sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Primores de ternura - 2

Mídia Sem Máscara

O desarmamento da população civil, a criminalização fácil das ações policiais mais corriqueiras, a leniência proposital para com os delinquentes juvenis, a tolerância ou mesmo incentivo à violência nas escolas - tudo isso converge com a estratégia do movimento revolucionário no empenho de demolir as defesas da sociedade por meio da criminalidade triunfante.

Nos anos 50-60, a união simbiótica de revolução e crime passou por um upgrade formidável, deixando de ser apenas uma prática consagrada e objeto de exortações retóricas e tornando-se alvo de teorização sistemática por parte dos pensadores marxistas, especialmente da Escola de Frankfurt. Segundo Herbert Marcuse, o mais popular desses autores na época e queridinho da grande mídia americana, o proletariado industrial já não servia como classe revolucionária, corrompido pelas benesses do capitalismo. Em vez de tirar desse óbvio desmentido dos prognósticos de Marx, quanto à miséria crescente dos trabalhadores no livre mercado, a conclusão lógica de que o marxismo não servia para grande coisa, Marcuse achou que podia consertar a teoria buscando uma nova classe revolucionária, definida não pela desvantagem econômica, mas por qualquer tipo de frustração psicológica. Em vez de uma, descobriu três: (1) os intelectuais e estudantes, sempre revoltados contra uma sociedade que não lhes dá toda a importância que julgam merecer; (2) todos os insatisfeitos com qualquer coisa - esposas mal amadas, gays enfezados com a empáfia masculina, crianças rebeldes à autoridade paterna, etc.; (3) os marginais em geral: prostitutas, viciados, assassinos, estupradores e tutti quanti. Eram essas pessoas maravilhosas, e não os proletários, que tinham de ser organizadas para corromper o "sistema", enfraquecê-lo e destruí-lo por dentro. A influência de Marcuse, fundindo-se às propostas de "revolução cultural" inspiradas em Antonio Gramsci, foi tão vasta e profunda que hoje o marcusismo em ação já nem aparece associado ao nome de seu inventor: tornou-se o modo de ser natural e universal do movimento revolucionário por toda parte.

No Brasil, a íntima colaboração entre a esquerda revolucionária e o banditismo, da qual já se viam amostras esporádicas desde os anos 30, começou a existir de forma mais organizada durante o regime militar, quando terroristas adestrados em Cuba, na Coréia do Norte e na China passaram a transmitir seus conhecimentos de estratégia e tática da guerrilha urbana aos delinquentes comuns com os quais compartilhavam o espaço no Presídio da Ilha Grande, RJ. Foi daí que nasceram as mega-organizações criminosas, o Comando Vermelho e o PCC. A esperança que inspirou a sua fundação não foi decepcionada. Em poucos anos, o guru do narcotráfico carioca, William Lima da Silva, o "Professor", podia se gabar de haver superado seus mestres:

"Conseguimos aquilo que a guerrilha não conseguiu: o apoio da população carente. Vou aos morros e vejo crianças com disposição, fumando e vendendo baseado. Futuramente, serão três milhões de adolescentes, que matarão vocês nas esquinas. Já pensou o que serão três milhões de adolescentes e dez milhões de desempregados em armas?"

O recorde anual de homicídios no Brasil, entre 40 e 50 mil, segundo a ONU, e o crescimento acelerado do consumo de drogas no País - enquanto diminui nos países em torno - mostram que a segunda expectativa também não foi totalmente frustrada.

Mais tarde, os terroristas subiram na vida, tornaram-se deputados, senadores, desembargadores, ministros de Estado, tendo de afastar-se dos antigos companheiros de presídio. Estes não ficaram, porém, desprovidos de instrutores capacitados. A criação do Foro de São Paulo, iniciativa de terroristas aposentados, facilitou os contatos entre agentes das Farc e as quadrillhas de narcotraficantes brasileiros - especialmente do PCC -, dos quais logo se tornaram mentores, estrategistas e sócios. Foi o que demonstrou o juiz federal Odilon de Oliveira, de Ponta Porã, MS, pagando por essa ousadia o preço de ter de viver escondido, como se fosse ele o maior dos delinquentes (v. http://www.eagora.org.br/arquivo/Farc-ensina-seqestro-a-PCC-e-CV-afirma-juiz/ e sobretudo http://odilon.telmeworlds.sg/), enquanto os homens das Farc transitam livremente pelo País, têm a proteção da militância esquerdista em caso de prisão e até são recebidos como hóspedes de honra por altos próceres petistas. (O secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, diz que as Farc não pertencem ao Foro de São Paulo. Ele mente e sabe que mente. Dezenove anos de documentos oficiais do Foro provam isso acima de qualquer possibilidade de dúvida.)

Mesmo apoiada pela mais vasta e permanente campanha de mutação cultural, a articulação direta de bandidos e revolucionários não seria suficiente para produzir seus efeitos se, ao mesmo tempo, a própria estrutura jurídico-policial do Estado não fosse submetida a alterações destinadas a dificultar a atividade repressiva, fornecendo aos delinquentes todas as vantagens na luta contra a sociedade. O desarmamento da população civil, a criminalização fácil das ações policiais mais corriqueiras, a leniência proposital para com os delinquentes juvenis, a tolerância ou mesmo incentivo à violência nas escolas - tudo isso converge com a estratégia do movimento revolucionário no empenho de demolir as defesas da sociedade por meio da criminalidade triunfante.

O auxílio-reclusão - ou "Bolsa-Bandido", como o povo prefere chamá-lo - não tem nada de extravagante ou surpreendente. É mais uma expressão da "imensa ternura para com os ferozes", o sentimento mais profundo e permanente da religião revolucionária, que de há muito deixou de ser só um estado de alma e se transformou em temível instrumento de ação prática.

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