Mídia Sem Máscara
| 08 Dezembro 2011
Media Watch - Outros
A tese de que a CIA teve participação ativa no movimento contrarrevolucionário de 31 de março de 1964 é pouco mais do que esquizofrênica. A ação dos militares foi uma resposta firme ao autêntico pedido de intervenção que partiu justamente do povo, como evidencia a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade".
“As Ações da CIA no Brasil” é o título da reportagem da última edição revista Época que, conforme prometido pela revista, baseia-se em microfilmagens de documentos confidenciais do Centro de Informação da Marinha (Cenimar). A reportagem, seguindo a linha das matérias publicadas na edição anterior da revista, mantém a diretriz de propaganda esquerdista e de ruminação das mesmas especulações e invencionices que foram (e ainda têm sido) propaladas por aqueles que participaram das atividades de subversão. Mais uma vez, a linguagem utilizada pela reportagem recorre, consciente ou inconscientemente, àqueles ditames preconizados pela cartilha de propaganda marxista.
A matéria publicada pela revista Época inicia-se de maneira quase escandalosa (grifos meus):
Os arquivos secretos da Marinha obtidos com exclusividade por ÉPOCA ajudam a entender a nebulosa relação dos governos militares brasileiros com a agência de espionagem americana. Esta segunda reportagem sobre o conteúdo de mais de 2 mil páginas produzidas pelo Centro de Informação da Marinha (Cenimar) torna públicos, pela primeira vez, documentos da ditadura que comprovam o envolvimento direto de agentes da CIA em fatos ocorridos no Brasil antes e depois do golpe de 31 de março. Nos arquivos do Cenimar, a que ÉPOCA teve acesso, aparecem descritos dois casos de aliciamento de militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o “Partidão”, pela CIA. Um deles, um ano antes da tomada do poder pelos militares, informação que reforça a tese de envolvimento da CIA na preparação do golpe de 1964. Em março de 1963, segundo os documentos, Manoel dos Santos Guerra Júnior, o Guerrinha, militava no PCB quando recebeu a visita de um estrangeiro. De acordo com a versão documentada pelo Cenimar, o desconhecido falava com sotaque e se apresentou como agente da CIA. Sem fazer cerimônias, convidou o dono da casa para trabalhar como informante remunerado da agência americana.
O próprio tom sensacionalista da reportagem é algo que beira o asqueroso. A reportagem baseia-se, como descrito acima, em dois supostos casos concretos em que o serviço de inteligência dos Estados Unidos obteve a cooperação de militantes do Partido Comunista Brasileiro. Qualquer pessoa que não esteja familiarizada com os fatos sobre a atividade comunista no Brasil poderá pensar que a ação da CIA é uma prova contundente de que a Revolução de 1964 foi orquestrada pelo governo norte-americano e ocorreu como forma de assegurar os “interesses imperialistas ianques” no País. Apesar de mencionar que “espiões infiltrados em governos, partidos e grupos armados tiveram participação determinante em muitos fatos históricos daquele período”, a revista convenientemente se esqueceu de mencionar a atuação do serviço secreto soviético e de agentes infiltrados da Internacional Comunista em território brasileiro – uma atuação que precedeu em cerca de 30 anos a Revolução de 1964.
O relatório conhecido como Projeto Orvil (“livro” ao contrário), coordenado pelo Gen. Div. Agnaldo Del Nero Augusto (que então ocupava o posto de coronel), assim relata o início da infiltração de agentes comunistas estrangeiros no País (p. 15):
No início de 1934, chegou ao Brasil o ex-deputado alemão Arthur Ernsf Ewert, mais conhecido com “Harry Berger”. Tendo atuado nos Estados Unidos, a soldo de Moscou, Berger veio acompanhado de sua mulher, a comunista alemã Elise Saborowski, que entrou no País com o nome falso de Machla Lenczycki. Berger acreditava que a revolução comunista teria início com a criação de uma “vasta frente popular antiimperialista”, composta por operários, camponeses e uma parcela da burguesia nacionalista. A ação de derrubada do governo seria efetuada pelas “partes revolucionárias infiltradas no Exército” e pelos “operários e camponeses articulados em formações armadas”, embrião de um futuro “Exército Revolucionário do Povo”. O governo a ser instituído seria um “Governo Popular Nacional Revolucionário”, com [Luís Carlos] Prestes a frente
O mirabolante plano de Berger, tirado dos compêndios doutrinários do marxismo-leninismo, não levava em conta, apenas, um pequenino detalhe: a política brasileira, aquinhoada com uma nova Constituição de fundo liberal e populista, estava cansada dos mais de 10 anos de crise e ansiava por um pouco de paz e estabilidade.
Outros agitadores profissionais vieram para o Brasil, a mando de Moscou, durante o ano de 1934. Rodolfo Ghioldi e Carmen, um casal de argentinos, vieram como jornalistas. Ghioldi, na realidade, pertencia ao Comitê Executivo da IC [Internacional Comunista], era dirigente do PC argentino e escondia-se sob o nome falso de “Luciano Busteros”. O casal León-Jules Valée e Alphonsine veio da Bélgica para cuidar das finanças. A esposa de Augusto Guralsk, secretário do Bureau Sul-Americano que a IC mantinha em Montevidéu veio para dar instrução aos quadros do PC-SBIC [Partido Comunista – Seção Brasileira da Internacional Comunista]. Para comunicar-se clandestinamente com o grupo, foi enviado um jovem comunista norte-americano, Victor Allen Barron. O especialista em sabotagens e explosivos não foi esquecido: Paul Franz Gruber, alemão, veio com sua mulher, Erika, que poderia servir como motorista e datilógrafa.
O PC-SBIC, atual Partido Comunista do Brasil (PC do B), foi fundado em 25 de março de 1922 e propugnava “a agitação permanente e a tese da derrubada revolucionária das estruturas vigentes, renegava as regras de convivência da sociedade brasileira, propunha-se a realizar atividades legais e ilegais e subordinava-se às Repúblicas Socialistas Soviéticas”. Desde o começo, um dos pontos de atuação mais sensíveis do PC-SBIC foi a infiltração nas Forças Armadas: “A atuação de militares no Partido, como Maurício Grabois, Jefferson Cardin, Giocondo Dias, Gregório Bezerra, Agliberto Vieira, Dinarco Reis, Agildo Barata e o próprio Prestes, são exemplos desse trabalho de infiltração e recrutamento” (p. 12-13).
O relato de um dos casos de suposto “aliciamento” da CIA de Adaulto Alves dos Santos (conhecido também como “Alcindo” e “Carlos”), militante do PCB e um dos responsáveis pela gestão dos contatos internacionais do Partidão. Quanto às declarações de Adaulto ao Jornal do Brasil, em dezembro de 1972, a reportagem afirma que “a entrevista foi arquitetada com a participação da CIA”. Reparem: arquitetada. Isso quer dizer que, então, a entrevista não passou de um embuste, uma farsa organizada pelos malvados militares e os mais-que-malvados agentes secretos imperialistas estadunidenses. Será?
Não é em absoluto chocante saber que a Central Intelligence Agency atuou no Brasil. Afinal, a ação comunista no País, construída desde os anos 1920, era a maior rede revolucionária em operação na América Latina, que contava com financiamento, suporte militar e apoio político ativo não apenas da União Soviética, mas também de outros governos – como Cuba, China, Coréia do Norte, Argélia e Chile. Também não é absolutamente chocante saber que a CIA atuava de forma estreita com os serviços de informação brasileiros, uma vez que o objetivo era um só: monitoramento e combate de atividades criminosas, totalmente desprovidas de legitimidade e ausentes de qualquer apoio popular, promovidas por grupos políticos que objetivavam a instalação de um regime totalitário comunista no Brasil. Essa linha é diametralmente oposta à da KGB, que buscava auxiliar esses grupos na promoção de atentados terroristas, seqüestros, assaltos e assassinatos como forma de instalar o caos e, assim, pavimentar o caminho para a sublevação marxista.
Outro ponto que precisa ser esclarecido: a tese de que a CIA teve participação ativa no movimento contrarrevolucionário de 31 de março de 1964 é pouco mais do que esquizofrênica. A ação dos militares foi uma resposta firme ao autêntico pedido de intervenção que partiu justamente do povo, como evidencia a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade".
É preciso saber o contexto exato em que as declarações de “Carlos” foram publicadas no Jornal do Brasil. Em fins de novembro, o Jornal do Brasil publicou o relato de uma jovem chamada Judite Fasolini Zanatta em que foi revelada a infiltração dos comunistas na Igreja Católica. Judite relatou como foi utilizada por infiltrados na Universidade Católica de Louvain, Bélgica. Assim consta no relatório Orvil:
A denúncia de Judite fez com que, uma semana depois, um militante do PCB, Adaulto Alves dos Santos (“Carlos” ou “Arlindo”), viesse ao mesmo Jornal do Brasil, denunciar, segundo suas palavras “com nomes, fatos e locais, toda a trama comunista em relação ao Brasil, bem como todas as maquinações do Movimento Comunista Internacional”. Adaulto, conforme narrou ao repórter, 20 anos depois descobriu que o PCB “é um antro de intrigas e vaidades, com gente de boa e má fé, teóricos e aproveitadores, sobretudo aproveitadores”. Jornalista profissional, trabalhou em jornais do Rio de Janeiro e Minas Gerais, mas o jornalismo era apenas sua” frente legal”, pois nos últimos 20 anos fora um profissional do Partido e há 12 anos atuava na área internacional, fazendo contatos com os Partidos Comunistas estrangeiros e com agentes da KGB.
Adaulto revelou, efetivamente, a organização das Seções de Relações Exteriores, de Agitação e Propaganda, de Educação, de Organizações e de Negócios do PCB. Revelou os aparelhos do Partido no exterior e o apoio dado pelos soviéticos na formação de quadros, através da Escola de Quadros Profissionais de Moscou e da Universidade Patrice Lumumba. Explicou o mecanismo de troca de informações e de recebimento de verbas (dólares) e material de propaganda. Denunciou o trabalho militar, denominação dada principalmente ao esforço de infiltração Forças Armadas, dirigido por Dinarco Reis e a tática do Partido em relação à Igreja Católica. Com relação a esse último aspecto declarou: “o objetivo em relação a ela é utilizá-la em toda a sua estrutura e como um todo, e não apenas os chamados 'progressistas' (como vinha sendo feito anteriormente), aproveitando ao máximo os canais de penetração tradicionais, para com a fachada cristã, difundir, sorrateiramente, o comunismo. Por exemplo: não interessa aos soviéticos se D. Helder Câmara é comunista ou não. O que importa é que ele serve aos propósitos do comunismo”.
De acordo com a reportagem da Época, “Alcindo” informou que dois agentes da KGB, Nikolai Blagushin e Victor Yemelin, trabalhavam intimamente com a cúpula do PCB. Nikolai Blagushin faz parte da lista de agentes da KGB levada a público por John Barron, ex-oficial de inteligência dos Estados Unidos, em seu livro “KGB Today”, de 1983. Quanto a Victor Yemelin, sua identidade ainda não foi esclarecida. Entretanto, documentos oriundos de atividades de vigilância da CIA fazem referência a um certo “General-Mayor V. Yemelin”, estrategista militar que compunha o setor de inteligência do Ministério da Defesa da URSS.
Pelo visto, a revista Época está realmente comprometida com a deturpação esquerdóide dos fatos. De nossa parte – ou seja, daqueles que realmente desejam que a verdade sobre a Revolução de 1964 não seja sufocada –, o que podemos fazer é contestar publicamente os despautérios maquinados e martelados ad nauseam pelo vulgacho revolucionário.
Felipe Melo edita o blog da Juventude Conservadora da UNB.
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