Mídia Sem Máscara
Nivaldo Cordeiro | 19 Março 2010
Artigos - Movimento Revolucionário
Lamento apenas que Jefferson não tenha ainda visto que o que se chama de oposição (José Serra, Marina e Ciro Gomes) é apenas uma variação ideológica do mesmo processo revolucionário. Ganhe quem ganhar os revolucionários vencerão.
Os brasileiros já adquiriram uma dívida de gratidão com o ex-deputado Roberto Jefferson, que peitou o PT e o todo-poderoso petista-mor José "Sai Já Daí" Dirceu ao denunciar o mensalão. Todos sabemos que o episódio custou o mandato dos dois e até agora o mensalão tem sido a marca indelével no governo Lula. Se Roberto Jefferson tivesse sido flexível os fatos não teriam vindo à tona. Jefferson já deixou um registro inapagável nos anais da história por isso.
Os leitores sabem que um pequeno grupo de analistas que escrevem fora da grande mídia, entre os quais me incluo, estão cansados de mostrar que o poder petista é uma fórmula renovada para a implantação da revolução leninista, utilizando a receita de Gramsci. Devo dizer que Roberto Jefferson, em artigo publicado hoje na Folha de São Paulo (São ideológicos, por isso corrompem), chegou a essa mesma conclusão. Lamento apenas que Jefferson não tenha ainda visto que o que se chama de oposição (José Serra, Marina e Ciro Gomes) é apenas uma variação ideológica do mesmo processo revolucionário. Ganhe quem ganhar os revolucionários vencerão. Os profissionais estão previamente derrotados, sequer apresentaram um nome viável.
Só restou aos profissionais da política tornar-se linha auxiliar de apoio aos revolucionários. Serão condutores do esquife no seu próprio enterro, se nada de novo acontecer. Ganhe quem ganhar, estarão fora do núcleo de poder decisório. A caçada petista contra eles continuará, com forças renovadas, até a destruição final. O caçador é maior e mais forte que a sua presa, sempre.
Em resumo, o ex-deputado diagnostica que as eleições de 2010 serão o embate entre os "ideológicos" e os "profissionais" da política, o que é questionável. Os segundos são a velha oligarquia, da qual o próprio Jefferson é membro proeminente, e os primeiros são os socialistas revolucionários, empenhados "na conquista do poder total sobre a sociedade". Poder total ou Estado total são expressões que tenho usando largamente nos últimos anos para analisar nossa política.
Jefferson sublinha que nas eleições de 2010 está sendo travada uma luta desigual, a meu ver reconhecendo previamente que o embate já está decidido. Nas suas palavras: "As próximas eleições vão opor, numa disputa desigual, a política socialista à profissional. Esta emprega os meios usuais de propaganda, enquanto aquela utiliza todos os meios disponíveis (inclusive os heterodoxos)".
Acrescentou: "O político profissional tem a seu favor somente os eleitores, que se manifestam a cada quatro anos e depois o esquecem, enquanto o socialista tem a vasta militância, pronta a matar e a morrer por quem personifica suas aspirações. O voto, ainda que avassaladoramente majoritário, não afiança ninguém no poder. O que garante a supremacia é a massa organizada, disposta a apoiar o eleito todos os dias e por todos os meios".
O ex-deputado enxergou o que se passa, esquecendo-se porém de que as eleições têm sido uma farsa. Os "profissionais" estão previamente excluídos da disputa da maior parte dos cargos majoritários. Concluiu: "O maior erro que as débeis oposições cometem é não saber enfrentar o modelo político socialista". Para enfrentar a revolução teria que haver uma contra-revolução, com um respectivo movimento de massa. Onde estão os "contra"? Nem Roberto Jefferson tem sido um, pois tem lutado dentro dos marcos institucionais.
Roberto Jefferson retira as devidas conclusões do seu diagnóstico: "Seguidor de Lênin, Trótski, Stálin e Gramsci, o petismo, por meio de seu núcleo dominante, abriu mão da luta armada, mas não do objetivo revolucionário". E mais: "Não são apenas corruptos, são ideológicos e, por isso, corrompem. E, no processo de destruição, vale tudo. Para combater a hidra, é preciso conhecê-la, armar-se e propor um projeto diferente de país. Não se enfrentam tanques com bodoques, mas com mísseis. E, se vierem mísseis em represália, joga-se a bomba atômica. Quem vai fazer isso?"
Fico feliz que dois símbolos da linguagem que tenho usado para descrever a realidade política - "Estado Total" e "Hidra"- o ex-deputado usou no texto. Definir os símbolos da linguagem é importante para apreender a realidade. Pelo conteúdo e pelos símbolos, numa palavra, pela profundidade, credito a Roberto Jefferson o grande mérito de trazer o problema para a página de um grande jornal, abrindo importante debate enquanto ainda é tempo. Não creio que possa ser ignorado.
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