| 17 Dezembro 2010
Artigos - Movimento Revolucionário
A inteligentsia brasileira, em geral, é formada dentro dos braços amigáveis do ogro filantrópico governamental, ou seja, do Estado. Forjada nos quadros e na mentalidade do funcionalismo público, é raro em nossa tradição ver algum erudito que tenha vida independente na área da iniciativa privada.
Na campanha eleitoral que elegeu Dilma Roussef presidente do Brasil, cerca de cinco mil professores universitários de todo o país assinaram um manifesto de apoio à sua candidatura a despeito de toda má fama da presidenciável e de seu governo. Para os medalhões da USP e de outras faculdades, a corrupção endêmica do governo federal, a quebra ilegal de sigilos bancários contra a oposição, as alianças petistas com o narcotráfico e o terrorismo internacional, nada disso contou no voto docente "esclarecido". O voto docente, por assim dizer, foi bem indecente.
Como dizia uma dessas criaturas pernósticas, nada menos do que a dublê de filósofa Marilena Chauí, o mensalão nunca existiu. Tal como o presidente Lula, ela não sabia de nada. E quando as provas do crime se revelaram gritantes, a mesma mudou de discurso. Dizia que aquilo era uma conspiração da mídia. Marilena Chauí foi ainda mais longe: com a eleição levada ao segundo turno, por conta da virada de José Serra, a mesma começou a criar mais factóides. Espalhou que o candidato tucano era um perigo para a democracia, porque uma companheira sua, a dublê de psicóloga e militante petista Maria Rita Kehl foi demitida do jornal O Estado de São Paulo. Nas palavras dos petistas, foi "delito de opinião". Os petistas podem criar legislações totalitárias de censura e "controle social" da imprensa pelo Estado, como o tal Conselho Federal de Jornalismo e a Ancinav, sem o menor alarde, e acusarem nos outros o que praticam.
Claro que Marilena Chauí e sua amiguinha psicanalítica fecham os olhos às propostas estaduais de amordaçamento da imprensa apregoadas pela Confecom (conferência nacional de comunicações). No entanto, na visão petista, um jornal não pode ser livre para escolher seus quadros ou decidir que linha editorial deve seguir. Pior se essa linha editorial não seguir diretrizes petistas. Dentro da lógica da dublê de filósofa uspiana, posso exigir espaço para escrever à Carta Capital, Carta Maior ou aos Caros Amigos do reizinho populista Lula, sob pena de acusar a imprensa esquerdista de censura! É deprimente como alguém, que tem obrigações de integridade intelectual aos seus alunos e leitores, se rebaixa de tal forma, comprometida a uma campanha eleitoral tão suja. É essa criatura que "convida" os estudantes a estudarem filosofia! Se bem que muitos de seus leitores não devem ser grande coisa.
Em suma, a eleição presidencial de 2010 demonstrou uma completa corrupção moral das elites intelectuais das universidades. Ao assinarem o manifesto, colaboraram com o projeto totalitário do PT, com a destruição da democracia, com a falta de qualquer princípio moral e ético na política; este, sacrificado ao altar da ideologia socialista.
Alguém poderia se escandalizar com a traição dos "clercs", dos intelectuais, na feliz expressão de Julien Benda. Intelectual seria sinônimo de criatura pensante, questionadora, independente, que age conforme a razão, a honestidade, ao bom senso e a inteligência. O homem comum pode se dar ao luxo de pecar, por licenciosidade ou ignorância. O "clerc" não.
No entanto, ledo engano para quem acredita que a vida universitária encarna algum tipo de elevação ética ou moral. Se há algo que a intelectualidade no século XX fez em grande escala foi desvirtuar a inteligência, corrompê-la, ou mesmo destruí-la. Comunismo, nazismo e fascismo são criações intelectuais antes de serem políticas. Surgiram como ideais novos nas universidades e escolas, vendidos como o elixir da modernidade contra a decadente sociedade burguesa e liberal. Ademais, raramente as pessoas casam esses conceitos políticos num contexto de unidade histórica e filosófica. O comunismo e o nazi-fascismo são frutos comuns do positivismo, darwinismo e do marxismo, pensamentos e projetos que dominaram as academias e universidades no final do século XIX. Não me assustaria se os intelectuais brasileiros não fossem excluídos dessa mesma doença espiritual. Ademais, positivismo, darwinismo e marxismo foram modismos que mais vingaram aqui, sem contar suas sucursais e suas versões mais esdrúxulas.
Não se pode, entretanto, ignorar um elemento que é peculiar e relacionado ao Brasil. A inteligentsia brasileira, em geral, é formada dentro dos braços amigáveis do ogro filantrópico governamental, ou seja, do Estado. Forjada nos quadros e na mentalidade do funcionalismo público, é raro em nossa tradição ver algum erudito que tenha vida independente na área da iniciativa privada. Na verdade, nem mesmo a iniciativa privada tem a tradição de investir em cultura. As universidades e escolas privadas, na prática, são meras extensões do Estado e obedecem bovinamente suas imposições.
Sob pena de não ter muito retorno ou sustento por conta própria, o homem de estudos vira funcionário público. Porém, tal caminho cobra um preço. A eterna dependência do intelectual com o Estado alarga o governo em todas as esferas da cultura e compromete o próprio desenvolvimento autônomo da liberdade intelectual. Na pior das hipóteses, ocorre o que se viu na campanha eleitoral de Dilma Rousseff: uma classe corporativista, amesquinhada de seus privilégios governamentais, apegada aos cargos públicos como se fossem propriedades particulares ou concessões mercantilistas do Antigo Regime. E pior, uma classe de pessoas altamente improdutiva intelectualmente, já que há uma promiscuidade entre a inteligência e a política. No final das contas, quem poderá confiar nesses indivíduos, se eles mesmos comprometem a honestidade e liberdade intelectual em troca de cargos, dinheiro e favores estatais?
É claro que esse compromisso entre funcionários públicos intelectuais e ativistas e o Estado é muito mais antigo do que se imagina. Provém das raízes patrimonialistas da nossa cultura política e social, na incapacidade de se delimitar a divisão entre o público e o privado. Torna-se mais patético e grosseiro eles venderem a idéia de que são "progressistas", "agentes de transformação social", paladinos da modernidade. Pelo contrário, são os arautos mais completos do atraso político do país. Não se pode falar nem mesmo que sua linguagem é "moderna". O socialismo, que fracassou em todo o mundo, com um preço incalculável de centenas de milhões de mortes, só parece realmente "progressista" a uma parte do globo que finge ignorar a queda do Muro de Berlim, isolada pela sua mais completa insignificância cultural. Mas, convém dizer, esses mesmos "progressistas" pensam tal qual uma nomenclatura soviética: sonham com uma humanidade ao modo de Cuba, Vietnã, China e Coréia do Norte, todavia, possuem carros importados, viajam para as praias do nordeste ou fazem compras em Berlim e Paris. Na verdade, defendem o terceiro mundo no conforto do seu mundinho fechado de burgueses estatais, nas ilhas da Avenida Paulista ou do Higienópolis. Ou será que alguém vai encontrar professor da USP pegando o metrô de São Paulo na hora do "rush" ou morando em alguma baixada dominada pelo PCC? Algum alto comissário da USP vai trocar os bairros caros de São Paulo ou a Europa pelo Zimbábue? Ou mesmo por Cuba?
Há de se lembrar que todos esses confortos, mordomias, luxos e prazeres mundanos são pagos pelo contribuinte, esse novo servo do Estado democrático. Quem financia os eventos, os encontros, as conferências, os prêmios e a viagens luxuosas dessa casta inútil? O cidadão brasileiro, ou seja, eu, você, quase todo mundo! É um capitalismo parasitário em que uma camarilha de pessoas é capitalista com o dinheiro dos outros! Enfim, um verdadeiro capitalismo de Estado!
A elite intelectual brasileira, com raras e honrosas exceções, é uma classe supérflua de pessoas, tal como foi a aristocracia na França pré-revolucionária. Custa caro e a produção cultural é pobre, ínfima. Por muito menos, Aristóteles e São Tomás de Aquino produziram bem mais à humanidade. Seria mais correto dizer que uma boa parte da ruína moral, cultural e educacional do país se deveu gloriosamente a esses cinco mil professores que apóiam Dona Dilma, junto com seus apaniguados, que compartilham das mesmas crenças corporativistas e totalitárias. Tal como no filme de Klaus Maria Brandauer, Mephisto, onde um ator vende sua alma ao nazismo, os professores venderam sua alma ao diabo petista e prostituíram vergonhosamente sua moral e seu intelecto. Tremo na minha espinha quando ouço as palavras do Evangelho: de que adianta ganhar o mundo, se você perde sua alma? Pena que as Boas Novas já foram há muito tempo banidas das universidades...
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