quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

O demônio está nos detalhes, mais uma vez

por Jeffrey Nyquist em 19 de dezembro de 2007

Resumo: A enorme riqueza gerada pela venda de narcóticos necessariamente se traduz em enormes propinas e em corrupção desenfreada. Há pessoas demais imaginando que o crescente hedonismo dos americanos não é um problema sério.

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O problema das drogas criminaliza a economia, corrompe funcionários públicos e financia o terrorismo. Eu estou absolutamente certo de que os terroristas que derrubaram as torres do World Trade Center foram financiados pelo dinheiro da droga e por outras fontes de renda ilegais.

- Hamid Karzai, Presidente do Afeganistão

O problema do terrorismo e de estados nocivos [estados ‘bandidos’] está ligado ao problema do tráfico de drogas, crime organizado, proliferação nuclear e a contínua campanha da Rússia e da China para desalojar os Estados Unidos da posição de maior potência mundial. Enquanto o dólar cai e a economia americana começa a se desarranjar, pondere se a erosão do caráter nacional está ligada ao uso recreativo de drogas – e se o uso recreativo de drogas tem sido encorajado por potências hostis.

O Ocidente se recusa a confrontar a Rússia e a China quanto ao seu uso estratégico do crime organizado, tráfico de drogas e terrorismo. Esta recusa origina-se de uma falta de vontade de confrontar a corrupção que se espalhou por todos os níveis da própria sociedade ocidental. A exigência pelo sentir-se bem progressivamente superou toda e qualquer outra coisa. Alguém pode falar sobre os nefandos traficantes e suas operações de contrabando. Mas uma sociedade inteira esteve em conluio com eles, e por décadas. Simplesmente dê uma olhada nas áreas centrais de nossas maiores cidades, ou até mesmo, em pequenas cidades e áreas rurais. A desintegração avança e nisto estão envolvidas as drogas ilegais. Os americanos atravessaram uma era de desmoronamento da autoridade e dos valores, que danificou a estrutura da família tradicional. Quantas regras não foram desprezadas e derrubadas nesses anos? E somos todos parte disso. Fomos levados juntos numa maré de lógica social que incluía as drogas. David Callahan escreveu um livro intitulado The Cheating Culture: Why More Americans Are Doing Wrong to Get Ahead [A Cultura da Trapaça]. As estatísticas sobre fraude nas escolas [a cola, entre outras modalidades] são um escândalo a céu aberto. Pensem também na corrupção nas empresas e no governo. “Quando a trapaça se torna tão difundida ao ponto em que a percepção geral é ‘todo mundo faz’, emerge um novo cálculo ético. As pessoas consideram-se em desvantagem se seguirem as regras oficiais em vez de seguir as regras reais”.

Pior ainda, pois a trapaça nos enreda no auto-engano. Isto pode incluir a justificação de uma política comercial suicida com a China, uma política de imigração suicida e a recusa em fortalecer a defesa civil. A razão para políticas nacionais suicidas é simples: cada política promove um regime de shopping center hedonista, no qual importações baratas e mão-de-obra barata superam as necessidades de cuidado e segurança de nossos filhos e netos. E todos se juntam para juntos se arranjar. Todo mundo quer passar e se dar bem. “Todo mundo está fazendo”. O hedonismo é a questão mais visível e central quando tratamos do cerne do problema dos EUA. Como nação, estamos gastando tempo demais diante da televisão, estamos comendo demais, e estamos desfrutando de drogas demais – legais e ilegais.

É preciso que haja um novo entendimento nos Estados Unidos, especialmente quando o assunto são as drogas ilegais. Aqueles americanos que fazem uso de drogas ilegais são parte do problema do terrorismo. Eles contribuem para o contínuo solapamento da segurança americana. Neguem isso o quanto quiserem, mas o dinheiro gasto em drogas recreativas vai para terroristas e cartéis criminosos estrangeiros. De acordo com Joseph D. Douglass, Jr., autor de Red Cocaine: the drugging of America and the West [Cocaína Vermelha: drogando os EUA e a Europa], Rússia e China dominam o comércio internacional de drogas; por meio disso, ganham acesso à economia e ao sistema político americanos pela porta dos fundos. O potencial para sabotagem, subversão e operações de influência política contra um país como os Estados Unidos fica assim ampliado. De acordo com o testemunho de um desertor, os russos vêm penetrando o comércio de drogas e o crime organizado há meio século. “[Na Rússia] o tráfico de drogas está, tanto quanto todas as operações de inteligência, incorporado ao processo de planejamento total”, ressalta Douglass. “O planejamento de longo prazo estabelece as prioridades e a cooperação para o desenvolvimento da ciência e produção de narcóticos e drogas. Os países alvo e sua ordem de prioridade são identificados. O planejamento [russo] de longo prazo descreve como serão desenvolvidas as redes de distribuição em diferentes países e também quando e como as suas vulnerabilidades serão exploradas. O planejamento de curto prazo é mais específico e tático. Ele especifica com quais grupos deve haver cooperação; quem são os agentes; e quais são os cronogramas de produção e distribuição”.

Atualmente, o Afeganistão fornece de 85 a 90% do ópio e heroína consumidos no mundo. Você pode apostar que Moscou está envolvida – que o fato de Moscou ter nas mãos líderes tribais afegãos chave é decisivo. Depois de tanto sangue derramado e tanto dinheiro gasto, a campanha americana no Afeganistão fracassou. Fomos derrotados. O mesmo processo vem avançando na América Latina por muitos anos. Pense no avanço do comunismo na Colômbia e na Bolívia. Tudo tem a ver com as drogas, crime organizado e terrorismo. E o gosto americano por drogas dá combustível ao avanço do inimigo. Os Estados Unidos são incapazes de conter o fluxo de ópio do Afeganistão e de cocaína da Colômbia justamente porque os Estados Unidos são os maiores consumidores de drogas ilícitas do mundo.

E os nossos estrategistas compreendem o que está acontecendo? Será que os nossos estrategistas percebem que a “cultura da trapaça” progressivamente leva à derrota nacional e à destruição da Civilização Ocidental? A enorme riqueza gerada pela venda de narcóticos necessariamente se traduz em enormes propinas e em corrupção desenfreada. Há pessoas demais imaginando que o crescente hedonismo dos americanos não é um problema sério. Alguém parou para pensar que o hedonismo se relaciona com o problema do controle das fronteiras? É um problema de corrupção governamental, mas é também, e por conseqüência, um problema de chantagem – pois funcionários que recebem propinas estão também sujeitos a chantagem.

O pessoal que está com raiva das companhias de petróleo precisa desviar um pouco dessa raiva na direção dos traficantes e drogados. Se você usa drogas ilícitas, está enriquecendo criminosos que disseminarão corrupção na polícia, nos conselhos municipais, nas administrações estaduais, até chegar aos deputados e senadores. Ainda que o seu trivial hábito de fumar maconha não lhe faça engordar, nem lhe deixe preguiçoso ou estúpido, a sua escolha contribui para o esfacelamento da nação. Pense em quem faz a lavagem do dinheiro das drogas, em quem fica sujo e sujeito ao controle de criminosos (a propósito, o controle é exercido por agentes de inteligência estrangeiros e hostis).

Eu certa vez perguntei a um desertor russo, do alto-escalão, como os militares russos planejavam contrabandear armas de destruição em massa para dentro dos Estados Unidos, como prelúdio a uma III Guerra Mundial. Ele disse, “[A] o longo das mesmas rotas usadas pelos traficantes de drogas.”

Nosso problema estratégico está ligado ao nosso problema das drogas.

[*] NT: The devil is in the details, referente ao título do artigo, é expressão idiomática que significa: a atenção aos pequenos detalhes pode determinar a solução dos grandes problemas, ou, que detalhes não resolvidos são a causa dos grandes problemas.

© 2007 Jeffrey R. Nyquist

Publicado por Financialsense.com

Tradução: MSM

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