quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O império do mal

por Ipojuca Pontes em 26 de dezembro de 2007

Resumo: Os mais realistas (ou cínicos) diriam que um pouco de canalhice faz parte do espetáculo da vida. Mas o que se passa hoje no país é que o canalha, travestido de “salvador da pátria”, não apenas estupra a cunhada nos corredores, mas agride o corpo, a alma e os cofres da nação.

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Não sei se os senhores já ouviram falar de Palhares, o Canalha, personagem marcante da safadeza carioca criado pelo dramaturgo Nelson Rodrigues. Palhares era o perfeito velhaco, freqüentador de festas grã-finas, onde, com suas narrativas vis, fazia sucesso retumbante. Entre outras, Palhares gostava de contar a história da própria cunhada, que fora ao hospital visitar a irmã - sua mulher - nas dores de um câncer terminal. Em dado momento, enquanto a moribunda agonizava no leito, o canalha correu atrás da cunhada e atracou-a no corredor. Ele dizia e repetia, para o gozo da platéia grã-fina com a qual se identificava:

- Sim senhor, sim senhor: ali, no corredor, liquidei a fatura!

O Palhares era um personagem rodrigueano do final dos anos de 1960, juntamente com a Grã-fina de Narinas de Cadáver, o Padre de Passeata, a Estagiária de Calcanhar Sujo, o Comunista de Galinheiro e outros que tais, representantes de uma época em que a esquerda apenas ululava. Hoje, 40 anos depois, em vista do que ocorre no Brasil da era Lula, a canalhice do Palhares - pode-se garantir - não passa de brincadeirinha de criança. De fato, é como se o espírito do canalha, multiplicado por mil, contagiasse o organismo combalido da nação e, em especial, o ativo aparato político-administrativo do governo.

Os mais realistas (ou cínicos) diriam que um pouco de canalhice faz parte do espetáculo da vida - de resto, uma perversão da conduta humana até certo ponto perdoável. Mas o que se passa hoje no país é que o canalha, travestido de “salvador da pátria”, não apenas estupra a cunhada nos corredores, mas agride - em gestos, ações e palavras - o corpo, a alma e os cofres da nação. E não fica por ai, o canalha. Promovido, por assim dizer, como um padrão de comportamento, tornou-se um monumento nacional: em torno dele e sobre ele se deitam glórias, honrarias e medalhas de toda espécie, para não falar no seu enriquecimento rápido e ilícito.

Vejamos um caso recente - o escândalo do Padre Júlio Lancelloti, acusado de manter relações sexuais com Anderson Batista, ex-interno da antiga Febem. Segundo o advogado de Anderson, Nelson Bernardo da Costa, o religioso engajado não só prodigalizava somas em dinheiro (cerca de R$ 700 mil, em oito anos) como presentes caros (automóveis de luxo) ao pretenso amante, com recursos supostamente sacados de uma ONG que o padre administra: “Eles chegaram a ter relações dentro da igreja” - afirmou o advogado. “O relacionamento dos dois acabou quando Anderson casou” - concluiu.

O Padre Lancelotti negou as acusações de Anderson e o delegado do setor de investigações, André Luiz Pimentel, diz que o padre foi “vítima de extorsão”. A polícia abriu inquérito e quebrou o sigilo bancário do padre, mas o advogado garante que os presentes foram dados ao indiciado a título de “gratificação”.

Claro, há que se levar em conta que uma pessoa é inocente até sentença transitada em julgado. Mas antes mesmo de qualquer veredicto, o governo Lula resolveu agraciar Lancelotti, acusado de pedofilia, com o prêmio Direitos Humanos de 2007. Aplaudindo o ato, D. Marisa.

Já dom Luiz Flávio Cappio, o bispo de Barra (BA), voltou a enfrentar o martírio da fome para sustar a transposição do Rio São Francisco, um “hidronegócio” no valor de R$ 6 bilhões, que faz acender a voracidade dos políticos profissionais e dos empreiteiros espertos. Tanto dinheiro correndo solto em 2008, ano das eleições municipais, deixa o pessoal do governo com apetite capaz de devorar cobras e lagartos. O problema é que, agora, ao contrário do que ocorreu em 2005, quando enfrentou solitário outra greve de fome, o bispo não está só: tem a companhia de artistas, o pessoal da igreja materialista (CNBB) e do terrorista João Pedro Stédile, um especialista em tomar dinheiro dos cofres públicos para subvencionar a malandragem virulenta dos Sem-Terra e dele próprio.

Outro caso digno de admiração é o do deputado José Genoíno, ex-presidente do PT, indiciado pela Procuradoria Geral da República por crime de distribuição de dinheiro no esquema do mensalão – de repercussão internacional -, bem como de formação de quadrilha e corrupção ativa. Segundo a Procuradoria, o deputado do PT assinou junto aos bancos Rural e BMG empréstimos no valor de R$ 5,4 milhões, tidos como fraudulentos, pois visavam ocultar a origem do dinheiro ilícito do valerioduto.

Exibindo colarinho impecável ao sentar no banco dos réus do Supremo Tribunal Federal, Genoíno se fez de vítima: - “Nunca passei dinheiro para ninguém, nunca tratei desse assunto e nunca recebi nada. Quero afirmar minha confiança na justiça e na verdade”.

Antes mesmo de ser julgado pelo STF, o ex-presidente do PT já encontrou quem acredite e teça loas à sua verdade escandalosa: a Fundação Biblioteca Nacional (subordinada ao Minc) premiou com publicação e dinheiro (R$ 12,5 mil, grana do contribuinte) a pesquisa “José Genoíno - Escolhas políticas”, de autoria de Maria Francisca Coelho, que se destaca por um dado no mínimo singular: passa por cima do indiciamento do deputado feito pela Procuradoria Geral da República e da denúncia cabal, feita pelos militares de 64, de que Genoíno entregou sem pestanejar os companheiros da guerrilha do Araguaia.

Sim, nesta época de Natal é necessário reconhecer com humildade cristã: salvo em raras ocasiões, o acanalhamento da vida institucional brasileira é um fato. Na esfera do poder público, por exemplo, onde o sujeito enfiar o dedo corre o risco de encontrar pus. O meu sentimento é de que se trata de uma coisa minuciosamente planejada, com o objetivo fundamental de abalar o que resta dos alicerces morais do país para transformá-lo, em definitivo, no Império do Mal.

Que Cristo se apiede de nós.

Não explica nem justifica

por Percival Puggina em 26 de dezembro de 2007

Resumo: A conversa fiada do “bloqueio” não explica nem justifica o fracasso da economia cubana. Já o embargo norte-americano se explica, mas, decorrido meio século, não mais se justifica.

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O pedido de asilo dos cantores cubanos fez com que o Fantástico, em 16 de dezembro, produzisse matéria sobre a dura realidade da ilha de Fidel. Como resposta, a embaixada cubana, através de sua Seção de Imprensa, enviou ao programa um alentado documento, com o título “Lo que Fantástico no divulgó”. O texto foi acolhido por instituições de esquerda e circula na rede.

Ele atribui as dificuldades vividas por Cuba, sob o regime comunista que lhe está imposto desde 1959, ao que chama “criminoso bloqueio norte-americano”. Não é novidade essa afirmação. Ela reaparece no bolso dos comunistas sempre que se debate a situação daquele país. Segundo eles, Cuba não é pobre por causa do regime que adotou, mas por exclusiva responsabilidade dos Estados Unidos, que manteriam sobre a ilha um cerco concebido para matar a todos de fome. Não fosse assim, o promissor modelo econômico lá estabelecido seria um sucesso de público e renda.

Ora, Cuba não é vítima de nenhum bloqueio. O único bloqueio ali imposto foi de natureza militar, por ocasião do episódio dos mísseis soviéticos, em outubro de 1962. Naquelas circunstâncias, os Estados Unidos estabeleceram um cerco naval que se encerrou no dia 26 do mesmo mês, para impedir que navios com novos carregamentos aportassem à ilha. O que os Estados Unidos, de fato, impõem a Cuba é um embargo econômico meia-boca, instalado porque Fidel, no início dos anos 60, desapropriou, sem indenização, todo o patrimônio produtivo das empresas norte-americanas no país.

A cantilena comunista sobre o tal bloqueio induz os desavisados a crer que Cuba seja um país sitiado, transformado em pária da comunidade internacional, que nada pode comprar nem vender porque os ianques não deixam. Deslavada mistificação. Boa parte dos produtos que você encontra em certos mercados mais bem abastecidos de Cuba são procedentes do México, país que integra o Nafta com os Estados Unidos. Os maiores investimentos estrangeiros em Cuba são da Espanha, país parceiro dos Estados Unidos até na Guerra do Iraque. Os únicos ônibus que merecem esse nome no trânsito de Havana são fabricados aqui em Caxias do Sul pela nossa Marcopolo. A maior parte dos turistas que aportam na paradisíaca Varadero (mais de meio milhão deles por ano) são canadenses. Filiais estrangeiras de empresas norte-americanas estão habilitadas a transacionar com Cuba dentro de determinados limites. Cuba compra alimentos dos Estados Unidos, diretamente, desde que efetue o pagamento à vista. Centenas de milhões de dólares compõem esse fluxo comercial todos os anos. Uma das maiores fontes de divisas do país é a ajuda humanitária que os cubanos residentes nos Estados Unidos podem enviar para seus parentes. A Venezuela, principal fornecedora de petróleo para Cuba (a preços subsidiados) vende para os Estados Unidos 70% de sua produção petroleira.

Portanto, a conversa fiada do “bloqueio” não explica nem justifica o fracasso da economia cubana. Já o embargo norte-americano se explica, mas, decorrido meio século, não mais se justifica.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Day After

por João Luiz Mauad em 21 de dezembro de 2007

Resumo: Além de satanizar os parlamentares que foram contra a CPFM, a reações da "mídia amiga" ignoram que o voto dos senadores respondeu a um forte apelo da sociedade – já cansada de pagar tantos tributos e receber de volta serviços de péssima qualidade.

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Mal acabou a sessão do senado que confirmou seu caráter provisório e enterrou de vez (se Deus quiser!) a CPMF, a bancada chapa-branca na mídia desandou a inventar explicações para a derrota do governo. De todas, a principal foi de que os senadores da oposição votaram pensando exclusivamente em interesses político-eleitoreiros. Em resumo, a CPMF só caiu porque queriam tirar R$ 40 bilhões das mãos do governo num ano eleitoral.

Tal explicação procura não só satanizar um certo “comportamento mesquinho da oposição”, que teria votado pensando exclusivamente em interesses políticos imediatos, como principalmente escamotear o fato inegável de que o voto dos senadores respondeu a um forte apelo da sociedade – já cansada de pagar tantos tributos e receber de volta serviços de péssima qualidade.

É óbvio que, dentre os votos pelo NÃO, pode ter havido as mais diversas motivações pessoais dos senadores. Alguns votaram para tirar dinheiro das mãos do governo petista num ano eleitoral; outros, talvez, quisessem dar um “cala-boca” na arrogância do presidente Lula e mostrar que, numa democracia de verdade, há equilíbrio entre os poderes. No entanto, é inegável que a causa matriz foi mesmo a de acatar o desejo da sociedade, já cansada de tantos tributos e tão pouco retorno. Desejo esse, aliás, traduzido em diversas pesquisas de opinião, realizadas antes da votação.

A ânsia da tropa de choque petista – coadjuvada pelos seus esbirros da mídia chapa-branca – de defender o governo e atacar a oposição é tremenda. Para tanto, eles têm enfatizado o aspecto político da decisão e recusado sistematicamente o seu enfoque econômico. Ora, é evidente que a motivação dos senadores que votaram contra a prorrogação foi política. A diferença é que a visão deles do que seja POLÍTICA é completamente diferente da definição de um verdadeiro democrata. Esse acredita em representação, debate, sistema de pesos e contrapesos, enquanto para a turba petista política é sinônimo de conchavos, traições e demagogia.

Mas é compreensível e não deveria ser diferente. Eles até hoje só fizeram política da pior espécie. Seus lemas sempre foram “o poder pelo poder”, ou “os fins justificam os meios”. Lula fez isso durante anos, tendo se colocado contra toda e qualquer iniciativa dos governos que o antecederam, independentemente dos méritos das propostas ou do benefício para o país. Agora, como bom bolchevique, acusa seus adversários exatamente de tudo aquilo que sempre fez. Como só conhecem essa forma de fazer política, acham que o modo de agir e pensar de todo mundo é igual.

Outra estratégia posta em prática pelos comentaristas petistas foi focar no aspecto técnico da coisa. Concentram-se na discussão de detalhes, para evitar que se pense no todo. Mesmo após a derrota da CPMF, insistem em querer demonstrar as supostas virtudes daquela contribuição, sempre na tentativa de tirar o foco do debate de cima do verdadeiro problema: o pandemônio fiscal e a altíssima carga tributária que assolam a nação.

Ora, ninguém nega que a CPMF tivesse alguns méritos, dentre os quais a universalidade e a dificuldade de sonegação, ou ainda seu aspecto não-declaratório, que tira do contribuinte a necessidade de arcar com as tais obrigações acessórias, como preenchimento de formulários, guias de recolhimento, arquivo de documentos e mais uma infinidade de procedimentos burocráticos, cujo único objetivo é poupar trabalho à fiscalização e tornar o custo de transação brasileiro um dos mais altos do mundo. Num contexto de reforma tributária mais amplo, portanto, dá até para admitir um imposto similar, mas como estava, não dava para continuar. A hora de dar um basta era agora e talvez não houvesse outra oportunidade tão cedo.

Além disso, o governo vinha empurrando com a barriga a reforma tributária há muito tempo. Com a arrecadação crescendo mais de dez por cento ao ano, todos os anos, o governo vinha navegando em mar de brigadeiro, sem maiores preocupações fiscais, que não o progressivo aumento das despesas. Infelizmente, porém, esse aumento de gastos jamais se traduziu em melhoria da prestação de serviços.

O discurso de Lula – podem reparar – está sempre recheado de muitos bilhões de reais para cá, outros tantos para lá; é PAC disso, PAC daquilo, enfim, o homem tenta nos fazer crer que governar é simplesmente liberar verbas. Aos resultados ninguém presta muita atenção, não é mesmo?

Num país um pouco mais esclarecido, a opinião pública saberia que governar não é só “liberar verbas”. Saberia que é preciso organizar, executar, fiscalizar o que é feito do dinheiro. Em resumo, é preciso trabalhar duro, algo que os agentes públicos muitas vezes não gostam a fazer. Todos os dias, assistimos na TV ou lemos nos jornais que, apesar dos bilhões destinados à saúde e, malgrado a crônica falta de remédios nos hospitais públicos, vira-e-mexe toneladas de medicamentos são jogadas no lixo, porque não foram distribuídas a tempo e perderam o prazo de validade. Ficamos sabendo também que equipamentos moderníssimos encontram-se parados, por falta de manutenção, enquanto doentes morrem nas macas à espera dos técnicos e das peças que nunca chegam. Na educação, embora volumes cada vez maiores de verba pública sejam destinados, todos os meses, aos estados e municípios, as escolas e o ensino em geral continuam péssimos.

Na maioria dos casos, os problemas não decorrem da falta de recursos, mas da sua péssima utilização, da desorganização, da falta de preparo, da corrupção, do desdém com o dinheiro do contribuinte, do excesso de burocracia e das culturas patrimonialista e corporativista que infestam o serviço público tupiniquim.

Muito se discute sobre qual a melhor alternativa para compensar a perda de receita da CPMF e, na maioria dos casos, conclui-se que outros impostos precisam ser criados ou aumentados, quando a única alternativa sensata seria fazer com que o dinheiro que já existe fosse mais bem aplicado, ou seja, que se melhorasse a relação custo x benefício para os contribuintes.

O recado da sociedade, através do senado, foi de que não dá para, simplesmente, ir tirando cada vez mais do contribuinte, sem melhorar a qualidade dos serviços. A maior virtude da decisão, no entanto, foi chamar a atenção para o fato de que precisamos, urgentemente, fazer as reformas tributária e administrativa. Não fosse a extinção da CPMF, tão cedo se discutiria, seja no âmbito do executivo ou do legislativo, tais reformas. Pelo menos, agora, há uma chance de isso acontecer. Que não se perca mais esta oportunidade.

A vitória pírrica

por Heitor De Paola em 21 de dezembro de 2007

Resumo: Que importância teve o fim da CPMF para o futuro do Brasil se o país é governado por uma miríade de ONG’s e movimentos “sociais” que já engoliram o Estado e estão acima das instituições visíveis?

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“...estar pronto para abater a burguesia pela força. (...) A tarefa mais árdua é a de acumular forças e estar preparado para a revolução. A luta parlamentar é mais cômoda. Devemos utilizá-la plenamente, mas ela só terá efeito limitado”.

Mao Zedong

Após a reunião do Senado Federal onde a CPMF foi derrubada pela “poderosa oposição” – no dizer de um dos Senadores tucanos lá presentes – assisti a um festival de euforia e júbilo por parte dos liberais e conservadores como não via há anos. Ouviram-se brados jubilosos de “finalmente, a primeira grande derrota de Lula no Congresso” , “a brava oposição mostrou que Lula não é invencível”, “basta nos unirmos e vamos ganhar mais vezes”, e outras frases no mesmo tom. Que a mídia oficial (quase toda ela o é, escrita, falada, ouvida ou enfiada goela abaixo) mostrasse isto, vá lá. Que o casal de robôs amestrados que apresenta o Jornal Nacional desse a notícia com aquele ar de seriedade que costumam dar a toda e qualquer bobagem, vá lá. Que o Merval Pereira entoasse loas a “finalmente, temos uma oposição séria e empenhada no Brasil”, vá lá também. Mas que articulistas sérios e bem informados dos bastidores de um movimento revolucionário caíssem nesta esparrela, sinceramente custo a acreditar! Que se ocupem com ninharias deste tipo é inconcebível!

O que me parece que realmente ocorreu foi que Senadores preocupados unicamente com a manutenção de seus empregos – não havia um movimento visando extinguir o Senado Federal estimulado por Lula e PT? – resolveram mostrar que são indispensáveis e, portanto, não vão deixar de ganhar seus polpudos salários e gozar de suas imensas mordomias, fora algum “por fora”. Não é de estranhar que os dois principais Governadores tucanos fossem favoráveis à manutenção do dito tributo, perdão, “contribuição provisória”? Estaria o PSDB dividido? Coisa nenhuma, este partido continua sendo o que sempre foi: um bando de aproveitadores tão corruptos quanto o PT, como indicam os mensalões tucanos que foram e continuarão sendo descobertos, que ora posa de oposição, ora lança um chuchu para fazer a escada nos debates para Lula brilhar e ganhar.

Que importância teve esta Batalha de Itararé para o futuro do Brasil se não somos governados há muito pelos tradicionais três poderes, hoje mais decorativos que a Rainha da Inglaterra, e sim por uma miríade de ONG’s e movimentos “sociais” que já engoliram o Estado e estão acima das instituições visíveis, como recomendava Gramsci? E quem fomentou estas instituições acima do Estado visível senão o PSDB nos oito anos que esteve no poder? Foi durante o desgoverno FHC que foram regiamente financiadas e estimuladas, especialmente o MST. Agora o partido que deliberadamente destruiu o Estado para deliberadamente entregá-lo para o PT completar o serviço, quer posar de oposição! Mais uma vez a estratégia das tesouras se mostra duplamente eficaz: o PSDB é a “direita neoliberal” dos sonhos do PT; e internamente, se apresentam divididos na questão da CPMF como se tudo não estivesse combinado previamente.

Quando o partido se torna o Partido Príncipe (apud Gramsci) e abarca todo o poder através de organizações indiretas, os assim chamados “poderes constituídos” passam a ter existência meramente formal e tendem a deixar de existir. O Partido Bolchevista perdeu todas as eleições para a Duma em 1917; ficou 70 anos no poder. O Duce, ao se sentir ameaçado, seqüestrou e matou a mais importante voz do Parlamento, o Deputado Mateotti. O Füehrer para ser escolhido Chanceler cooptou “oposições” liberais “de centro”, e logo depois de assumir o cargo tocou fogo no Reichstag e só foi tirado do poder milhões de mortos depois. Mao foi clarividente e nem se submeteu a eleições usando o incipiente parlamento com aquela ressalva que está na epígrafe.

Oposição no Brasil? Seria de morrer de rir se não fosse uma tragédia, mas não temos disso por aqui, só um bando de espertalhões covardes que ficam se prendendo a miuçalhas deste tipo, enquanto uma verdadeira oposição deveria, entre mil outras coisas: 1 - denunciar o Foro de São Paulo, de onde emanam todas as decisões de Brasília, como uma organização comunista criminosa (desculpem o pleonasmo!) fundada pelo atual Presidente e por Fidel Castro; 2 - denunciar o PT por associação ilícita e formação de quadrilha como os narcotraficantes das FARC, companheiros no Foro; 3 - por esta razão denunciar que são os responsáveis pela morte por drogas de milhares de jovens brasileiros; 4 - denunciar a verdadeira razão de nosso ensino ter caído tão baixo na escala mundial: o método criminoso de Paulo Freire. Se nas avaliações houvesse questões sobre comunismo nossos estudantes seriam imbatíveis, idem se fosse sobre “educação sexual”, principalmente no quesito das aberrações; 5 - denunciar o MST e organizações urbanas afins, os “povos indígenas organizados” e os quilombolas como organizações guerrilheiras e terroristas que visam extirpar a propriedade privada de nosso País; 6 - conquistar as ruas, única propriedade privada que será mantida: a do PT.

Enfim, aprender com o bravo povo venezuelano como é que se faz oposição de verdade: nas ruas, com vigilância nas maquininhas de votar, enfrentando e acuando de peito aberto o tirano e seus sequazes, e vaiando os invasores cubanos, e não votar contra um impostinho fajuto que, quando estiveram no poder tudo fizeram para manter. Cabe aos Senadores brasileiros e não ao povo venezuelano as palavras despeitadas de Chávez: “ha sido uma victoria de mierda”!!!

A teoria marxista da revolução proletária: uma utopia

por Carlos I.S. Azambuja em 21 de dezembro de 2007

Resumo: O tal partido revolucionário do proletariado expropriou o proletariado do poder político, a burocracia apropriou-se do partido revolucionário e dos meios de produção e impediu qualquer progresso no sentido do dito socialismo.

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“Em princípio não renunciaremos nunca e nem podemos renunciar ao terror. O terror é uma das formas de ação militar que pode ser útil e até indipensável em um determinado momento do combate, ante determinado estado das tropas e determinadas circunstâncias”.

(Lenin, “Por onde Começar?”, maio de 1901)

Este é um tema complexo, que pode ser abordado de várias maneiras. Eis uma síntese das idéias que se combinam na teoria marxista da revolução proletária

Inicialmente, a de que o caráter opressor da sociedade capitalista, assentada, segundo Marx, em uma economia baseada na exploração do homem pelo homem, sujeita a crises cíclicas e com tendência ao declínio. Uma economia que não pode ser reformada e que deve ser suprimida.

Em segundo lugar, a definição de que a luta de classes é o motor da História, pois a Historia, desde os primórdios da civilização, nada mais tem sido do que o relato da luta de classes; que o sujeito revolucionário fundamental, o proletariado, jamais obterá uma melhoria global e definitiva em suas condições de vida e trabalho a não ser pela supressão do capitalismo. Pelos seus interesses históricos objetivos e pela sua força social, a classe operária foi definida por Marx como o sujeito revolucionário fundamental, capaz de emancipar-se e a toda a humanidade.

Outro aspecto da teoria marxista revolucionária é o que se refere ao Estado da sociedade capitalista, que Marx definiu como um aparato de dominação a serviço da burguesia, que não pode ser reformado, transformado ou utilizado pelo proletariado. Tem que ser destruído pela revolução proletária, que construirá outros organismos – administração pública, órgãos policiais, Forças Armadas e aparelhos ideológicos do Estado – que permitirão o exercício do poder pelos trabalhadores e conduzirão à passagem do capitalismo ao socialismo. Esse novo Estado foi definido por Marx como “ditadura revolucionária do proletariado”, do mesmo modo que no capitalismo o Estado é uma “ditadura da burguesia”.

Outra questão central na teoria marxista da revolução proletária é a necessidade da construção de um partido revolucionário que introduza, desde fora, no proletariado, a consciência de classe, pois, sozinho, ele é incapaz de adquirir essa consciência.

Posteriormente, a obra de Lênin implementou, de forma decisiva, a teoria marxista do Estado e do partido.

Finalmente, temos a concepção de Marx do que seria a sociedade comunista: uma sociedade sem classes, sem Estado, sem divisão social do trabalho, onde este deixaria de ser um meio de ganhar a vida para tornar-se uma fonte de realização dos indivíduos.

A teoria marxista da revolução proletária define, assim, como necessidade objetiva a supressão da sociedade capitalista, a ser realizada por uma revolução proletária, dirigida por um partido revolucionário, que daria origem a um Estado de novo tipo e iniciaria a construção da sociedade socialista, preâmbulo da sociedade comunista.

Após mais de 150 anos do Manifesto Comunista, esse projeto não se tornou viável nos países capitalistas. Pelo contrário, o comunismo ruiu onde quer que tenha sido implantado pela força das armas, restando Cuba para demonstrar o que, segundo a doutrina marxista, não é o comunismo. E mais: nos países capitalistas o modo de produção não marxista foi sedimentado e a classe operária – apontada como sujeito revolucionário fundamental – obteve sensíveis e constantes melhorias em suas condições de vida e trabalho, está organizada em sindicatos e nunca teve perspectivas revolucionárias, apesar da insistência do partido da classe operária e de seus militantes de classe média predominantemente urbana.

Todavia, o fato mais inquietante e questionador das idéias de Marx e seus epígonos é o de que, onde quer que o capitalismo tenha sido momentaneamente suprimido – sempre pela força das armas e não pela força dos argumentos da doutrina – não se seguiu o regime de democracia operária imaginado por Marx e nem, pelo menos, um processo de construção do socialismo que tenha avançado em direção a ele. O tal partido revolucionário do proletariado expropriou o proletariado do poder político, a burocracia apropriou-se do partido revolucionário e dos meios de produção e impediu qualquer progresso no sentido do dito socialismo. Em lugar da liberdade e da fonte de realização dos indivíduos, foram erigidos os gulags e os hospitais psiquiátricos.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O demônio está nos detalhes, mais uma vez

por Jeffrey Nyquist em 19 de dezembro de 2007

Resumo: A enorme riqueza gerada pela venda de narcóticos necessariamente se traduz em enormes propinas e em corrupção desenfreada. Há pessoas demais imaginando que o crescente hedonismo dos americanos não é um problema sério.

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O problema das drogas criminaliza a economia, corrompe funcionários públicos e financia o terrorismo. Eu estou absolutamente certo de que os terroristas que derrubaram as torres do World Trade Center foram financiados pelo dinheiro da droga e por outras fontes de renda ilegais.

- Hamid Karzai, Presidente do Afeganistão

O problema do terrorismo e de estados nocivos [estados ‘bandidos’] está ligado ao problema do tráfico de drogas, crime organizado, proliferação nuclear e a contínua campanha da Rússia e da China para desalojar os Estados Unidos da posição de maior potência mundial. Enquanto o dólar cai e a economia americana começa a se desarranjar, pondere se a erosão do caráter nacional está ligada ao uso recreativo de drogas – e se o uso recreativo de drogas tem sido encorajado por potências hostis.

O Ocidente se recusa a confrontar a Rússia e a China quanto ao seu uso estratégico do crime organizado, tráfico de drogas e terrorismo. Esta recusa origina-se de uma falta de vontade de confrontar a corrupção que se espalhou por todos os níveis da própria sociedade ocidental. A exigência pelo sentir-se bem progressivamente superou toda e qualquer outra coisa. Alguém pode falar sobre os nefandos traficantes e suas operações de contrabando. Mas uma sociedade inteira esteve em conluio com eles, e por décadas. Simplesmente dê uma olhada nas áreas centrais de nossas maiores cidades, ou até mesmo, em pequenas cidades e áreas rurais. A desintegração avança e nisto estão envolvidas as drogas ilegais. Os americanos atravessaram uma era de desmoronamento da autoridade e dos valores, que danificou a estrutura da família tradicional. Quantas regras não foram desprezadas e derrubadas nesses anos? E somos todos parte disso. Fomos levados juntos numa maré de lógica social que incluía as drogas. David Callahan escreveu um livro intitulado The Cheating Culture: Why More Americans Are Doing Wrong to Get Ahead [A Cultura da Trapaça]. As estatísticas sobre fraude nas escolas [a cola, entre outras modalidades] são um escândalo a céu aberto. Pensem também na corrupção nas empresas e no governo. “Quando a trapaça se torna tão difundida ao ponto em que a percepção geral é ‘todo mundo faz’, emerge um novo cálculo ético. As pessoas consideram-se em desvantagem se seguirem as regras oficiais em vez de seguir as regras reais”.

Pior ainda, pois a trapaça nos enreda no auto-engano. Isto pode incluir a justificação de uma política comercial suicida com a China, uma política de imigração suicida e a recusa em fortalecer a defesa civil. A razão para políticas nacionais suicidas é simples: cada política promove um regime de shopping center hedonista, no qual importações baratas e mão-de-obra barata superam as necessidades de cuidado e segurança de nossos filhos e netos. E todos se juntam para juntos se arranjar. Todo mundo quer passar e se dar bem. “Todo mundo está fazendo”. O hedonismo é a questão mais visível e central quando tratamos do cerne do problema dos EUA. Como nação, estamos gastando tempo demais diante da televisão, estamos comendo demais, e estamos desfrutando de drogas demais – legais e ilegais.

É preciso que haja um novo entendimento nos Estados Unidos, especialmente quando o assunto são as drogas ilegais. Aqueles americanos que fazem uso de drogas ilegais são parte do problema do terrorismo. Eles contribuem para o contínuo solapamento da segurança americana. Neguem isso o quanto quiserem, mas o dinheiro gasto em drogas recreativas vai para terroristas e cartéis criminosos estrangeiros. De acordo com Joseph D. Douglass, Jr., autor de Red Cocaine: the drugging of America and the West [Cocaína Vermelha: drogando os EUA e a Europa], Rússia e China dominam o comércio internacional de drogas; por meio disso, ganham acesso à economia e ao sistema político americanos pela porta dos fundos. O potencial para sabotagem, subversão e operações de influência política contra um país como os Estados Unidos fica assim ampliado. De acordo com o testemunho de um desertor, os russos vêm penetrando o comércio de drogas e o crime organizado há meio século. “[Na Rússia] o tráfico de drogas está, tanto quanto todas as operações de inteligência, incorporado ao processo de planejamento total”, ressalta Douglass. “O planejamento de longo prazo estabelece as prioridades e a cooperação para o desenvolvimento da ciência e produção de narcóticos e drogas. Os países alvo e sua ordem de prioridade são identificados. O planejamento [russo] de longo prazo descreve como serão desenvolvidas as redes de distribuição em diferentes países e também quando e como as suas vulnerabilidades serão exploradas. O planejamento de curto prazo é mais específico e tático. Ele especifica com quais grupos deve haver cooperação; quem são os agentes; e quais são os cronogramas de produção e distribuição”.

Atualmente, o Afeganistão fornece de 85 a 90% do ópio e heroína consumidos no mundo. Você pode apostar que Moscou está envolvida – que o fato de Moscou ter nas mãos líderes tribais afegãos chave é decisivo. Depois de tanto sangue derramado e tanto dinheiro gasto, a campanha americana no Afeganistão fracassou. Fomos derrotados. O mesmo processo vem avançando na América Latina por muitos anos. Pense no avanço do comunismo na Colômbia e na Bolívia. Tudo tem a ver com as drogas, crime organizado e terrorismo. E o gosto americano por drogas dá combustível ao avanço do inimigo. Os Estados Unidos são incapazes de conter o fluxo de ópio do Afeganistão e de cocaína da Colômbia justamente porque os Estados Unidos são os maiores consumidores de drogas ilícitas do mundo.

E os nossos estrategistas compreendem o que está acontecendo? Será que os nossos estrategistas percebem que a “cultura da trapaça” progressivamente leva à derrota nacional e à destruição da Civilização Ocidental? A enorme riqueza gerada pela venda de narcóticos necessariamente se traduz em enormes propinas e em corrupção desenfreada. Há pessoas demais imaginando que o crescente hedonismo dos americanos não é um problema sério. Alguém parou para pensar que o hedonismo se relaciona com o problema do controle das fronteiras? É um problema de corrupção governamental, mas é também, e por conseqüência, um problema de chantagem – pois funcionários que recebem propinas estão também sujeitos a chantagem.

O pessoal que está com raiva das companhias de petróleo precisa desviar um pouco dessa raiva na direção dos traficantes e drogados. Se você usa drogas ilícitas, está enriquecendo criminosos que disseminarão corrupção na polícia, nos conselhos municipais, nas administrações estaduais, até chegar aos deputados e senadores. Ainda que o seu trivial hábito de fumar maconha não lhe faça engordar, nem lhe deixe preguiçoso ou estúpido, a sua escolha contribui para o esfacelamento da nação. Pense em quem faz a lavagem do dinheiro das drogas, em quem fica sujo e sujeito ao controle de criminosos (a propósito, o controle é exercido por agentes de inteligência estrangeiros e hostis).

Eu certa vez perguntei a um desertor russo, do alto-escalão, como os militares russos planejavam contrabandear armas de destruição em massa para dentro dos Estados Unidos, como prelúdio a uma III Guerra Mundial. Ele disse, “[A] o longo das mesmas rotas usadas pelos traficantes de drogas.”

Nosso problema estratégico está ligado ao nosso problema das drogas.

[*] NT: The devil is in the details, referente ao título do artigo, é expressão idiomática que significa: a atenção aos pequenos detalhes pode determinar a solução dos grandes problemas, ou, que detalhes não resolvidos são a causa dos grandes problemas.

© 2007 Jeffrey R. Nyquist

Publicado por Financialsense.com

Tradução: MSM

Tricontinental de Militares

por Carlos I.S. Azambuja em 19 de dezembro de 2007

Resumo: Militares utópicos, internacionalistas, socialistas e, claro, adeptos da "paz".

© 2007 MidiaSemMascara.org


Em 14 de outubro de 2005, o site de extrema-esquerda La Fogata (http://www.lafogata.org/05latino/latino10/chi_14-3.htm) publicou um texto referente à conclusão, em Santiago do Chile, de uma reunião intitulada Tricontinental de Militares.

Segundo o La Fogata, essa reunião objetivou redefinir a formação e a ética das Forças Armadas em um mundo marcado pelo fim das fronteiras e da Nação-Estado, e pelo auge do militarismo exercido por George Bush e seus aliados em guerras vinculadas ao complexo militar industrial. Foi essa a tarefa assumida pelos militares participantes do Encontro de Militares pela Paz e a Democracia, realizado dias 5 a 8 de outubro de 2005 em Santiago.

Os participantes foram militares da ativa e da reserva ou reformados da Europa, Ásia e América, muitos dos quais ex-presos políticos das Forças Armadas do Chile, Uruguai e Argentina, bem como assessores atuais do Executivo de países como Venezuela e Uruguai, juntamente com acadêmicos latino-americanos, os quais debateram temas vários.

Esse Encontro foi convocado pela Escola da Paz de Grenoble, França, e pela Fundação Charles-Leopold Mayer para o Progresso do Homem (Suíça e França), juntamente com a Corporação AYUN e o Centro de Estudos Estratégicos da Universidade ARCIS, de Santiago, Chile.

No Encontro houve consenso em denunciar o militarismo e a ilegalidade da guerra preventiva deflagrada pelos EUA, em valorizar a democracia e considerar que um governo democrático será sempre melhor que um governo militar. Foi também constatado que na América Latina as democracias não têm dado resposta aos problemas sociais das maiorias.

O programa desenvolvido pelos participantes incluiu um encontro com organizações de Direitos Humanos da municipalidade de S. Miguel, visitas ao palácio La Moneda, ao prédio que abrigou o Senado, o Memorial do Cemitério Geral, a Ilha Negra e foi concluído com um diálogo com jovens participantes do festival “Mil Tambores pela Paz”, em Playa Ancha. O diretor da Escola da Paz enfatizou que não é possível construir a paz sem os militares, e assegurou que no Chile foi dado um passo muito grande para fortalecer essa construção.

O general Alberto Muller Rojas, que trabalha junto ao presidente Chavez, por sua parte, informou que em seu país foi promulgada uma nova Lei Orgânica das Forças Armadas, legalizando a criação da guarda territorial, composta por grupos populares organizados para a resistência em caso de invasão. Alberto Muller que, anos atrás, foi embaixador no Chile, explicou que o soldado-cidadão foi transformado em cidadão-soldado, com plenos direitos cívicos.

A busca de mecanismos de resolução de conflitos, com os militares como facilitadores do processo junto a todos os restantes atores da sociedade civil, foi a tese sustentada pelo general Gérard Bézancier, atual comandante da região noroeste do exército francês.

No Centro Cultural San José, na Recoleta, o oficial francês sustentou que a invasão do Iraque demonstra que a guerra não é solução e mostrou-se partidário do controle das Forças Armadas pelo Poder Civil através do Parlamento. Sobre esse tema, Gérad Bézancier entregou um manual ao senador Jaime Gazmuri, vice-presidente do Senado chileno.

Por outro lado, o general Hugo Medina, da Colômbia, na reserva do Exército há uns dois anos, sustentou que em seu país o conflito com a guerrilha, que se arrasta por 40 anos, não tem origem militar, portanto não pode ser resolvido pela guerra. O ministro da Defesa do Equador, coronel Oswaldo Jarrin, sugeriu que o conceito de segurança fosse centrado no ser humano, suas aspirações e melhor qualidade de vida.

Democratização das Forças Armadas

O coronel argentino Horacio Ballesteros, presidente do Centro de Militares Democráticos da Argentina (CEMIDA), o coronel Pedro Aguirre, do Uruguay, e os chilenos Ernesto Galaz, ex-comandante da Força Aérea, Carlos Perez Tobar, ex-oficial do Exército, e Teodocio Cifuentes, cabo da Armada, demitido, recordaram suas passagens pela prisão e exílio, bem como suas bondades de lugar pela paz. Sustentaram que a democratização ainda não chegou às Forças Armadas latino-americanas, que ainda mantêm a estrutura anterior e também sua formação, ligada à doutrina de segurança nacional e a hipóteses obsoletas de conflitos. Assinalaram que além de se colocar em vigência o direito internacional em matéria de direitos humanos, e de buscar a cooperação e a complementaridade em lugar da confrontação, devem ser estabelecidas leis que incorporem a objeção de consciência e o direito de não acatar ordens ilegais.

Sustentaram que as Forças Armadas deveriam participar na administração do Estado e fizeram ver, ademais, que a Justiça Militar deve ser reformada. Civis presentes sustentaram também a necessidade de erradicar a prática da tortura em quartéis e deter o avanço da impunidade, como condicionantes para o diálogo e a superação do medo instalado na sociedade.

Conceito integral de paz

No novo papel a ser desempenhado pelas Forças Armadas, foram assinaladas tarefas vinculadas com o meio ambiente. O almirante L. Ram Das, da India, assinalou que “a paz é holística; que não pode haver paz sem justiça; que com o velho conceito de Nação-Estado, as fronteiras justificam a existência da defesa; que, porém, o mundo do futuro é diferente, pois além de termos que olhar os seres humanos integralmente, há também os direitos da Terra e da naturaza, tendo consciência que pertencemos à Mãe Terra e que somos apenas um pequeno fragmento no universo”.

Condições para a Paz

Carlo Novoa, jesuita especializado em ética e formador de oficiais na Colômbia, estendeu a posição da Igreja Católica e das Nações Unidas, advogando pelo desarmamento total e a reconversão de exércitos e indústrias militares ao serviço social. Segundo o pastor chileno Helmut Frenz há uma guerra contra os pobres, contra os refugiados, que são tratados como inimigos e contra a naturaza e o meio ambiente. O ex-brigadeiro Rao Aid Hamid, do Paquistão, expôs, por sua vez, sua experiência como fundador da Comissão de Direitos Humanos de seu país e ativo impulsionador do movimento pela paz entre a Índia e o Paquistão.

Uma democracia plena

O general Muller, enfatizou que na Venezuela “temos um novo Estado na sociedade e em matéria militar, um novo modelo de democracia participativa. São milhões os venezuelanos que através das Missões Bairro Adentro agora contam com saúde, educação e alimentos e que antes estavam postergados e marginalizados”. Por sua parte, Ram Das expressou que “nós, na India, podemos dizer que temos uma democracia política exitosa, uma vez que é o único país da região que se manteve, desde sua independência, com governos democráticos, respeitando a diversidade e a multiculturalidade étnica e religiosa de nossa gente. Porém, social e economicamente, existem castas, prejuízos pela cor da pele e outros vícios”.

Apesar de convidado, nenhum representante de Cuba esteve presente.

Fnalmente, os participantes concordaram que os governos não devem envolver membros das Forças Armadas na repressão às lutas populares. No entanto, esqueceram de definir o que são lutas populares.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Desarmamento - comentando notícias recentes 2

por Peter Hof em 18 de dezembro de 2007

Resumo: Mais do que nunca, é preciso um olhar muito crítico e uma mente aberta para poder interpretar o que realmente escreve ou informa a chamada "grande imprensa".

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Jovens matam a pedradas guarda municipal no Paraná – esse era o título de matéria da página 11 de O Globo de 26/10/2007. O guarda municipal Lourival Bezerra Filho, 50 anos, casado, foi assassinado a pedradas por um bando de adolescentes. A selvageria foi tamanha que Lourival teve o rosto completamente esmagado por pedradas, ficando irreconhecível. Ele havia tentado parar um grupo de adolescentes que depredava uma estação de ônibus no Conjunto Nossa Senhora da Luz, umas das regiões mais violentas de Curitiba. Ainda segundo O Globo, o guarda estava desarmado. E aí vem a pergunta: como se manda alguém desarmado patrulhar à noite uma área sabidamente violenta? Isso é conseqüência imediata da mentalidade de desarmar todo mundo que se implantou neste país nos últimos vinte anos e que culminou com este monstrengo que é a lei 10.826 de 23/12/2003.

Aliás, é bom relembrar que a idiotice que atende pelo nome de Estatuto do Desarmamento – piada de mau gosto, já que no Rio de Janeiro bandido que se preza não quer mais saber do velho trezoitão, e o que se vê nas fotos de jornais são FAL, AK-47, AR-15, pistolas 9mm e .40. – começou a fazer suas primeiras vítimas cinco semanas depois de sua promulgação. Em 28/1/2004, três auditores fiscais do Ministério do Trabalho e o motorista que dirigia o veículo foram assassinados na manhã daquele dia na cidade de Unaí, no noroeste de Minas Gerais. Os fiscais faziam uma inspeção em fazendas da região contra trabalho escravo. Eles foram abordados por vários homens, que atiraram contra o carro em que estavam.

Mesmo ao maior dos idiotas soaria estranho mandar quatro homens desarmados e sem escolta investigar a existência de trabalho escravo numa região onde disputas e questões são prioritariamente resolvidas pelo uso de armas. Pistoleiros a serviço de fazendeiros podem ter sido as mãos que executaram o crime, mas aqueles que mandaram esses pobres homens em uma missão suicida merecem estar sentados juntos no banco dos réus. Num país como o Brasil, mandar alguém desarmado patrulhar áreas desertas e perigosas deveria ser considerado homicídio doloso.

Reforma em imóveis a R$ 485 mil – esse foi o título de matéria publicada na página cinco de O Globo de 9/7/2007 e se refere a gastos com a reforma de residências usadas por Suas Excelências, os Senadores da República. Até aí nenhuma novidade, esse pessoal desperdiça o dinheiro dos cidadãos sem nenhum pudor. O que interessa ao nosso tema é o que vem a seguir e que transcrevo na íntegra: Apesar de dispor de uma polícia própria, o Senado paga R$ 152 mil mensais para uma empresa manter seguranças armados nas residências oficiais. E destinou R$ 181 mil à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal para "Policiamento ostensivo nas áreas do Senado". Esse era o ponto em que eu queria chegar: essa cambada de inúteis, reunida em um misto de clubinho exclusivo e balcão de negócios, além de se auto-outorgar todo tipo de benesses e certamente preocupada com o julgamento que a população faz dela, gasta essa dinheirama toda em sua (deles) segurança. E FOI ESSA MESMA SÚCIA QUE APROVOU O ESTATUTO DO DESARMAMENTO, uma lei imbecil que cria toda série de empecilhos ao direito de autodefesa do cidadão decente e que em nada contribuiu para tirar armas das mãos dos marginais. Mostra de forma inequívoca que a escória que tomou de assalto este pobre país busca para si um tratamento diferenciado daquele que, através de leis estapafúrdias, impõe ao infeliz cidadão que paga uma das mais altas cargas tributárias do planeta e nada recebe de retorno.

Senador vai deixar residência oficial – essa é a chamada para a matéria de O Globo de 16/10/2007, página 8, sobre a perda de benefícios que sofreria o senador Renan Calheiros por ter se licenciado da Presidência do Senado. Além do carro, jatinhos da FAB, da casa, comida e roupa lavada, as repórteres Isabel Braga e Cristiane Jungblut informavam que o senador Calheiros perderia também a proteção de seguranças, fato que acontecia quando exercia a Presidência do Senado. Os seguranças agora passariam a dar proteção ao novo presidente, senador Tião Viana.

Claro que todo mundo sabe, mas vale relembrar: o senador Calheiros e Márcio Thomaz Bastos, ex-Ministro da Justiça, foram os sumo sacerdotes da Campanha do Desarmamento. Como alguém que se cercava de oito seguranças tinha a cara de pau de dizer aos cidadãos de bem que deveriam entregar suas armas e ficar à mercê da bandidagem, contando apenas com a proteção de uma polícia completamente desprovida dos mínimos meios de exercer sua função? Fatos posteriores e que até hoje continuam a pipocar na imprensa explicam perfeitamente quem é o senador Renan Calheiros.

ONU: São Paulo teve 1% dos homicídios do mundo – Essa foi a chamada que ocupava quase toda a largura da página 13 do dia 2/10/2007. O corpo da matéria informava que apesar de ter apenas 0,17% da população do mundo, São Paulo foi responsável por 1% dos homicídios ocorridos em 2006, de acordo com o relatório do Programa das Nações Unidas para Assentamentos Urbanos. O fervor antiarmas do jornal dos Marinho levou logo os autores da matéria a trombetear que, no Brasil, morrem cem pessoas por dia vítimas de armas de fogo, e por aí foram alardeando as mazelas do Rio e de São Paulo, mazelas essas devidamente chanceladas pelo absolutamente inquestionável relatório da ONU. O embuste, no entanto, não durou muito. A revista VEJA, em sua edição 1029 de 10/10/2007, sustenta que a afirmação é puro chute e prova o porquê: o "especialista" da ONU não tem o número total de homicídios no mundo e, além do mais, recolheu os dados sobre São Paulo do jornal argentino La Nación, que publicou índices de homicídios de 2002. O erro é, de certa forma, justificável: com certeza o autor da besteira acredita que a capital do Brasil é Buenos Aires... Entre outras agressões aos métodos científicos de pesquisa, o autor da sesquipedal asneira cometeu um erro primário – daqueles capazes de expulsar da faculdade um aluno do primeiro ano de Ciências Estatísticas: usou os dados de Recife, a capital de estado mais violenta do Brasil, para projetar a situação do país. O resultado é que o número real era 100 vezes menor. E pensar que esse energúmeno recebe uma fortuna em dólares, livre de qualquer imposto!

Essa não é a primeira vez que os patetas bem pagos da ONU e seus filhotes escrevem grosseiras inverdades ou suspeitíssimas distorções de fatos sobre o problema da segurança do cidadão no Brasil. Dois anos atrás, mais precisamente em 5/9/2005, este site publicava um artigo meu intitulado DESARMAMENTO: OS ANTIARMAS E O MALABARISMO DOS NÚMEROS. Lá eu mostrava as toscas artimanhas cometidas por esses profissionais da empulhação.

O Secretário de Direitos Humanos Paulo Vannuchi foi destacado pelo governo para acompanhar a investigação do assassinato de Valmir Mota de Oliveira – um militante do MST – durante a ocupação de uma fazenda pertencente à multinacional Syngenta Seeds. Oliveira foi morto com dois tiros por seguranças contratados pela empresa. Essa é a notícia da coluna Panorama Político de O Globo de 3/11/2007.

Até aí, tudo bem; o governo parece empenhado em resolver o assassinato de um líder do MST, um importante parceiro, que invadia uma propriedade privada. Gostaria de perguntar se algum leitor sabe o andamento do processo da morte do soldado Luís Pereira da Silva. Para quem não sabe ou não lembra, no dia 06/02/2005 o soldado Pereira da Silva foi brutalmente espancado, posto de joelhos e executado com dois tiros na nuca. E, num verdadeiro festival de selvageria, continuou a ser espancado mesmo depois de morto. O crime ocorreu no assentamento Bananeiras do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, em Pernambuco.

É nojento ver como nossas autoridades agem de formas tão diferentes em casos como o da irmã Dorothy ou de Valmir Mota de Oliveira e do soldado Pereira da Silva.

Em 14,1% das cidades já há guarda municipal – é o título da matéria de O Globo de 27/10/2007, página 12. A matéria faz uma análise dos municípios (786) que constituíram a guarda municipal, sendo que dessas 127 (16%) permitem que os guardas usem armas de fogo. O sociólogo Michel Misse, diretor do Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ discorda da idéia: “Com arma de fogo, a guarda municipal acaba virando mais uma polícia. Cidades de São Paulo adotaram o modelo, mas a duplicação das polícias não é um bom caminho.”

Mais uma vez, o fervor antiarmas faz com que se chegue a uma conclusão errada: basta ler a longa reportagem intitulada “GCMs aprimoram-se no uso de armas de fogo”, publicada no número 100 da Revista Magnum, página 16 e seguintes. Ali, conta-se a história da iniciativa da prefeitura de Indaiatuba, em conjunto com outras 16 prefeituras paulistas e o Centro de Treinamento Tático da Companhia Brasileira de Cartuchos, de dar um treinamento adequado aos guardas municipais que passariam então a portar armas de fogo. Contrariando a opinião do senhor Misse, a idéia encontrou entusiasmado apoio da Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), órgão do Ministério da Justiça. Digo entusiasmado, pois o SENASP está arcando com 80% (oitenta por cento) do custo do treinamento, que dura três meses. Pelos menos esses guardas terão a chance de se defender de um bando de assassinos juvenis, chance essa que não foi dada ao infeliz guarda morto a pedradas.

Quanto a, na opinião do senhor Misse, não ser esse um bom caminho, eu dou testemunho contrário com base em minha vivência. Em Atlanta, Geórgia, onde morei por muitos anos, tínhamos a polícia da cidade de Atlanta, a polícia do estado da Geórgia e a polícia do condado de Fulton, onde fica localizada parte da cidade de Atlanta. Além disso, havia também a polícia do MARTA, o metrô de Atlanta. É isso mesmo, o metrô mantém uma guarda armada, não só nas dependências do metrô como também nas áreas próximas. Era bastante comum ver carros Ford Crown Victória, com a luz azul na capota, similares aos da polícia "comum", percorrendo as ruas e avenidas próximas ao metrô, em especial nas áreas adjacentes às estações. Além disso, em crimes federais (assalto a bancos e seqüestro, entre outros), existe também a colaboração do FBI. E ninguém venha me dizer que Atlanta, uma metrópole de 4,9 milhões de habitantes, tem mais crimes, em números absolutos ou mesmo por cem mil habitantes, do que o Rio de Janeiro.

O problema não reside em uma ou mais forças policiais atuantes na mesma área, e sim no fraco treinamento das forças policiais, combinado com viaturas inadequadas e em mau estado de conservação, isso somado ao baixo número de policiais por cem mil habitantes. Ainda de acordo com a reportagem, apenas 25,4% das cidades treinam periodicamente os guardas. As equipes das SWATs norte-americanas têm todo ano um campeonato nacional, em que se submetem a diversas provas simulando situações que enfrentam no dia a dia. Segundo um amigo meu, policial aposentado da cidade de Los Angeles (LAPD), além do treinamento normal, quando mudaram o armamento do revolver calibre .38 para a pistola 9mm, foram obrigados a se submeter a uma reciclagem que incluía dar 500 tiros com a nova arma.

Cariocas aprovam ações policiais em favelas – chamada para matéria publicada na página 33 de O Globo de 2/12/07. A matéria trata de pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS) que revela que 69% (sessenta e nove por cento) dos entrevistados aprovam a maneira como as operações da polícia têm sido conduzidas nas favelas e apenas 18,3% dos entrevistados desaprovam. Não vamos nos estender mais sobre a interessante pesquisa. Apenas chamar a atenção do leitor que, toda vez que a população é chamada a opinar, ela é frontalmente contra aquilo que políticos, ONGs (Via Rio, Sou da Paz, etc.), ONU, UNESCO, cientistas sociais e outros "especialistas" têm a exprimir nos generosos espaços que a eles dedicam O Globo e a chamada “grande imprensa”. Foi assim no referendo sobre a venda de armas, tem sido assim na seção de cartas de O Globo sobre as bobagens e trapalhadas cometidas pelo senhor Philip Alston e tem sido assim em todas as pesquisas em que a população que paga altos impostos tem a oportunidade de se manifestar. Quero aproveitar para deixar aqui uma sugestão, para que a opinião dos "especialistas" afinal coincida com a da população: façam suas pesquisas somente entre integrantes do Viva Rio, Sou da Paz, ISER e similares. Mas examinem bem os resultados antes de publicá-los. Nunca se sabe o que pode sair se a pesquisa for por questionário escrito e respondente não identificado..

Mais do que nunca, é preciso um olhar muito crítico e uma mente aberta para poder interpretar o que realmente escreve ou informa a chamada "grande imprensa".

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Mentindo sobre a CPMF

por José Nivaldo Cordeiro em 17 de dezembro de 2007

Resumo: A Folha de São Paulo e a Veja transformam a derrota política do PT na votação da CPMF num episódio sem importância, em prejuízo dos leitores.

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O desfecho da tramitação da emenda constitucional de prorrogação da CPMF é em si um fato histórico da maior relevância porque: 1- Foi a maior derrota do governo Lula, que praticamente governava sem oposição visível até então; 2- É a primeira vez em muitos anos que a curva da carga tributária muda se sentido, aliviando o peso sobre os contribuintes; 3- Vimos a formação de uma sólida minoria no Senado, capaz de frear qualquer aventura do PT. A estabilidade institucional está assegurada por essa via; 4- A redução da despesa vai obrigar o Executivo a comprimir despesas, de uma forma ou de outra. Não haverá mais excedente de arrecadação para bancar a rédea solta que tem sido o governo Lula, a praticar o populismo mais radical em matéria de gastos.

Ao ler a revista Veja que chegou às bancas parece que não foi bem assim que aconteceu. A revista quase que disse que a vitória da oposição seria como se fosse uma vitória de Lula. Usaram eufemismos de todos os tipos, até a capa tem um quê de infantil, como se passasse a mensagem de que teria sido um mero acontecimento corriqueiro. “O Executivo decidiu tratar com realismo a queda da CPMF e suas conseqüências, a súbita retirada de 40 bilhões de reais das previsões de arrecadação, cerca de 7% da receita fiscal para 2008. O que isso significa? Significa que a frustração de receitas precisa ser compensada em 2008 com cortes nas despesas e com formas de arrecadação menos ruinosas do que a CPMF. Em uma sentença: o Brasil amadureceu”. Perceberam? Não foi o PT que perdeu, mas “o Brasil que amadureceu”. Uma ova! O que vimos na verdade foram ameaças de todos os lados, do próprio Lula, de Guido Mantega e de outros ministros, todos fazendo terrorismo e ameaçando executar um choque tributário, “para compensar”. Lula chegou a afirmar que a decisão foi tomada pelos que não usam o SUS, como se ele próprio usasse.

O governo falou pouco sobre a derrota porque nada tinha para falar, exceto que ela foi gigante e que ameaça o futuro político do projeto do PT. Sou assinante da revista e notei que ela demorou para chegar em minha residência. Estranhei. Terá havido algum motivo extra, alguma pressão governamental para tanto? Nunca saberei. Foi estranho também que o comentário assinado sobre o episódio, único na edição, foi escrito por Maílson da Nóbrega, um notório chapa-branca. Seu texto vai também na direção de minimizar o acontecido e transformar a derrota do PT em seu contrário. Não se fez de rogado: “Logo na manhã seguinte à derrota, a Casa Civil promoveu reunião de emergência para discutir como lidar com a situação. Primeira providência: acalmar os mercados financeiros. Em entrevista coletiva, o ministro da Fazenda afirmou que a perda da receita da CPMF não abalaria o compromisso do governo com a meta de superávit primário. Em poucos dias, medidas seriam anunciadas para tornar crível a promessa. A mudança é enorme. No passado, ele e outros companheiros diziam que o superávit era uma ação neoliberal para atender a interesses de banqueiros.

Viram como o PT é bonzinho? Ainda durante essa semana um dos seus quadros mais notáveis, o atual presidente do BNDES, fez as mais ridículas declarações sobre a duração da jornada de trabalho e ninguém se lembrou de levar em conta isso ao falar da suposta “maturidade” do PT. É vergonhoso como a revista e o seu comentarista contratado fizeram a desinformação da população brasileira. Nem sublinhar a relevância histórica dos fatos nos termos corretos fizeram.

A Folha de São Paulo de hoje, em editorial, usou do mesmo tom laudatório: “Vitoriosos e vencidos agora disputam que versão dos fatos haverá de prevalecer na opinião pública: se foi feita justiça ao contribuinte ou se foi punido o cidadão de baixa renda.
Colocado nesses termos, o dilema é apenas retórico. Uma real reforma tributária pode ao mesmo tempo reduzir a carga fiscal e corrigir sua iniqüidade do ponto de vista distributivo. Encerrada a refrega da CPMF, o país parece emergir um pouco mais maduro para essa discussão
”. Os vencidos supostamente estão do lado do cidadão de baixa renda, a dar crédito ao editorialista, e não aqueles que reduziram o roubo estatal que destrói empregos, que tira a competitividade das exportações, que remunera uma burocracia numerosa e inútil, é ela própria expressão da injustiça distributiva.

Os leitores de ambas as publicações ficaram no prejuízo de saber que estamos, de fato, diante de um acontecimento maiúsculo, talvez o mais relevante de todo o governo Lula. Escondem o mais óbvio de tudo: que o PT amargou uma duríssima derrota e que a oposição finalmente se reagrupou, tornando-se capaz de dar combate aos agentes do “socialismo do século XXI”. Nossa grande imprensa é de dar nojo, nem grande é, é minúscula.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Irmãos siameses - Final

por João Luiz Mauad em 15 de dezembro de 2007

Resumo: Muito embora o parentesco entre comunismo e nazismo seja incontestável sob muitos aspectos, permanece latente a recusa sistemática de qualquer paralelo entre elas.

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Após a publicação, em 1997, de O Livro Negro do Comunismo, um trabalho histórico científico que expôs de forma insofismável os crimes do totalitarismo comunista, a defesa da esquerda foi muito pouco centrada na materialidade desses crimes, desde então dificilmente impugnáveis. “Que fez ela, então? Invocou, sobretudo, a pureza de motivos que havia determinado a sua perpetração. A mesma velha história! Desde os primeiros instantes da revolução bolchevique, tivemos que engolir, ad nauseum, essa insípida poção”, resume Revel.

O nazismo e o comunismo cometeram atrocidades comparáveis, tanto por sua extensão quanto por seus pretextos ideológicos. Isso não foi, entretanto, resultado de uma “coincidência fortuita de comportamentos aberrantes”. Ocorreu, muito pelo contrário, porque ambos comungavam os mesmos princípios e idéias fundamentais, sedimentados por convicções pétreas, e – mais importante! – empregavam o mesmo modus operandi. É emblemático o fato – aliás, inconteste – de que tanto uma ideologia quanto a outra sempre defenderam – e nunca esconderam isso – a tese de que os fins justificam quaisquer meios.

O socialismo, segundo Revel, “não é mais ou menos de esquerda do que o nazismo”. A característica fundamental de ambos “é que seus dirigentes, convencidos de serem detentores da verdade absoluta e de comandarem o curso da história, sentem-se no direito de destruir os dissidentes, reais ou potenciais, as raças, categorias profissionais ou culturais, que lhes parecem entravar (...) a consecução de seus supremos desígnios”.

Por isso, prossegue Revel, “tentar distinguir entre os dois regimes totalitários, atribuir-lhes diferentes méritos em função do afastamento de suas superestruturas ideológicas, em vez de constatar a identidade de seus comportamentos reais é bem estranho, principalmente vindo da parte dos socialistas, que deveriam ter lido Marx um pouco melhor. Não se pode julgar, dizia ele, uma sociedade pela ideologia que lhe serve de pretexto, assim como não se julga uma pessoa pela opinião que ela tem de si mesma”.

“O próprio Adolf Hitler foi um dos primeiros a saber captar as afinidades entre o comunismo e o nacional-socialismo. Ele certamente não ignorava que uma estratégia política é julgada por seus atos e métodos e não pelos adornos de oratória ou pelos ‘pompons’ filosóficos que a cercam. Ele declara a Hermann Rauschning, que o relata em Hitler me disse, livro lançado ainda em 1939:

Aprendi muito com o marxismo e não pretendo escondê-lo (...). O que despertou interesse nos marxistas e me forneceu ensinamentos foram seus métodos. (...) Todo o nacional-socialismo está lá contido. Veja bem: os grêmios operários de ginástica, as células empreendedoras, os desfiles monumentais, os folhetos de propaganda redigidos em linguagem de fácil compreensão pelas massas. Esses novos métodos da luta política foram praticamente todos inventados pelos marxistas. Eu só precisei me apoderar deles e desenvolvê-los para conseguir assim os instrumentos de que necessitávamos...”.

Pode ser um tanto surpreendente para alguns – principalmente em virtude da habilidade com que a intelligentsia esquerdista contorce e escamoteia os fatos históricos – encontrarmos a mesma linha filosófica em Karl Marx e Adolf Hitler, contra quem, a propósito, é chocante a ingratidão dos atuais pensadores socialistas. Num livro de entrevistas de Otto Wagener, também citado por Revel, Hitler é incisivo:

“Agora que terminou a era do individualismo, nossa tarefa é encontrar o caminho que leva ao socialismo sem revolução. Marx e Lênin enxergaram perfeitamente o objetivo, mas escolheram o caminho errado”.

Se o Führer comungava com Marx a opinião sobre a necessidade de mutilar o individualismo, não é menos emblemática a convergência de ambos acerca do anti-semitismo. Num ensaio muito pouco conhecido – Sobre a Questão Judaica –, mas que Hitler certamente leu com toda atenção, a ponto de tê-lo praticamente plagiado em algumas passagens, Karl Marx desfere contra os judeus uma torrente de insultos coléricos, como estes:

“Qual é a origem profana do judaísmo? A necessidade prática, a cupidez. Qual é o culto profano do judeu? O comércio. Quem é o seu Deus? O dinheiro.”

Além disso, para o profeta, o comunismo seria “a organização social que faria desaparecer as condições para o comércio e tornaria o judeu inviável”. Vemos aí, claramente, a origem do ódio incontido – tanto de nazistas quanto de comunistas – ao povo judeu. Ódio este que, diga-se de passagem, perdura até os dias de hoje.

Judeu ou não, entretanto, é nitidamente o indivíduo, seja na ideologia nazista ou comunista, quem deve ser aniquilado. Aniquilação essa que, como ensina Revel, “é a própria aniquilação do ser humano, que nunca existiu de outra forma, que não individualmente”.

Muito embora o parentesco entre essas duas sórdidas ideologias seja incontestável sob muitos aspectos, além da ululante semelhança entre suas estruturas de poder e seus aparatos repressivos, permanece latente a recusa sistemática de qualquer paralelo entre elas. Segundo Jean-François, essa recusa peremptória, aliada à execração diária de um nazismo dito de direita, “serve de anteparo protetor contra um exame mais apurado do comunismo”. Ou ainda, nas palavras de Alain Besançon, citado por Revel: “a hipermnésia do nazismo desvia a atenção da amnésia do comunismo”.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Irmãos siameses - 1a. Parte

por João Luiz Mauad em 14 de dezembro de 2007

Resumo: O totalitarismo mais eficaz não foi aquele que fez o Mal em nome do Mal, mas o que faz o Mal em nome do Bem.

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Dia desses, tive o desprazer de assistir a trechos da propaganda gratuita do PCdoB na TV. No papel principal, atuava a bela deputada gaúcha Manuela D’Ávila. Abjurava o capitalismo, o neoliberalismo, a globalização e cantava loas ao modelo socialista – o único, segundo ela, capaz de promover a justiça social, o fim das desigualdades e blablablá. Nenhuma menção, evidentemente, aos inumeráveis crimes, atrocidades e mazelas econômicas que seu venerado sistema de organização social produziu mundo afora, durante todo o século XX.

Enquanto ouvia aquela jovem mulher gritar o indefectível festival de clichês e jargões, minha mente viajava pelo passado, numa torrente de memórias e pensamentos dispersos. Lembrei-me então, com saudade, do brilhante escritor francês Jean-François Revel, que num de seus últimos livros – A Grande Parada – traçou o mais completo paralelo que conheço entre os dois modelos totalitários que mais produziram cadáveres e mutilações em toda a história, e explicou por que, enquanto o nazismo segue sendo, com inteira justiça, demonizado por todos os homens de bem, o comunismo, que comprovadamente produziu muito mais vítimas, permanece idolatrado por uma multidão de ignorantes, ingênuos e outros tantos hipócritas.

Revel demonstrou, num trabalho magnífico de pesquisa histórica e jornalística, temperado por sua verve direta e implacável, como o revisionismo comunista encontra-se disseminado na literatura, na história, na mídia e na política, especialmente depois da queda do muro de Berlim. Além disso, mostrou de forma cruel como os próceres da esquerda – sejam filósofos, políticos, historiadores, jornalistas e intelectuais em geral – agem para criar um sem-número de teorias escapatórias para as atrocidades comunistas, a grande maioria delas propondo-se a tentar desvincular os indeléveis crimes do passado – e do presente – daquilo que apelidaram de “ideal socialista”.

Em sua magnífica obra, Revel desmonta cada um dos inúmeros sofismas e falácias da esquerda, além de demonstrar cabalmente que, malgrado a retórica rebuscada dos seus ideólogos, a realidade é que “nenhuma das justificativas apresentadas, desde 1917, a favor do comunismo, resistiu à sua aplicação; nenhum dos objetivos que ele se propunha atingir foi atingido; nem a liberdade, nem a prosperidade, nem a igualdade, nem a justiça, nem a paz”. E, no entanto, essa erva daninha talvez nunca tenha sido tão ferozmente protegida, por tantos implacáveis defensores, como após o naufrágio soviético.

“Se alguém quiser estudar um sistema mental que funcione inteiramente dissociado dos fatos e elimine imediatamente qualquer informação que contrarie sua visão de mundo”, escreve Revel, “deve estudar a mente dos comunistas. São laboratórios insuperáveis”. Alguns podem até reconhecer a existência de uns poucos fatos abomináveis, mas sempre enfatizando que tais fatos não guardam qualquer relação com a essência do comunismo. Seriam, no máximo, uma perversão do sistema, mas jamais uma decorrência dele.

A repressão em campos de concentração ou em cárceres diversos, os processos sumários e fraudulentos, os expurgos assassinos, as ondas de fome provocadas por programas estupidamente planejados e pavorosamente executados acompanharam todos os regimes socialistas, sem exceção, ao longo da história. “Seria fortuita esta associação?” – questiona o velho Revel. “Será que a verdadeira essência do comunismo reside no que jamais foi, ou nunca produziu? Que sistema é esse, que dizem ser o melhor, porém dotado dessa propriedade sobrenatural de nunca conseguir colocar em prática senão o contrário do que prega? Que linda cerejeira será essa, na qual, por um acaso incompreensível, só brotam cogumelos venenosos?”

É inútil tentar descobrir qual dos regimes totalitários do século XX foi o mais bárbaro, porque ambos impuseram a tirania, o pensamento unificado e deixaram como herança uma montanha de cadáveres. O parentesco do comunismo com o nazismo é, para a esquerda em geral, um tema sempre delicado e, como qualquer tabu, sabiamente escamoteado. Por exemplo, quando um ideólogo marxista, como Stalin, se comporta como um carrasco nazista, a explicação é simples: a culpa é do personagem e de seu caráter perverso, nunca do sistema. Stalin seria então um verdadeiro nazista, apenas fantasiado de comunista.

Para que se tenha uma idéia de como pode ser dramática a inversão de valores produzida pelos sofistas da esquerda, quase sempre valendo-se da verborragia “politicamente correta”, basta lembrar que, aos olhos da maioria do público mundo afora, os grandes vilões da atualidade, estigmatizados e vitimados pelos mais sórdidos preconceitos, somos justamente nós, os malvados anticomunistas – alguns raros e teimosos abnegados, que ainda insistem na luta para desmascarar os verdugos da liberdade e fulminar seus sórdidos subterfúgios.

Enquanto isso, do outro lado, os anjinhos comunistas desfilam sua utopia pelos palanques, pelas salas de aula, pelas redações dos jornais e pelos púlpitos das igrejas sem que quase ninguém veja aí qualquer problema. Não importa que o comunismo, com seu amontoado de trapaças ideológicas, continue matando pessoas no Tibete, na Coréia do Norte, na China ou em Cuba. Não importa tampouco que ele continue sendo uma importantíssima ferramenta nas mãos de tiranos, sempre dispostos a instalar regimes de opressão em nome da defesa dos oprimidos – como ocorre amiúde em diversos países latino-americanos.

Embora seja indelével a identidade e a afinidade, em essência, entre o comunismo e o nazismo, existe uma diferença importante a distinguir nos dois modelos. Como muito bem lembrado por Revel, “Hitler desde sempre demonstrou sua hostilidade à democracia, à liberdade de expressão e de cultura, ao pluralismo político e sindical. Além disso, nunca escondeu sua ideologia racista e (...) anti-semita. Por conseguinte, partidários e adversários do nazismo situavam-se, desde o começo, de um lado ou de outro de uma linha divisória traçada nitidamente”. Em resumo, não houve decepções com o nazismo, já que seu líder cumpriu fielmente o que prometera.

Já o comunismo é diferente, “pois emprega a dissimulação ideológica, veiculada pela utopia. Promete a abundância e provoca miséria; promete a liberdade, mas impõe a servidão; promete a igualdade e leva à mais desigual das sociedades – com a nomenklatura, classe privilegiada a tal ponto como jamais se conheceu, nem mesmo nas comunidades feudais. Ele promete ainda respeito à vida humana, mas realiza execuções em massa; promete o acesso de todos à cultura, mas leva ao embrutecimento generalizado; promete o “novo homem”, mas o fossiliza”.

O nazismo, portanto, abriu o jogo desde o início. Já o comunismo é insidioso e sempre se escondeu atrás da utopia. “Isso lhe permite satisfazer o apetite pela dominação e pela servidão sob o disfarce da generosidade e do amor à liberdade, perpetrar a desigualdade sob o manto do igualitarismo. O totalitarismo mais eficaz, portanto”, fulmina Jean-François, “... não foi aquele que fez o Mal em nome do Mal, mas o que faz o Mal em nome do Bem”.