Mídia Sem Máscara
Nivaldo Cordeiro | 18 Abril 2010
Artigos - Eleições 2010
Parece consolidada a posição do candidato paulista junto aos formadores de opinião, à classe média e aos empresários. Não que Serra tenha renegado sua fé socialista, mas está longe de ser um incendiário, como parece ser a propensão dos últimos meses do governo Lula e a promessa de campanha da Dilma.
Depois do papelão da falsa pesquisa do Instituto Sensus, que inventou números dando um empate inverossímil entre Dilma e Serra, saberá Deus a mando de quem, o Datafolha publicou hoje uma pesquisa de opinião pública confiável, coerente com as anteriores, dando ampla vantagem de dez pontos percentuais ao candidato do PSDB. Algumas lições precisam ser tiradas desses novos números.
Em primeiro lugar, vemos que a candidatura Ciro Gomes deixou de ser relevante. Seu próprio partido o está rifando, de modo que não pode mais ser levado em conta. O surpreendente é que parte considerável dos seus votos migraria para José Serra, contrariando as expectativas dos estrategistas do Palácio do Planalto, caso sua candidatura seja abandonada. Se Ciro tirasse votos de Serra o próprio PT patrocinaria a manutenção da candidatura. Entendo que Ciro só poderia crescer à custa de Dilma, disputando em seus currais eleitorais, sobretudo no nordeste e na periferia das grandes cidades. Mesmo a retirada da candidatura prejudica mais a Dilma, de modo que um desfecho ainda no primeiro turno, favorável a José Serra, não está descartado. Ciro candidato pode ser a garantia de um segundo turno.
Em segundo lugar, parece consolidada a posição do candidato paulista junto aos formadores de opinião, à classe média e aos empresários. Não que Serra tenha renegado sua fé socialista, mas está longe de ser um incendiário, como parece ser a propensão dos últimos meses do governo Lula e a promessa de campanha da Dilma. A sobriedade de seu discurso e o reconhecido bom governo que fez em São Paulo pesam a seu favor. Esse público qualificado dificilmente se comoverá com as lamúrias sentimentais que Lula usou em suas primeiras campanhas. Ele está cada vez mais inconformado com a elevada carga tributária e o irracionalismo das políticas públicas do PT, especialmente àquelas ligadas ao MST e à política externa. Os lumpens já estão com o PT e não decidem as eleições. Lembrando que Serra mal começou a campanha, significando que tem margem para crescer.
Dilma parece confinada ao gueto tradicional do PT, englobando parte do funcionalismo público, os sindicatos radicalizados, os revolucionários de carteirinha e a massa amorfa dos lumpens, comprados com bolsa-família. Para piorar, seu discurso de campanha tem focado essa gente, evidentemente incapaz de alargar a base eleitoral. Dilma não fala à classe média que não depende do governo.
A posição sólida de José Serra se fortalece pela força da candidatura favoritíssima de Alckmin/Afif ao governo do Estado de São Paulo e a bênção de Aécio Neves em Minas Gerais, os dois maiores colégios eleitorais. Se o PT não tiver alguma carta na manga para mudar as coisas nesses dois colégios eleitorais maiores dificilmente poderá ganhar as eleições. O projeto eleitoral do PT parece esgotado.
A candidatura de Marina Silva também parece ter se aproximado do teto. Concorre diretamente com as teses tradicionais do PT e pode servir unicamente para viabilizar o segundo turno. Mesmo assim, conforme o andar da campanha eleitoral, na reta final a tese do voto útil pró-PT pode esvaziar sua candidatura. Ela poderá murchar de forma inexorável.
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