segunda-feira, 24 de maio de 2010 | 5:33
Reinaldo Azevedo
- “Para cheirar, prefira um canudo individual a notas de dinheiro”;
- “Faça uma piteira de papel se for rolar um baseado”;
- “Compartilhe a droga, nunca o material a ser usado”…
Essas frases - empregando, inclusive, a linguagem do drogado, numa espécie de Método Paulo Freire para Cheirar e Fumar - estavam numa cartilha distribuída pelo Ministério da Saúde na Parada Gay de 2007. Trazia aquele emblema hipercolorido do governo Lula: “Brasil, Um País de Todos”. O que escrevi a respeito? Segue um trecho:
“Se o Ministério Público tiver um pouco de brios, processa os responsáveis por essa cartilha - aliás, de quebra, poderia verificar se há dinheiro público, de qualquer esfera (União, estado e cidade), e, sendo o caso, acionar também esses entes. É um acinte. Um achincalhe. Uma vigarice. Redução de danos coisa nenhuma! Isso é apologia da droga, feita de forma descarada. Apologia e estímulo ao consumo. Com que então alguém precisa ser instruído? Não precisa.”
Como dar pico na veia? O Ministério da Saúde ensina
No dia 18 de junho de 2007, denunciei que uma página de Ministério da Saúde que informava qual era o melhor lugar para tomar pico!!! O post está aqui. Tão logo meu texto foi ao ar, o do governo desapareceu da rede. Era a época em que o ministro José Gomes Temporão - o meu “preferido” depois de Celso Amorim - considerava o “Zeca-Feira” (lembram-se?) uma coisa muito perigosa. Mas o seu ministério anunciava:
PONTOS PARA INJETAR
Pontos seguros
- veias dos braços e dos antebraços
- veias das pernas
Pontos a considerar
- pés (veias pequenas, muito frágeis, injeção dolorosa)
Pontos perigosos
- pescoço
- rosto
- abdômen
- peito
- coxas
- sexo
- pulsos
Entenderam? O Ministério da Saúde considerava “seguro” injetar cocaína nas “veias dos braços, dos antebraços e das pernas”!!!
Cachimbo de crack, redução de danos e vigarices afins
Já lhes contei aqui que ONGs, em São Paulo, distribuem “cachimbos de crack” e kits para drogas injetáveis. É a chamada “política de redução de danos”, uma jabuticaba que, como política ampla de combate às drogas, só funciona - ou melhor: não funciona!!! - no Brasil. Admitindo-se que tal “método” possa levar um consumidor severo de droga a ser um consumidor moderado, é evidente que se trata de uma experiência restrita a grupos rigidamente controlados. Critiquei aqui também um estudo, feito com dinheiro oficial, que edulcorava o ecstasy. E, todos vocês sabem, oponho-me radicalmente à descriminação da maconha.
Apanhei muito. E agora?
Apanhei muito, como cão sarnento, todas as vezes em que tratei do assunto. O lobby em favor da descriminação das drogas, especialmente da maconha, é grande. Pessoas as mais capazes podem se equivocar enormemente a respeito, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. No caso do ecstasy, houve, para não variar, até abaixo-assinado de quase intelectuais!!!
Pois é… Agora o crack está aí. Não! Não é agora! Há anos o crack está aí. Agora, ele é um flagelo. Se o ecstasy é a droga dos “modernos”; se a coca é a dos endinheirados; se a maconha é a dos “cabeças”, o crack é a dos miseráveis e dos que, atenção!, se tornam miseráveis por causa dela.
Em algum grau, todas as drogas são degradantes. Mas o crack devasta a vida dos consumidores com uma rapidez espantosa. Conduz o viciado à abjeção. O índice de grávidas nesse grupo deve ser muito superior ao de qualquer outro que se estude porque desaparecem os limites. A maioria das mulheres que está nas ruas admite que se prostitui para conseguir a pedra. Estima-se, mas é chute, em 500 mil os viciados, a esmagadora maioria vagando pelas ruas com zumbis porque os laços com a família foram rompidos.
E agora?
O que fazer daquele misto de desídia e leniência com que o caso foi tratado até agora? Há coisa de três anos, pressionado a agir, o governo federal respondeu que se tratava de um problema restrito à cidade de São Paulo. Não! Já chegou a… tribos indígenas!!!
Desapareceram da imprensa os prosélitos da descriminação das drogas. Cadê o padre de passeata para discursar como monopolista dos, como é mesmo?, “moradores em situação de rua”? Sumiram todos. E o governo Lula, que se comportou com a responsabilidade com que se vê acima, lança um “plano de combate ao crack”, casado com a agenda de sua candidata, como se a política oficial não tivesse sido caracterizada, até agora, pela leniência e, às vezes, querendo ou não, pelo incentivo ao consumo.
Nem governo nem oposição pegaram essa bandeira porque, estranhamente, no Brasil, defender o combate severo, sem concessões, ao tráfico E AO CONSUMO de drogas é considerado uma coisa “de direita”. E, como sabemos, por aqui, todos são insuportavelmente progressistas.
Nessa área, o resultado de tanto “progressismo” são 500 mil vidas destruídas. E milhares de outras a elas se seguirão. E só para lembrar ainda uma vez: a questão tem um alcance que vai além do trabalho de repressão da polícia. A maior parte da cocaína que hoje entra para consumo no Brasil é destinada ao crack.
Entre 80% e 90% da coca vendida por aqui vem da Bolívia, do “companheiro” Evo Morales. Sob a sua gestão, cresceram a produção da droga e a área plantada de folha de coca — inclusive em novos campos de cultivo que ele estimulou na fronteira com o Brasil. A política de Evo facilita a entrada da droga no Brasil, mas o governo Lula reage à altura, né? Deu-lhe a Petrobrás de presente e financiamento do BNDES…
A questão é, de fato, política. Mas parece que ninguém mais quer, se me permitem o gracejo, politizar a política!
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