segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Cuba: o preso político e o pastor-carcereiro

Mídia Sem Máscara

Armando Valladares | 07 Fevereiro 2011
Notícias Faltantes - Comunismo

Quando há alguns meses um grupo de presos políticos partiu para a Espanha, agências de notícias atribuíram o "milagre" ao cardeal de Havana, mas os presos políticos, chegando à Espanha, mostraram que tudo não passava de um esforço da ditadura para desarticular e decapitar a oposição cubana.


Na quinta-feira 20 de janeiro pp., na prisão de segurança máxima de Canaleta, cidade de Ciego de Ávila, viveu-se um acontecimento inédito. O preso político Pedro Arguelles Morán, um jornalista independente condenado a 20 anos de cárcere, foi levado ao gabinete do chefe da prisão onde este o aguardava junto com o "re-educador" ideológico e um psicólogo.


Os três tentaram convencer Arguelles para que se fosse de Cuba o quanto antes e que, para isso, as portas da prisão estavam abertas de par em par. O preso político, com a voz, o rosto e com o físico debilitado por sete anos de cárcere mas com uma vontade de ferro, respondeu que pelo fato de ser inocente e de ter sido condenado injustamente, sem dúvida tinha o direito de sair da prisão. Porém, que também por ser cubano, tinha o direito de ficar em sua própria Pátria para lutar pacificamente pela liberdade.

Os carcereiros, inquietos, entravam e saíam do gabinete do chefe da prisão e faziam chamadas telefônicas. De repente, um deles entrou e disse que o cardeal Jaime Lucas Ortega y Alamino, arcebispo de Havana, queria falar com ele por telefone. A resposta do preso político foi breve e clara: "Digam ao cardeal que se ele não me telefona para dizer-me que vou livre para minha casa, que não o faça".

Como entender esse repentino e paradoxal interesse dos próprios carcereiros, até agora encarregados de manter as prisões abarrotadas de presos políticos, de esvaziá-las o mais rápido possível, com a única condição de que se vão embora de Cuba?

A deterioração social de Cuba chegou a tal ponto, que o regime teme que se possa produzir uma explosão da população nas ruas, uma espécie de "cairização" de Havana e outras cidades de Cuba.

Invariável e solícito colaborador do regime, o cardeal Ortega ofereceu seus serviços ao ditador Raúl Castro, para articular com o governo socialista espanhol a saída ao desterro dos presos políticos considerados mais emblemáticos e "perigosos" para o regime, abrindo dessa maneira algumas válvulas da panela de pressão social.

Foi assim que um grupo de presos políticos partiu para a Espanha. Importantes agências de notícias atribuíram o "milagre" ao cardeal de Havana. Porém, os presos políticos, chegando à Espanha, mostraram que tudo não passava de um esforço da ditadura para desarticular e decapitar a oposição cubana.

E foi sem dúvida uma vergonha para o cardeal. Seu papel nesta manobra, colaborando dessa maneira com os carcereiros castristas o transforma, a ele mesmo, em um Pastor-carcereiro, e assim ele poderá passara para a História.

No começo de 1995, entregou-se na Secretaria de Estado do Vaticano uma súplica de personalidades representativas do desterro cubano, intitulada: "Os cubanos desterrados apelam a João Paulo II - Santidade, protege-nos da atuação do Cardeal Ortega!".

Essa carta dramática foi publicada em 24 de outubro de 1995, festa de Santo Antonio María Claret, antigo arcebispo de Santiago de Cuba, no "Diario Las Américas", de Miami. E não podia ser mais atual: ela descreve a paradoxal situação de um Pastor-carcereiro que, ao invés de dar a vida por suas ovelhas, faz todo o possível para ajudar os lobos a asfixiar o rebanho.




Armando Valladares, escritos, pintor e poeta. Passou 22 anos nos cárceres políticos de Cuba. É autor do best-seller "Contra toda esperança", onde narra o horror das prisões castristas. Foi embaixador dos Estados Unidos ante a Comissão de Direitos Humanos da ONU sob as administrações Reagan e Bush. Recebeu a Medalha Presidencial do Cidadão e o Superior Award do Departamento de Estado.


Tradução: Graça Salgueiro

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