quarta-feira, 24 de março de 2010

Carta ao Secretário Geral da OEA

Mídia Sem Máscara

O que lhe pedimos, senhor secretário geral, é que respeite os estatutos e os princípios pelos quais foi criada a organização que dirige, e que tome a decisão, de uma vez por todas, de fazer valer a Carta Democrática Interamericana.

San Pedro Sula, Honduras.
23 de março de 2010.

Sr.José Miguel Insulza
Secretário Geral

Organização dos Estados Americanos - OEA
Washington, D.C.

Sr. Secretário Geral:

Com sumo desencanto e muita preocupação, devo aceitar que nenhum dos esforços que fizemos, os povos livres da América Latina, para que o senhor não fosse reeleito, teve o resultado que esperávamos.

Quero, antes de mais nada, expressar-lhe que este descontentamento à sua pessoa não tem nada a ver com a organização que preside. Sei e estou consciente de que as pessoas que dirigem organizações como a OEA imprimem à sua gestão seu temperamento, coragem e impulso. Se a OEA neste momento é uma organização desprestigiada entre os povos democratas do continente, não tem nada a ver com os princípios nem as razões pelas quais foi fundada, senão pela inoperância com que, sob sua direção, demonstrou ao longo de quase cinco anos no fortalecimento da democracia e na observância da Carta Democrática Interamericana (CDI).

Também segui de perto suas declarações ante os meios de comunicação e com tristeza vejo que continua argumentando a seu favor e a favor de sua gestão, situações que estão completamente distanciadas da realidade que vivem povos como os de Honduras e Venezuela. Ante a mídia, senhor Insulza, qualquer coisa pode-se dizer; porém o senhor, eu e muitos hondurenhos e venezuelanos conhecemos a verdade de suas atitudes no caso da crise política que o ex-presidente de Honduras iniciou, ao pretender instalar uma consulta ilegal e que o senhor, sim, o senhor, senhor secretário geral, pretendeu validar enviando observadores da organização para observar, valha a redundância, para finalmente convalidar os resultados da mencionada consulta que haviam sido pré-elaboradas em Caracas. Insisto, ante os meios de comunicação podem-se dizer muitas coisas, porém fora das câmeras e das luzes, o senhor e eu sabemos que atuou de forma parcializada a favor de uma ilegalidade, coisa absurda tratando-se do secretário geral de uma organização como a OEA.

Compreendo que a saída do ex-presidente não foi o melhor que podíamos ter feito, porém foi a única alternativa que nos restou, porquanto até a instância da OEA esteve parcializada na ilegalidade, o que nos indica que a observância das leis não é precisamente uma de suas virtudes.

Não vou me referir a fundo no triste caso de nossos irmãos venezuelanos, povo ao qual o senhor e a organização com o senhor deram as costas, e que, em contrapartida, ao tirano que os governa lhe deu um respaldo apesar de que publicamente o insulta cada vez que lhe dá vontade. A deterioração dos direitos humanos e o direito à liberdade de expressão na Venezuela, são apenas alguns dos temas com os quais o senhor e a organização têm sido indiferentes, mesmo todo mundo sabendo que existe um povo inteiro que sofre a opressão de seu governante e, por sua nobreza, é digno de melhor sorte e de ser tratado melhor pela OEA.

Esta nota tem duplo propósito. O primeiro é expressar-lhe que os povos democráticos da América Latina vemos com decepção seu primeiro mandato à frente da Organização; e o segundo propósito, o de expressar-lhe que sempre há tempo de emendar procederes errôneos. Tome nota de que não lhe pedimos que deponha sua tendência ideológica, pois todos somos livres para ostentar a ideologia que queiramos. O que lhe pedimos, senhor secretário geral, é que respeite os estatutos e os princípios pelos quais foi criada a organização que dirige, e que tome a decisão, de uma vez por todas, de fazer valer a Carta Democrática Interamericana.

Se o reelegerem, terá mais tempo para argumentar com fatos, o que com palavras quis ressaltar de sua primeira gestão. Muito a nosso pesar, se lhe apresentam, aparentemente, outros cinco anos; utilize-o para limpar da história a memória que de José Miguel Insulza ficará nas mentes dos povos da América Latina, se não o faz.

Peço a Deus que não permita que o senhor obtenha a reeleição, porém também peço que, se for de Sua vontade que se reeleja, que o ilumine para guiar por melhores rumos a organização que foi concebida para fortalecer, e não destruir, a democracia na América Latina.

Sinceramente,

Eloy Page

Cidadão Hondurenho - Livre e Democrático

Tradução: Graça Salgueiro

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