sexta-feira, 12 de março de 2010

Carta aberta ao Estadão sobre "Guerra ao terror"

Mídia Sem Máscara

Nem vale a pena perder tempo em criticar "Avatar", que não passa de um amontoado de clichês politicamente corretos bem embalado em novos recursos tecnológicos. Agora, "Guerra ao Terror" é um bom filme, independentemente de sua filiação ideológica, que, a bem da verdade, não é tão explícita quanto sugere Bolognesi.

Senhores,

Não se sustenta a análise que Luiz Bolognesi fez sobre "Guerra ao Terror" e "Avatar" na pág. D-4 do Caderno 2 de hoje. Desde o início, o crítico evidencia o seu parti-pris: já no segundo parágrafo afirma que "Avatar" é interessante por ser "propaganda de esquerda". Bem, Bolgnesi achar interessante a propaganda de esquerda é compreensível, considerando-se o caldo de cultura em que o Brasil está mergulhado, mas de ele achar interessante a ser interessante de fato a distância é muito grande. Achar que a premiação foi ideológica porque não brindou o filme de esquerda, não significa que o prêmio tenha sido dado a um filme que faz o elogio da máquina de guerra norte-americana, o que "Guerra ao Terror" não faz. Na verdade, Hollywood parece ter feito uma opção pela maturidade, deixando de premiar essa diluição de "O senhor dos aneis" que, no fundo, é a essência de "Avatar".

Nem vale a pena perder tempo em criticar "Avatar", que não passa de um amontoado de clichês politicamente corretos bem embalado em novos recursos tecnológicos. Agora, "Guerra ao Terror" é um bom filme, independentemente de sua filiação ideológica, que, a bem da verdade, não é tão explícita quanto sugere Bolognesi. Quem se lembra de "O franco-atirador", filme de Michael Cimino, datado de 1978, sobre a Guerra do Vietnã, sabe a que me refiro, pois o filme de Cimino terminava com a família dos heróis-soldados cantando "God Bless America". Em "Guerra ao Terror" absolutamente não há esse tipo de patriotadas.

O filme de Bigelow se insere na longa tradição hollywoodiana dos filmes de guerra, a qual inova, mostrando por exemplo o timming de um duelo entre snipers. Tem nos americanos seus heróis e nem poderia deixar de ser assim. Seria o mesmo que pedir a Uderzo e Gosciny que escrevessem histórias de Asterix em que os heróis não fossem gauleses! Mas o grupo de soldados que protagoniza "Guerra ao Terror" está longe de ser formado por personagens planos que dificilmente podem ser considerados "mocinhos" convencionais, basta lembrar que um deles prefere abandonar o filho criança para se dedicar à guerra, o que não configura propriamente uma virtude sob o ponto de vista da moral.

Quanto à caracterização dos terroristas islâmicos, se ela não parece verossímil para Bolognesi, convém mandá-lo ler as notícias que chegam diariamente do Oriente Médio e perguntar-lhe se quem usa de "homens-bombas" e "mulheres-bombas" haveria de ter algum pudor em usar "crianças-bombas" e matá-las a serviço de sua "santa causa". Quem parece recorrer a estereótipos é o próprio Bolognesi, quando fala em "forte apache", em "heróis santificados" e se refere a "assassinos que dizimam outras culturas". Que cultura os americanos estão dizimando, se até os estudos de árabe estão em alta nos Estados Unidos, para que o país consiga compreender a fundo a enrascada em que se meteu? E o que pretendem os radicais islâmicos em relação a nossa cultura ocidental, senão fazê-la desaparecer do mapa?

O único argumento mais sofisticado apresentado por Bolognesi é o de que os verdadeiros viciados em guerra são assassinos compulsórios e não salvadores de vidas, mas, para ser levado a sério, seria necessário, no mínimo, que o crítico apresentasse as fontes de sua pesquisa, pois o tema é complexo como qualquer tipo de dependência e não se pode afirmar nada sobre ele com base no achismo. De qualquer modo, dizer que Bigelow não foi completamente fiel à realidade não significa que ela a tenha distorcido para "santificar" os soldados americanos. Ver o contrário disso não passa de ideologia antiamericanista.


http://observatoriodepiratininga.blogspot.com

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