Mídia Sem Máscara
Nivaldo Cordeiro | 28 Abril 2010
Artigos - Eleições 2010
O programa de governo de Serra pouco difere do PT. Nenhum aceno à redução de impostos, à diminuição do Estado mastodôntico. E certamente a perseguição aos fumantes continuaria.
Ontem consegui acompanhar quase toda a extraordinária participação de José Serra no programa de José Luiz Datena. Seu programa é marcadamente populista e policialesco, influindo nas camadas intelectualmente (e economicamente) inferiores da população. O programa ficou sem intervalos comerciais por quase uma hora, algo realmente intrigante para o horário mais caro da TV. Obviamente que o programa tornou-se um palanque.
Mais um testemunho de que os meios de comunicação de massa, em reação à Confecom, estão mesmo contra o PT e decidiram somar esforços para tirá-lo do Palácio do Planalto. Mesmo a Rede Bandeirantes, que participou do evento quixotesco, dando-lhe endosso, está fazendo a sua parte contra o partido governante e sua candidata. Essa é, a meu ver, a principal razão pela qual a Dilma Rousseff não tem crescido nas pesquisas. Ao contrário do que se pensa, seu problema com a comunicação política não é técnico: simplesmente o retrato que emerge do candidato da oposição dos meios de comunicação é positivo e abundante, em contraste com o dela próprio. O que se fala dela é quase sempre caricatural.
A elite parece ter cansado do PT e perdeu o respeito para com os revolucionários, talvez até mesmo por medo. Se nada for feito o PT marchará para o poder total. Mas será que o leão das trevas teve as presas aparadas? Questão em aberto. Se eventualmente Dilma vier a ser a eleita o contra-ataque será certo. Se o PT já desejava "democratizar" os meios de comunicação, agora mais ainda.
Mas ontem pudemos ver o que separa essencialmente Dilma de José Serra. O abismo maior entre os dois está na política de relações exteriores. José Serra afirmou que com o Irã teria relação de soberania, mas nada de dar apoio pessoal ao ditador de lá. Da mesma forma, nenhum apoio especial teria para com Hugo Chávez. Serra faria retornar a nossa diplomacia ao seu leito. Com a China, prometeu linha dura para com o dumping descarado que ela pratica com todo o mundo, contra o Brasil inclusive.
No mais, seu programa de governo pouco difere do PT. Nenhum aceno à redução de impostos, à diminuição do Estado mastodôntico. É bem verdade que voltaria a política de FHC de fortalecimento das agências reguladoras, mas essa é uma política perfeitamente acessória, nenhuma diferença fazendo para os pagadores de impostos altos. E certamente a perseguição aos fumantes continuaria.
Serra prometeu criar um ministério da Segurança Pública. Isso me preocupa. Seria mais um golpe na nossa empobrecida federação, em desfavor dos Estados federados. Acenou inclusive com uma possível recriação da Guarda Nacional. Não gosto dessa proposta. É um passo em direção ao Estado unitário, mesmo o Estado totalitário.
O fato é que, somando e diminuindo tudo, há um elemento de racionalidade maior em José Serra do que em Dilma Rousseff.
Nenhum comentário:
Postar um comentário