quarta-feira, 16 de novembro de 2011

"Estudante" da USP comenta invasão

Mídia Sem Máscara

"Fomos torturados pela PM."

Falei de novo com o “estudante” da USP. Ele já se encontra em seu condomínio nos Jardins, depois de ter sido desalojado pela Polícia Militar numa ação “truculenta, reacionária e antipovo”, como ele qualifica a operação de reintegração de posse da reitoria.

Qual é o saldo da invasão?

Este ano nós decidimos acabar com o capitalismo, com os Estados Unidos, com a opressão de gênero e com ordem burguesa em geral. Também queríamos que a biblioteca comprasse mais livros da coleção História e Verdade, da Editora Stalin. Esses pontos vão ficar pra outra etapa da luta. O importante é que conseguimos mostrar pro Brasil a truculência da PM.

Como assim conseguiram? A PM espancou alguém?

Os PMs olharam feio pra vários companheiros nossos e esqueceram de pedir "por favor" quando levaram a gente pra delegacia. Também há relatos de que um policial levou uma mãozada na cara de um companheiro. É um absurdo.

De fato, é um absurdo um policial levar tapa na cara no cumprimento do dever.

Você não me deixou terminar. O policial revidou com um golpe de cassetete. É um absurdo. Polícia não pode bater em jovem. É preciso respeitar nosso direito humano de bater sem represália da polícia assassina.

Você está afirmando que a operação da PM resultou em algum estudante morto?

Tentaram matar a nossa luta, o nosso ideal. Isso já é homicídio. O Brasil precisa saber que fomos torturados dentro do ônibus da PM.

A denúncia é grave. Em que consistiu a tortura?

Fomos proibidos de usar palavras como “fascista”, “ditadura”, “opressão” e “elite” durante o trajeto até a delegacia. Alguns companheiros tentaram protestar, mas engasgaram e entraram em choque. Teve gente que foi obrigada a tomar banho. Um policial fez um comentário insinuando que deveríamos arrumar emprego. [Exaltado] O clima foi de terror. A imprensa tem que divulgar isso.

A USP botou a PM no campus depois que assaltantes mataram um estudante, em maio deste ano. Saiu agora uma pesquisa mostrando que a maioria universitária quer a PM lá.

Somos minoria, mas e daí? O mundo não é perfeito. Eu, por exemplo, tive que deixar meu Polo Sedan na garagem durante a ocupação porque a luta exige o jogo de cena. O fato é que a PM foi colocada no campus pra reprimir os anseios populares, pra esmagar nosso ideal de um mundo melhor, onde podemos traficar drogas num ambiente de liberdade e viver eternamente à custa dos trabalhadores. Opa, peraí [O entrevistado nota que falou mais do que devia]. Apaga esse trecho. Apagou? Pronto, vamo lá. A PM foi colocada no campus pra atrapalhar o ambiente de estudo. A gente quer estudar e a PM não deixa.


Publicado no Jornal O Estado.


Bruno Pontes
é jornalista.

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