.org


Dentre os muitos mantras inconseqüentes de nosso tempo, “fazer diferença” e “compensar” me irritam tanto quanto giz arranhando um quadro-negro.

Eu morreria de medo de “fazer uma diferença” no modo como os pilotos pilotam os aviões ou os neurocirurgiões operam. Qualquer diferença que eu fizesse poderia ser fatal a muitas pessoas.

Fazer diferença tem sentido apenas se você está convencido de que domina um assunto a tal ponto que é capaz de apontar onde uma diferença qualquer teria sido para melhor.

Poucas pessoas dominam algo muito além de um limitado círculo de conhecimento. Número menor ainda parece ter a capacidade de considerar tal questão. Mesmo assim, é difícil que um único dia se passe sem que haja notícias de algum bisbilhoteiro desinformado embarcando em uma ou outra cruzada.

Mesmo os mais simples atos têm ramificações que se difundem pela sociedade da mesma forma que ondas se propagam num lago, quando você joga nele uma pedra.

Dentre aqueles que fazem a diferença por servirem comida aos desabrigados, quantos já consideraram a história das sociedades que fizeram da indolência uma coisa fácil, para um grande número de pessoas?

Quantos estudaram o impacto de drogados ociosos em outras pessoas de sua própria sociedade, incluindo-se crianças que se deparam com suas seringas nos parques – se elas ainda ousarem freqüentar os parques?

Quantos sequer consideram relevantes tais questões quando deixam cair suas pedras no lago, sem pensarem sobre as ondas que atingirão os outros?

Talvez alguns ainda fizessem o que fazem, mesmo se refletissem sobre a situação. Mas isso não significa que a reflexão é uma perda de tempo.

“Compensar” é outro mantra inconseqüente.

Eu tenho doado dinheiro, livros e sangue a pessoas que nunca vi e a quem nada devo. E isso não é incomum entre os norte-americanos, que são o povo que mais faz isso no mundo.

Mas nós não estamos “compensando” nada, pois nunca tomamos nada das pessoas a quem doamos.

Se devolvemos para a sociedade como um todo, em troca de tudo que ela nos possibilitou, isso é totalmente diferente.

Devolver, nesse sentido, significa reconhecer uma obrigação com relação àqueles que nos precederam e às instituições e valores que nos capacitaram a prosperar na atualidade. Mas há muito pouco desse espírito de gratidão naqueles que nos pressionam a “compensar”.

De fato, muitos que repetem o mantra “compensar” iriam dar de ombros a qualquer noção de patriotismo ou a qualquer idéia de que as instituições e valores da sociedade norte-americana realizaram coisas valorosas e merecem o apoio deles, ao invés de sua objeção.

Nosso sistema educacional, do primário à universidade, está ativamente minando qualquer sentido de lealdade às tradições, instituições e valores da sociedade norte-americana.

Eles não estão devolvendo nada exceto condenação, não raro descrevendo pecados comuns à raça humana em todo o mundo como males peculiares à “nossa sociedade”.

Um clássico exemplo é a escravidão, que é repetidamente martelada em nossas cabeças – nas escolas e na mídia – como algo unicamente feito pelos brancos contra os negros nos EUA.

O fato trágico é que, por milhares de anos de história registrada, indivíduos de todas as raças e cores foram tanto escravizados como escravizadores.

Somente os europeus escravizados na costa norte da África o foram em muito maior número que todos os africanos trazidos aos EUA e às 13 colônias a partir das quais o país se formou.

O que é particular à Civilização Ocidental é o fato de que ela foi a primeira que se virou contra a escravidão e a eliminou, não só de suas próprias sociedades, mas de outras sociedades ao redor do mundo, durante a era do imperialismo ocidental.

Aquele processo levou bem mais de um século, pois as sociedades não-ocidentais resistiram. Tanto brancos quanto negros estavam ainda sendo comprados e vendidos como escravos, décadas depois que a Emancipation Proclamation tinha libertado os negros nos EUA.

Aqueles que querem “compensar” deveriam compensar a verdade. É um débito há muito vencido.

Publicado por Townhall

Tradução Antônio Emílio Angueth de Araújo

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