sexta-feira, 9 de abril de 2010

Inserindo a militância negra

Mídia Sem Máscara

Bruno Pontes | 08 Abril 2010
Artigos - Governo do PT

A luta do PT contra o racismo consiste em transformar os negros em cabos eleitorais da Dilma.

Depois de pregar o controle estatal da imprensa, exigir o realismo socialista em todas as manifestações culturais sobre o território brasileiro e equipar os professores da rede pública com os melhores slogans pró-Dilma Rousseff, os petistas vêm aí com outra festa gramsciana: o I Encontro Nacional de Brancas e Brancos do PT.

Esperem um segundo. Confundi as cores. Ah, cérebro travesso! Na verdade é Encontro Nacional de Negras e Negros do PT. Apresso-me a corrigir porque não quero ferir as suscetibilidades politicamente corretas. Sabemos que hoje só os brancos podem sofrer discriminação, sobretudo os de olhos azuis, responsáveis pela recente crise financeira mundial, como nos explicou Lula.

Bem que eu gostaria de participar deste excelso simpósio, mas não vai dar por três motivos de força maior: aparentemente sou branco, não sou petista e me falta subvenção para viajar a Brasília e pagar a estadia no Hotel San Marco. Compenso a lamentável ausência da minha pessoa deixando registrados meus parabéns ao PT por colocar as mulheres na frente dos homens no batismo do seu encontro racial, gentileza que repara injustiças históricas infligidas às petistas desde o tempo das cavernas. Lamento apenas o descuido dos companheiros ao esquecerem os negros do terceiro sexo.

Sendo o Brasil um país de gente miscigenada até não mais poder (reflexo do nosso implacável racismo), fico imaginando quais serão os métodos usados pelos petistas para determinar quem é negro e quem não é. Acho que vão empregar o critério recomendado pelo Instituto Brasileiro Gramsci de Estatística (IBGE). Basta fazer uma simples pergunta ao candidato.

- Você vota na Dilma?

- Até voto, mas, como podemos ver, sou moreno puxado mais pra branco...

- Não tem problema. Pode entrar. Você é negro e dos bons.

A nota do PT diz que o encontro pretende "inserir a militância de negras e negros petistas no processo de discussão interna do partido e qualificar as lideranças da comunidade negra para o enfrentamento político que deve ocorrer durante o processo eleitoral". Por isso que é bom ler panfletos esquerdistas. Além de fornecer idéias para artigos semanais, esse tipo de literatura contribui formidavelmente para o enriquecimento vocabular. Comparem a sofisticação da linguagem petista com o resumo tosco que eu daria: a luta do PT contra o racismo consiste em transformar os negros em cabos eleitorais da Dilma.

Publicado no jornal O Estado.

Bruno Pontes é jornalista - http://brunopontes.blogspot.com

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