Mídia Sem Máscara
| 01 Outubro 2009
Media Watch - O Estado de São Paulo
O governo Lula não cometeu erro algum, mas se associou de caso pensado numa empreitada fadada ao fracasso tão somente em nome de seus princípios revolucionários. Chamar isso de erro é minimizar o que se sucedeu. Estamos diante da partidarização da política externa do Estado, algo sem registro na história do Brasil. Terá sido o primeiro gesto explicitamente imperialista desde a fundação.
O editorial da edição de ontem (30) do Estadão (Única saída para o Brasil) só não é mais sonso e mentiroso, ao abordar o papelão Brasileiro na crise de Honduras, porque impossível. Rememoremos: Zelaya voltou a Honduras amparado pelos meios operacionais fornecidos por Hugo Chávez, com pleno apoio, concordância e conhecimento prévio do governo brasileiro. Toda a gente sabe que Zelaya não voltou a Honduras para fazer turismo, mas para fazer uma revolução bolivariana. Desde os primórdios estava configurada uma aventura quixotesca, experimental, um jogo ridículo em que o Zelaya entra com o papel de palhaço (e o risco pessoal) e seus amigos do Foro de São Paulo entram com o apoio internacional. O objetivo, além de restabelecer o "companheiro" ao poder, era exercitar o poder de império dos diversos governos filiados ao Foro de São Paulo.
No primeiro momento o governo Obama assentiu. Com o passar dos dias, ficou claro o perigo que é a quebra de uma ordem política. Mesmo Obama teve que recuar e declarar a necessidade de ordem, em face dos interesses estratégicos dos EUA. Foi uma baixa considerável para as forças insurrecionais. Zelaya agora só conta com o apoio estrito do Foro de São Paulo, insuficiente para levar a cabo seus propósitos. A decisão de Washington selou o desfecho previsível.
Desde o início o governo Lula tem sido mais que cúmplice, tem sido arquiteto e incentivador da aventura de Zelaya. Mas o editorialista estadônico não vê assim. Escreveu: "Desde que o presidente deposto Manuel Zelaya entrou no recinto ocupado pela embaixada brasileira durante seu governo, como hóspede e não como asilado político, ninguém consegue impedir que ele faça das antigas instalações diplomáticas uma 'plataforma política da insurreição'. Ao receber Zelaya, naquelas condições, o governo brasileiro, que não mantém relações com o atual governo, já cometeu um grave erro diplomático, pois não se tratava de um político proscrito que buscava refúgio para escapar da perseguição de seus adversários, mas de um presidente deposto e expatriado que voltava a seu país clandestinamente".
O governo Lula não cometeu erro algum, mas se associou de caso pensado numa empreitada fadada ao fracasso tão somente em nome de seus princípios revolucionários. Chamar isso de erro é minimizar o que se sucedeu. Estamos diante da partidarização da política externa do Estado, algo sem registro na história do Brasil. Terá sido o primeiro gesto explicitamente imperialista desde a fundação. Falar em erro é contribuir para desconversar, para confudir o público leitor, para minimizar a responsabilidade de Lula diante do episódio.
Na mesma toada, o editorialista escreveu: "O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o chanceler Celso Amorim, mais de uma vez, pediram a Zelaya que se abstivesse de fazer a propaganda da insurreição enquanto estivesse no recinto da antiga embaixada. Não foram atendidos. No sábado, obedecendo a instruções estritas, o diplomata Lineu Pupo de Paula voltou a transmitir a Zelaya o pedido do governo brasileiro para não fazer da antiga embaixada uma central de agitação política. Mais uma vez não houve resposta".
Ora, se a diplomacia tinha perfeita clareza de que Zelaya tinha um único propósito na sua viagem - instaurar a insurreição - e que o único território disponibilziado a ele seria a própria embaixada, a conclusão se impõe: o Estadão mente para ocultar o fato óbvio de que o Brasil virou sócio da subversão em Honduras e autorizou previamente todos os movimentos insurrecionais no seu território. Não há ginástica verbal que possa impedir a visão desse fato cristalino. Continua o raciocíno: "Manuel Zelaya é o hóspede inconveniente que se comporta como dono da casa. Ali ele dispõe de tamanha liberdade de ação que lhe permite fomentar uma insurreição política de dentro dela, já que o governo que o depôs ainda respeita o recinto como sede de uma missão diplomática". Faz porque o próprio dono da casa mandou fazer, simples".
Conclui o texto dizendo que "A única saída digna para o governo brasileiro da armadilha em que se meteu parece ser a concessão de asilo a Zelaya em território nacional". Talvez Hugo Chávez não permita a Lula o privilégio de oferecer o asilo político. Haverá de querer ter mais próximo de si o aventureiro do chapéu branco.
Meu caro leitor, é notavelmente insalúbre e desagradável ler um jornal tão mentiroso. Deveres do ofício.
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