Mídia Sem Máscara
| 13 Julho 2010
Internacional - América Latina
Este grupelho de familiares e achegados encontraram nos ataques à Colômbia uma grande forma de viajar grátis, comer grátis, ser famosos, viver protegidos e dar-se à grande vida do jet set europeu.
O que Yolanda, Astrid e Daniel, Juan Carlos y Fabrice, Melanie e Lorenzo fizeram à Colômbia teve um custo muito alto, que ninguém lhes cobrou. O seqüestro é a tragédia humana mais cruel da qual eu tenha consciência. Pensar em que pelas próprias imprudências ou abertas negligências de uma pessoa se mereça estar seqüestrada sete anos é inconcebível, insensato, injusto e inumano. Porém, nenhum colombiano pode se converter hoje no proprietário do monopólio da dor e do sofrimento.
Este é um país em que todos pusemos nossa quota, uns pior que outros, sem dúvida, porém ninguém passou invicto. Advertiram a Ingrid sobre o altíssimo risco que representava sua viagem a San Vicente; a melhor recopilação está, talvez, no primeiro livro do francês Jacques Thomet sobre o assunto, então diretor da agência de imprensa AFP em Bogotá, que escreveu esta semana em seu blog pessoal um artigo intitulado "Que a justiça colombiana me interrogue! Tenho a prova escrita e os testemunhos para demonstrar que Ingrid Betancourt desobedeceu ao Governo e provocou assim seu seqüestro em 2002".
Ninguém na Colômbia duvida sobre a imprudência de Ingrid ao assumir o risco que a levou a entregar-se nas mãos das FARC. Porém, nem por isso ela mereceu estar seqüestrada sete longos anos. Não devemos confundir as coisas. Durante o seqüestro, recebemos de Ingrid escassas provas de vida e a que mais lembramos é a do famoso vídeo no qual não falou e a via-se destruída, foto que saiu na primeira página dos jornais do mundo todo. Ela é uma vítima do seqüestro, porém não é a única, nem a mais sofrida, nem a mais valente, nem a mais nada. É uma vítima a mais da tragédia colombiana, uma vítima imprudente, que provocou sua desgraça, porém nem por isso a merecia.
Entretanto, não posso dizer o mesmo nem ser tão condescendente com sua especial família. Sua mãe, sua irmã, seu cunhado (ou ex), seu esposo e o ex-esposo, seus filhos, e a isso se lhe somam um punhado de políticos, funcionários e representantes de ONGs francesas e européias que se dedicaram a viver da causa de Ingrid. Repartiram a herança e o legado de Ingrid com ela em vida, apodrecendo no meio da selva, e dedicaram-se a construir suas grandes fortunas ao imensurável custo da imagem de uma Nação, de um Governo e de um povo.
Este grupelho de familiares e achegados encontraram nos ataques à Colômbia uma grande forma de viajar grátis, comer grátis, ser famosos, viver protegidos e dar-se à grande vida do jet set europeu. Esta gentalha nunca pensou em um País que lidera uma batalha com o coração (a mesma batalha que devolveu a liberdade de Ingrid), nem nas trinta mil famílias que padeceram do mesmo sofrimento. Não, eles acreditaram que eram os donos da dor dos colombianos e agora, com descaramento e sem-vergonhice, pretendem cobrá-lo.
Os insultos, humilhações, menosprezos e ataques que a Colômbia sofreu por conta desta mistura explosiva de interesses econômicos e sentimentos fortes, nem sempre postiços, foram muitos. O esforço da Colômbia por defender uma Nação dos ataques deste grupelho custou milhares de euros: se enredaram acordos comerciais entre nações, intercâmbios de bens, produtos e serviços foram para o ralo e contam-se em milhares as páginas negras escritas na imprensa européia sobre o meu país, arruinando o investimento estrangeiro e o turismo para não me aprofundar em mais temas. O custo político não foi menor: libertaram-se chefes guerrilheiros por petição de governos estrangeiros, e tivemos que suportar as famosas "exigências" da família e dos governos da França e outras nações, opondo-se ao resgate e "exigindo" da Colômbia sua libertação.
Pelo respeito que a condição humana merece de minha parte não quero me aprofundar nas mesquinharias que este grupo de gente inventou contra nossa Pátria, valendo-se do nome de uma vítima que não podia opinar e não sabia o que faziam os de fora. Porém, hoje que Ingrid é livre unicamente graças à vontade férrea e valente do Governo da Colômbia (leia-se Álvaro Uribe), não entendo que seja ela quem reja sua atuação contra um país que lhe deu tudo, e que deu tudo por ela.
O embaixador Daniel Parfait sabe do que estou falando, como também o sabe o ex-ministro Dominique de Villepin. Lecompte se deu conta sete anos depois e Sarkozy já padece disto. Até quando vamos dar a face a estas águias do sofrimento colombiano? Que nos paguem eles, tudo o que nos fizeram!
* Ex-Ministro Plenipotenciário da Colômbia na França
Tradução: Graça Salgueiro
Título original: O que a família de Ingrid Betancourt fez à Colômbia teve um custo muito alto que ninguém lhe cobrou.
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