segunda-feira, 28 de novembro de 2011

A empulhação de Celso Ming

Mídia Sem Máscara

Muito longe de ter resolvido a crise de 1929, o New Deal, de inspiração keynesiana, a prolongou, tornou mais cruel o sofrimento dos cidadãos e contribuiu em grande medida para a eclosão da 2ª Guerra Mundial.


Em sua coluna no Estadão do dia 13 de novembro de 2011, o jornalista Celso Ming perfila tamanho rol de sandices no artigo “Apertar ou desapertar” que quase me vejo sem saber por onde começar a desmascará-las.

Como é que jornalistas feitos e famosos entregam-se à sabujice ideológica em detrimento do dever de dizer a verdade é uma daquelas perguntas dignas de serem feitas a um bom psiquiatra – ou a um bom detetive.

Em todo caso, se prosperam, não é por outro motivo que não um confortável senso de segurança, dada a ausência de perigo à exposição pública, por falta de quem em meio à multidão lhe aponte o dedo e diga em claro tom: - falastrão! Impostor! Falsário!

Todavia, os tempos estão mudando: embora a diferença brutal de leitores entre os figurões da grande mídia tradicional e articulistas voluntários como este que por ora se vos apresenta, pode-se dizer que algum efeito benéfico já se constata. Um viva à liberdade de expressão!

Assim ele começa :

“Por todos os cantos da Europa repete-se uma pergunta intrigante: se os programas de austeridade e de sacrifícios afundam ainda mais as economias nacionais na recessão, no desemprego e na queda de arrecadação, por que, então, insistir nessa receita idiota que, além de piorar as coisas, tende a provocar graves distúrbios políticos?”

Duvido que tal pergunta esteja de fato sendo proposta nestes exatos termos por todos os cantos da Europa. Parece-me mais tratar-se de questão levantada pelo próprio autor, que assim age estrategicamente para parecer isento. Ademais, seria cedo demais para as pessoas começarem a duvidar da eficácia de medidas de contenção cuja implementação mal teve início. Vamos adiante:

Questão subsequente: por que, em vez desses insuportáveis programas de arrocho e de desestabilização, não aproveitar a velha e bem-sucedida recomendação do maior economista do século 20, John Maynard Keynes, e incentivar despesas públicas que criem renda e impulsionem o consumo, a produção e o emprego?

Essa última foi uma política anticíclica vitoriosa no New Deal acionado pelo então presidente dos Estados Unidos, Franklin Roosevelt, que, a rigor, tirou a economia americana da Grande Depressão. E foi vitoriosa depois na Europa destruída pela 2.ª Guerra, quando os Estados Unidos providenciaram o Plano Marshall, que financiou a reconstrução e a retomada da atividade econômica no continente.

O autor pode se enganar a respeito da (d)eficiência do keynesianismo - confiro-lhe tal direito, mesmo tendo em conta que sua idade deveria lhe dotar de mais juízo. Não lhe estendo o benefício, porém, por vender peixe podre aos leitores, mediante o uso da mentira e da desfaçatez: como um experiente jornalista de economia fala uma monstruosidade dessas e omite do público o fato de que a moeda fiduciária de curso forçado, o sistema de bancos centrais e de reservas fracionárias, as políticas protecionistas e o welfare state constituem concepções rigorosamente de Keynes e da sociedade dos socialistas fabianos da qual ele fazia parte?

Só para ficar bem claro, uma das mentiras mais difundidas pela propaganda esquerdista por meio da mídia e dos livros escolares e acadêmicos é o de que o New Deal solucionou o problema da depressão de 1929. Coisa nenhuma! Roosevelt criou um sem-número de agências reguladoras que imobilizaram a economia americana, estabelecendo cotas de participação das empresas no mercado, tabelando preços ou criando preços mínimos e subsídios concedidos mediante extorsão eleitoreira para que empresas e fazendeiros, acreditem se puderem, não(!) produzissem. Além disso, praticou forte protecionismo, tendo imposto cotas de importação, barreiras tarifárias e quarentenas, o que criou enormes dificuldades para as balanças comerciais da Europa e do resto do mundo, inclusive do Brasil. Muito longe de ter resolvido a crise de 1929, o New Deal, de inspiração keynesiana, a prolongou, tornou mais cruel o sofrimento dos cidadãos e contribuiu em grande medida para a eclosão da 2ª Guerra Mundial.

Como dizem os italianos, “andiamo”:

Ao contrário do que diz muita gente que assimilou mal os ensinamentos de Keynes, esses programas não consistiam em expandir permanentemente despesas correntes dos governos, mas, sim, em estimular grandes investimentos, geralmente em obras de infraestrutura, que se encarregassem de gerar encomendas e de mobilizar capacidades ociosas, ou seja, de empregar mão de obra parada para criar renda e ajudar a colocar em marcha uma economia estagnada pela crise. Quando terminavam, esses projetos não eram retomados. Eram investimentos tipo once for all, como dizem os ingleses.

Como fã de carteirinha, Ming defende seu ídolo apresentando-o como um “incompreendido” e destaca que sua receita é de dose única, apenas o suficiente para “estimular grandes investimentos, geralmente em obras de infraestrutura”. Porém, como houve em seu texto de se fazer de bobo perante todo um histórico recorrente de expansões monetárias sem lastro protagonizadas pelos perdulários governos europeus, bem como à concessão estelionatária de créditos sem reservas pelos bancos com estes mancomunados?

O socialista da terceira via, pelo visto, desconhece a diferença entre “produzir” empregos e “gastar” empregos. O problema de toda cabeça contaminada pelo fungo do Iddiotismum marxistae tem sido justamente este, o que seja, imaginar que o julgamento de conveniência e oportunidade que os políticos fazem sobre tais inversões é melhor do que o dos particulares.

Ledo engano: empresários investem em seus negócios, ampliando-os e gerando novas frentes de trabalho, isto é, “produzindo” empregos, sendo que todas as suas ações sujeitam-se ao critério dos consumidores, estes sim os que decidem em última instância sobre o que é mais urgente e necessário produzir.

Os políticos, a revés, não dependem de consumidores, vez que os recursos com que se financiam são tomados à força por meio dos tributos, motivo pelo qual suas obras - que “gastam” empregos – não são decididas com a finalidade de obtenção de lucros, mas de votos, daí preferirem os empreendimentos mais ostentativos e supérfluos: aí estão o trem-bala e as obras para a Copa e para a Olimpíada, como exemplos cabais.

O keynesianismo é o ópio dos órfãos de Karl Marx: como uma verdadeira droga, a política fabiana de estímulo ao consumo provê uma sensação temporária de bonança e prosperidade, dado que se vê em todos os lugares rostos felizes comprando casas, carros e eletrodomésticos ou viajando a passeio. Todavia, quando os recursos acabam e a dívida generalizada e crescente exige sua satisfação, a falta de investimentos causada pela rapinagem da poupança requer a necessidade de mais injeções do papel pintado, daquele que os governos chamam de moeda e nos impõem o uso sob pena de prisão, mas que no entanto, provocam períodos de êxtase cada vez mais breves e depressões progressivamente mais profundas.

Nos últimos parágrafos, por fim, o periodista reconhece que não há mais espaço para que o plano infalível do britânico seja repetido, ao que apresenta uma possível saída: “Tudo indica que as coisas têm mesmo de começar com emissões de moeda pelo BCE para recomprar títulos públicos hoje rejeitados.

Como assim? Mais expansão monetária? Será que Ming, por meio de tão infeliz afirmação, percebeu que tornou a recomendar Keynes em ato contínuo ao de tê-lo descartado? Será que desconhece que a Casa da Moeda é a incubadeira do dragão, e este, por sua vez, é o fiscal da Receita Federal, vestido à paisana?

Não há nada na economia de um país que divirja da de um lar, a não ser as proporções. Ludwig von Mises tinha a dona-de-casa como o modelo de economista por excelência. Ora, se uma família em crise precisa ajustar suas contas gastando menos dinheiro do que produz, porque alguém haveria de propor para uma nação o aumento do consumo e do endividamento? A resposta pode bem estar no estilo de vida pessoal que Lord John Maynard Keynes adotava, de modo que o horizonte de sua visão de futuro não lhe distasse mais que alguns anos, o que lhe permitiria dizer: “dane-se o mundo que não me chamo Raimundo”.

Para que não haja confusões conceituais, defendo que a crise europeia – assim como o Brasil, cujo destino seguirá o mesmo caminho se nada for feito – depende sim de austeridade fiscal dos governos, mas também da extinção do papel-moeda de curso forçado sem lastro, dos bancos centrais e do sistema bancário de reservas fracionárias; do alívio da carga tributária e da intervenção estatal sobre a atividade produtiva, e principalmente, do fim do estado previdenciário que gasta com empregos desnecessários e sustenta gordas aposentadorias e benefícios sem riqueza suficiente para mantê-los.

Uma luz no fim do túnel – luz não, um lampejo ou uma faísca - ouvi de um discurso recente da Primeira-Ministra Angela Merkel, no sentido de que as futuras gerações não podem ser sacrificadas por governos irresponsáveis e pródigos. Como diz o ditado, “a fome ensina a pescar...”.

Por fim, termino com uma recomendação ao Sr jornalista Celso Ming: - vá criar vergonha na cara!



PS: Para quem quiser conhecer um excelente trabalho sobre a vida e a obra de John Maynard Keynes, recomendo o excelente artigo “A teoria econômica de Lord Keynes e a ideologia triunfante do nosso tempo”.

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