19/10
A verdade sufocada
Pela editoria do site www.averdadesufocada.com
Duas semanas depois de ser escolhida para sediar as Olímpiadas de 2016, o Rio de Janeiro surpreende o mundo. Os principais jornais internacionais, fazendo alusões à "Cidade das Olimpíadas 2016", noticiaram a queda de um helicóptero da PM, no Morro dos Macacos, Zona Norte da cidade, atingido por tiros dos criminosos, sua explosão , a morte de dois policiais carbonizados - Edney Canazaro de Oliveira e Marcos Stadler Macedo -, e dois gravemente feridos. Uma onda de violência e terrorismo, provocada pelo confronto entre facções rivais que travavam batalha pelo controle de pontos de vendas de drogas no Morro dos Macacos e São João, na Zona Norte da cidade, aterrorizou o Brasil. Os moradores da região foram surpreendidos, se é que ainda se surpreendem, por volta de 1 hora, com os tiros que partiam de todas as direções.
A Policia cercou as entradas dos morros e começou o combate às duas facções.
Após uma hora do início da ação, o helicóptero utilizado pelos policiais foi alvejado a tiros disparados por traficantes, de acordo com a PM. O helicóptero abatido havia acabado de socorrer um policial baleado no morro, tinha ido abastecer e estava a caminho de um segundo resgate.
O piloto, mesmo após ter o veículo atingido, com a aeronave pegando fogo, conseguiu fazer um pouso forçado em um campo da Vila Olímpica de Sampaio, evitando um desatre maior. No momento em que foi atingido sobrevoava região densamente povoada. Infelizmente o helicóptero explodiu ao tocar o solo. Dos seis ocupantes, dois morreram carbonizados dentro do helicóptero e quatro foram encaminhados ao hospital de Andaraí.
O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame afirmou que, entre as armas suspeitas de derrubar o helicóptero da PM, no sábado , estão um fuzil 7.62, uma metralhadora calibre 30 ou uma metralhadora calibre 50. A polícia ainda investiga o calibre da arma que abateu o helicóptero. No entanto, ele defendeu que a aeronave era resistente e permitiu ao piloto executar um pouso em “área segura”, apesar de ter explodido.. A aeronave era parcialmente blindada.
Os bandidos podem ter usado uma metralhadora .30 para derrubar o helicóptero do GAM. Segundo O Globo, essa hipótese é reforçada pelo grande numero de apreensões desse tipo de armamento - somente nos primeiros sete meses de 2008 nove metralhadoras .30 foram recolhidas com traficantes do Rio -, informação revelada a partir de estatística da Polícia Civil. Duas estavam com traficantes do Complexo do Alemão, em Ramos. A facção que invadiu o Morro dos Macacos, no fim de semana domina essa região.
Entre os modelos de metralhadora .30 (7,92 x 57mm) apreendidos figura uma, fabricada na antiga República da Tchecoslováquia, com capacidade de tiro capaz de derrubar até um helicóptero. Armas de guerra de uso restrito a militares teriam sido desviadas de quartéis do exército boliviano. Balas disparadas por essas armas podem atingir um alvo a 1.500 metros de distância. Sua precisão é maior do que os tiros de fuzis: uma metralhadora .30 pode disparar mais de 50 tiros, automaticamente.
O helicoptero , modelo Esquilo, do Grupamento Aéreo Marítimo da PM , também pode ter sido derrubado por um disparo de munição antiaérea, o que será verificado pelo resultado das análises dos peritos. O uso de um lança-rojão pelos traficantes para derrubar o helicóptero é pouco provável, segundo o Secretário de Segurança, José Maria Beltrame, pois as consequências do emprego da arma teriam sido bem maiores.
A polícia atribuiu aos criminosos que invadiram o Morro dos Macacos outras ações, como o incêndio de pelo menos 10 ônibus e de duas escolas . O objetivo seria desviar a atenção dos policiais da disputa que ocorria no Morro dos Macacos.
Líderes da facção criminosa Comando Vermelho, presos no presídio federal de Catanduvas/ PR teriam dado a ordem de ataque no Rio e um dos idealizadores da invasão seria Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, outro seria Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, que cumpre pena na Penitenciária de Campo Grande/MS.
Não seria a primeira vez que integrantes de facções criminosas do Rio, presos, dão órdens para ações criminosas na cidade. Marcinho VP e Elias Maluco, planejaram as execuções do Diretor do Presídio de Segurança Máxima Bangu 3 e de Tota, chefe do tráfego no Complexo do Alemão , no ano passado.
A polícia acredita .que o traficante Alexander Mendes da Silva, o Polegar, que fugiu recentemente da prisão, possa ter participado da invasão. Ele havia conseguido progressão do regime fechado para o aberto.
Depois de uma das demonstrações mais impressionantes do poder de fogo do tráfico no Rio de Janeiro, o governo do estado deflagrou uma ofensiva para conter a guerra entre facções criminosas. Já na noite do último sábado dois mil homens das polícias civil e militar foram deslocados para os locais de conflito, na zona norte da capital carioca.
A operação montada pela Polícia Militar do Rio de Janeiro em razão do confronto entre traficantes de morros da zona norte da cidade prendeu, até às 20h30 deste sábado, um homem conhecido como Lacoste, suspeito de gerenciar o tráfico de drogas em Manguinhos.
Além do suspeito, a polícia apreendeu 20 kg de maconha, seis fuzis, uma carabina calibre 30, duas pistolas calibre 40, 630 munições 7mm, 20 munições 5.56mm e 800 munições calibre 40. Quatro motos e oito carros foram recuperados.
Os policiais cercaram o morro dos Macacos, a favela de São João, de onde teriam partido os traficantes, e a localidade de São Carlos. Conforme a PM, moradores dessa última favela seriam aliados aos criminosos de São Paulo e teriam apoiado a invasão ao morro dos Macacos.
Por causa dos ataques na cidade, o governo federal liberou uma verba de R$ 100 milhões para o governo do Estado para a compra de um helicóptero blindado. Ele vai substituir o que explodiu no sábado, que não tinha blindagem. O presidente Lula prometeu ao governador liberar mais R$ 100 milhões para reforçar a segurança no Rio nos próximos seis meses. Depois da casa arrombada... .
.Durante o domingo subiu para 19 o número de vítimas da onda de violência que abateu a cidade no fim de semana. Segundo o último boletim, dois policiais, 14 criminosos e três moradores das comunidades teriam perdido a vida por conta dos confrontos. Ontem, quatro pessoas foram presas durante uma ação do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) no Jacarezinho. Ao final da operação, 300 quilos de maconha foram apreendidos.
Ontem, policiais militares e bombeiros anunciaram uma recompensa de R$10 mil por informações que levem à captura dos traficantes que derrubaram o helicóptero da PM.
O presidente da Assinap - Associação de Policiais e Bombeiros -, Miguel Cordeiro, aproveitou para protestar contra as condições em que trabalham os policiais. Em um manifesto distribuído, a Associação pede melhores condições de trabalho, salários e equipamentos de proteção.
A inteligência da PM disse que já sabia que o Morro dos Macacos seria invadido por traficantes rivais, a informação foi dada em entrevista coletiva do secretário de Segurança Pública, José Maria Beltrame. Segundo ele, policiais foram deslocados para a entrada principal do morro, mas como a área é muito grande, não teria sido possível monitorar todo o espaço.
Sérgio Cabral, recusou uma intervenção imediata da Força Nacional para auxiliar o combate à onda de violência que deixou estarrecidos os cariocas durante o fim de semana.
Em entrevista, Cabral afirmou que a política de segurança pública não vai mudar. “Já tomamos as medidas necessárias para reagir a esse tipo de organização criminosa. Temos que ter uma luta permanente luta contra o crime. Vamos continuar nessa linha. Não muda nada, continua a mesma política”, disse.
Policiais também ocupavam o Morro dos Macacos à procura de traficantes do Comando Vermelho que, segundo denúncias de moradores, ainda estariam escondidos na comunidade, controlada por outra facção, a ADA (Amigos dos Amigos).
Segundo especialistas em Segurança Pública, a Secretaria de Segurança deveria ter um esquadrão completo, formado por seis unidades, duas das quais equipadas com sistemas de visão noturna e sensoriamento térmico. Sem isso, expõe os agentes a risco e reduz a eficiência da ferramenta.
O emprego das Forças Armadas, sob a justificativa de uma eventual militarização do conflito, não traria benefícios. Entre 1994 e 2006, tropas subiram morros e ocuparam favelas oito vezes. De acordo com um oficial do Exército, hoje na reserva, foi uma espécie de coreografia: "O soldado sobe e o bandido desce." Há pouco mais de três anos 1.600 homens isolaram nove bairros com a missão de recuperar dez fuzis e uma pistola roubados de um quartel.
A Força não se limitou à busca. Tratou de mapear as áreas e coletar dados logísticos. Nunca mais parou de expandir a inteligência no setor. Nos anos 80 já havia feito isso, com a PF, durante a Operação Mosaico. Foram localizados oito núcleos do comando do crime e definida uma ação conjunta de forças especiais para extrair os chefões de seus abrigos e destruir sua infraestrutura. O então presidente José Sarney não autorizou a intervenção. A situação em 2009 seria muito diferente.
A sensação de insegurança na capital carioca não se restringe às zonas de conflito. Na madrugada de ontem o coordenador da Equipe Técnica Social do grupo cultural Afroreggae, Evandro João Silva, foi assassinado por assaltantes, no centro do Rio de Janeiro.
Silva estava dentro do carro quando foi abordado por dois homens. Os assaltantes levaram o tênis, o celular e a carteira de Silva e dispararam uma vez contra ele. Segundo testemunhas, Evandro chegou a pedir socorro, mas morreu enquanto aguardava o resgate. O corpo do ativista foi levado para o IML (Instituto Médico-Legal) e o carro foi encaminhado para perícia. A investigação do caso será conduzida pelo 1º DP (Praça Mauá).
A apreensão de fuzis calibre .30 em São Paulo e Rio de Janeiro tem mostrado que o tráfico de armas está utilizando outras rotas para chegar ao Brasil. O armamento pesado, que é capaz de derrubar aviões, foi desviado do exército da Bolívia. O país e o Paraguai são alternativas a mais para o crime organizado. Segundo autoridades brasileiras só este ano, outros 20 armas desse tipo entraram pela fronteira, especialmente, por Mato Grosso do Sul.
Com a migração de grupos colombianos, a Bolívia tem sido uma preocupação para a polícia brasileira, com o avanço do tráfico de cocaína e armas.Com a apreensão de armas pesadas e muita droga, a vigilância terá que ser aumentada. Devido a extensão de nossas fronteiras, Mato Grosso do Sul , principalmente na região de Corumbá, onde a entrada de bolivianos e brasileiros é grande, torna-se necessário um controle maior do fluxo de pessoas e automáticamente de contrabando de armas e drogas.
Desde o início do ano as políciais Civil e Federal no Rio já tinham suspeitas de que a nova porta de entrada das armas seria Puerto Suarez, na Bolívia, cidade que faz fronteira com Corumbá (MS).
Os dois policiais que morreram no sábado foram enterrados ontem . Mais de mil pessoas acompanharam as cerimônias.
Emocionada, Rosa Maria Barbosa, tia do soldado Edney, desabafou:
- Um menino novo, que entrou para a polícia almejando uma carreira bonita e que acaba assim por descaso do governo. Existe verba para Olimpíadas, Copa. Agora, para equipar a polícia, dar vida digna aos que estão trabalhando para a segurança do povo, não. Eles dão helicóptero sem ser blindado e mandam o policial dar a cara para morrer. Até quando?
Na capela ao lado era velado o corpo do soldado Marcos Stadler Macedo. Ele tinha 39 anos.
Segundo o tio do rapaz, Paulo Stadler, o soldado perdeu uma tia, vítima de bala perdida, anos atrás. Marcos tinha uma filha de 2 anos, morava na Taquara e estava fazendo curso para piloto de helicóptero.
Os dois policiais foram sepultados ao som do hino da corporação, executado pela banda da PM. Num cartaz, a letra da Canção do Policial Militar: "Ser policial é sobretudo uma razão de ser, é enfrentar a morte, mostrar-se um forte no que acontecer".
Ao fim do sepultamento, o cabo Daniel da Cruz, colega de Marcos e Edney no GAM, lembrou que eles sempre rezavam juntos antes das operações:
- Eram pessoas que botavam a gente para cima. Nosso sentimento não é de vingar a morte deles. Mas tenho uma filha de 6 anos e quero um Rio de paz. Para quem vem de fora não ficar achando que isso aqui é só pornografia e violência.
Perguntado se tinha medo, o policial respondeu:
- O medo faz parte da profissão. Se eu não tiver posso morrer. Mas tem que ser controlado. O medo descontrolado faz você morrer também
No domingo a Polícia Militar do Rio de Janeiro anunciou a morte do cabo Izo Gomes Patrício, 40 anos, um dos feridos. O militar era um dos tripulantes do helicóptero derrubado e estava internado no Hospital da Aeronáutica, na Ilha do Governador, em estado gravíssimo com 96% do corpo queimado.
Quantos policiais civis e militares e quantos inocentes morrerão assassinados no Rio até 2016? Este número terá que ser reduzido à indices mínimos para mostrar ao mundo que o Rio de Janeiro é uma cidade segura, tranquila, onde reina a paz. Uma cidade capaz de sediar as Olimpíadas de 2016 .
Será que isto acontecerá?
Fontes : O Globo - O Estado de São Paulo - Correio Brasiliense - Folha de São Paulo
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