Mídia Sem Máscara
| 02 Abril 2010
Artigos - Terrorismo
Em síntese, estamos ante uma ofensiva terrorista e uma campanha de propaganda orientada a quebrar a vontade de luta do Estado contra as guerrilhas, pela via política.
A libertação do sargento Pablo Emilio Moncayo e do soldado Josué Daniel Calvo não é um ato de humanidade, tampouco mérito de "Colombianos e Colombianas pela Paz", e menos ainda uma ação unilateral que mostre boa-vontade das FARC. Nada disso. É outro episódio da "tática humanitária", planejada pela guerrilha, dentro de sua calculada estratégia terrorista.
Três objetivos estão por trás da parafernália humanitária. Primeiro, avançar no reconhecimento das FARC como força beligerante. As libertações serão aproveitadas para intimar os candidatos presidenciais a realizar o chamado "acordo humanitário", sobre a base de que o novo governo as gradue como uma organização política alçada em armas e não como um grupo terrorista.
Nessa linha, desejam esgrimir o "acordo" para permitir que "países amigos" intervenham na "saída negociada", o qual lhes outorga de entrada o status político e um tratamento de igual para igual com o Estado. Sonham com o chamado "Grupo Contadora", acordado por Hugo Chávez e Iván Márquez em novembro de 2007. Com a participação de vários dos governos de esquerda no hemisfério, quiseram integrar um conjunto de países destinado a reconhecer as FARC como beligerantes e pressionar o governo da Colômbia a uma negociação.
O segundo propósito é posicionar a "saída negociada ao conflito social e armado" na campanha presidencial. Como no passado, querem que os candidatos emulem em matéria de segurança e paz, a partir das proposições das FARC. Para consegui-lo, repetem a manobra que realizaram em março de 2006. Nessa oportunidade, dois agentes da polícia foram libertados no Putumayo em instância do candidato Álvaro Leyva. A firmeza cidadã em rechaçar os seqüestradores fez a ação fracassar.
Romper essa firmeza contra o crime, dividindo os cidadãos entre partidários e contraditores do acordo humanitário e do diálogo com as guerrilhas, é o terceiro objetivo. Buscam obter legitimidade, demonstrar que são atores políticos e pressionar o governo mobilizando setores da população a favor da negociação e da "solução política". É a paz como palavra de ordem de agitação e mobilização.
Com a tática humanitária e a palavra de ordem do diálogo, pretendem transferir a responsabilidade dos seqüestros e da violência guerrilheira ao governo e aos candidatos presidenciais que não se alinhem com as demandas farianas. Os assinalamentos de que Uribe, antes de finalizar seu período, deve celebrar o "acordo humanitário", procura "provar" que ele foi o obstáculo e sublinhar a necessidade de um novo governo que "aposte na paz e não na guerra", certamente, que não será um que continue com a Política de Segurança Democrática, senão que aceite seu desmonte como ponto de partida para um processo de paz. Um governo de apaziguadores.
A guerrilha repete o mesmo estribilho. Sempre, antes das eleições presidenciais, a organização terrorista reclama negociação, assinala que está disposta a abordar em uma mesa de diálogo a "solução das causas que deram origem ao conflito" e que requer-se um presidente que tenha real vontade de resolver os problemas dos colombianos como requisito para pactuar a paz. Todos esses não são mais do que recursos táticos empregados no marco de seu plano estratégico, não para alcançar a paz, senão para escalar a guerra.
Do mesmo modo ocorre com as ações terroristas. Cada final e começo de um novo governo está marcado por atentados e massacres. O "menino-bomba" que morreu em El Charco e o carro-bomba que deixou 9 mortos em Buenaventura, procuram demonstrar que a Política de Segurança Democrática fracassou, e que seria inevitável a negociação com as FARC. Com isso também querem manipular, através do medo, a vontade dos cidadãos.
Embora, em princípio, os atentados fortaleçam o rechaço às FARC, Alfonso Cano e Mono Jojoy sabem que, se são capazes de aumentar suficientemente a freqüência e elevar o número de vítimas, podem afetar a vontade dos cidadãos. Daí que as Nações Unidas tenham razão quando advertem sobre a possível execução de mais atos de violência.
Em síntese, estamos ante uma ofensiva terrorista e uma campanha de propaganda orientada a quebrar a vontade de luta do Estado contra as guerrilhas, pela via política.
Embora Álvaro Uribe tenha lhes devolvido o balão e neutralizado temporariamente a manobra fariana, ao aceitar a possibilidade de um acordo humanitário, a atitude responsável seria que os candidatos rechacem o acordo de forma unânime; exijam a libertação imediata e sem condições de todos os seqüestrados e restrinjam qualquer diálogo à decisão irrevogável da guerrilha de renunciar à violência e de desmobilizar-se. Assim se acaba com o aproveitamento, por parte das FARC, das contradições e com a utilização do acordo humanitário e do diálogo como uma tática a serviço de uma estratégia de guerra.
* - Professor de Análise do Terrorismo - Universidade de Rosário
Fonte:
http://www.facebook.com/l/af8d4;
http://politicayseguridad.blogspot.com
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