segunda-feira, 26 de julho de 2010

Que lindeza de indignação

Mídia Sem Máscara

É a mente deformada do esquerdista: se o empresário tem o direito de ignorar o filme de Lula (que nem a Dilma Rousseff assistiu), por que o editorialista se queixa de maneira tão hiperbólica, a ponto de enxergar no episódio uma ameaça ao Estado de Direito?

No dia 4 de junho passado, o editorialista do jornal O Povo, de Fortaleza, chamou de "atentado abominável" a operação israelense que deu fim ao passeio do barco do amor a serviço do Hamas. Comentei o editorial aqui. Vale a pena ler de novo a sentença condenatória:

"A posição agressiva de Israel, por mais atenuada que seja pela consideração de que vive em guerra permanente com os vizinhos, não pode ser aceita pelo mundo, pois um Estado não tem o direito de agir como uma facção armada, pois está submetido a uma institucionalidade internacional mínima, sem o acatamento da qual o mundo se entregaria à barbárie".

Neste outro trecho, o sujeito finge que não viu as cenas gravadas por Israel e inocenta os coitados dos militantes pacifistas do Hamas, cuja "manifestação política" (facadas, tiros e cacetadas nos soldados israelenses) foi respondida de forma - você já sabe qual é o adjetivo - desproporcional:

"(...) Não passa pela cabeça de ninguém que os militantes pacifistas levassem armas nas embarcações, visto que estas corriam o risco de ser submetidos a uma fiscalização por Israel. Que tenha havido algum tipo de reação de inconformismo diante do assalto dos barcos pelas tropas israelenses, isso é de esperar quando se lida com manifestações políticas de massas. Mas, a resposta foi desproporcional ao desafio, já que partiam de pessoas desarmadas, enquanto o outro lado contava com um poder de fogo descomunal".

A propósito: por onde anda a cineasta pacifista militante humanitária brasileira Iara Lee, aquela que anunciou ter filmado os soldados israelenses chacinando os militantes humanitários pacifistas internacionais a bordo do barco do amor do Hamas?

Assessor das Farc
O editorialista d´O Povo possui um acentuado senso de dignidade. Vejamos agora outro caso. Quando Juan Manuel Santos foi eleito presidente da Colômbia, ele manifestou-se imediatamente. Contra Santos e a favor das Farc:

"Ainda não foi desta vez que uma eleição presidencial na Colômbia trouxe a possibilidade de paz, no país, que enfrenta uma guerra intestina há mais de quatro décadas. O grupo guerrilheiro das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) disse em um comunicado que a eleição do ex-ministro da Defesa Juan Manuel Santos para a presidência da Colômbia levará a 'um processo de radicalização da luta política' no país. A abstenção de 55% e o uso da máquina em favor do candidato oficial foram apontados pelos guerrilheiros como fatores de contestação da eleição".

Não podemos acusá-lo de dubiedade. Abriu o texto mostrando que, entre o governo democrático da Colômbia e um grupo terrorista que seqüestra, tortura e mata, fica com o grupo terrorista que seqüestra, tortura e mata. A guerra intestina só chegaria ao fim se o povo colombiano elegesse um presidente do agrado das Farc e dos membros do Foro de São Paulo. Outra reivindicação do editorialista é a transformação de seqüestradores, torturadores e assassinos em vereadores, deputados e presidentes:

"Espera-se, contudo, que apesar de o novo presidente já vir marcado por sua atuação no Ministério da Defesa, aproveite o início de um novo governo para tentar novamente uma saída pacífica para o conflito. Só um acordo político abrangente que convença os guerrilheiros a disputarem as eleições, como partido legal, e a respeitarem as regras do jogo democrático (desde que lhes seja assegurada uma participação efetiva na vida política do país) poderia fazer com que essa longa tragédia chegasse ao fim e a Colômbia recuperasse sua paz interna. É o que todos seus vizinhos desejam".

Belíssimo! É o que o Foro de São Paulo deseja. O próprio Lula, fundador do grêmio, já aconselhou publicamente as Farc a virarem partido político e disputarem eleições.

A última do nosso herói
Recordei a posição do editorialista ante os episódios citados para comentar seu mais recente discurso em nome da justiça. "Liberdade coagida" é o título do editorial de 20 de julho. Vê-se logo que o negócio não é brincadeira. A partir de uma notícia que lhe pareceu revoltante, o sujeito discorre sobre a liberdade de expressão.

A notícia revoltante: segundo a Folha de S. Paulo, um distribuidor de filmes nos Estados Unidos recusou-se a comercializar "Lula, o filho do Brasil" por conta do acordo nuclear firmado entre o Estadista Global e Mahmoud Ahmadinejad, aquele que quer varrer Israel do mapa. O editorialista d´O Povo ficou contrariado com o insulto à vida e à obra do brasileiro. Acompanhe:

"Uma notícia publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, nesta segunda feira, deve adicionar mais elementos ao debate sobre liberdade de expressão, no Estado Democrático de Direito. Nos Estados Unidos, o filme "Lula, o filho do Brasil" corre o risco de ficar de fora do circuito de salas de cinema locais por decisão de um distribuidor local.

Segundo a matéria jornalística, tudo se deve ao fato de que o grande distribuidor dos filmes brasileiros no mercado estadunidense, por razões ideológicas, não concordou com o acordo nuclear negociado por Brasil e Turquia com o presidente iraniano Mahmoud Ahmadinejad. Por ser judeu, o distribuidor achou que divulgar o filme de uma personalidade política - Lula - que rejeitou a aplicação de medidas punitivas, automáticas, ao Irã, preferindo a negociação, seria compactuar com a política anti-israelense do governo iraniano".

É possível que o filme tenha recebido o desprezo caloroso do(s) empresário(s) por ser uma sessão de tortura audiovisual condenada ao fracasso apoteótico. Nos Estados Unidos, cinema é indústria privada. Os caras são espertos, não gostam de perder dinheiro. Eles sabem que milhões de brasileiros não foram ver o filme no cinema. Acho que nem os meus tios petistas arriscaram os 10 reais do ingresso. Mas deixa pra lá. A título de argumentação, optarei por comprar a versão do editorialista. Vou acreditar por um instante que um único distribuidor manda em todo o circuito do cinema nos Estados Unidos e, portanto, está em condições de ameaçar o Estado Democrático de Direito daquele país (pausa pro riso).

Continuando. A tal política anti-israelense do governo iraniano consiste em financiar grupos terroristas como o Hamas e o Hezbollah, que banham Israel com foguetes lançados de Gaza e do Líbano, e desenvolver armas atômicas para jogar os judeus no mar e varrer seu país do mapa. Não é o anti-israelismo de quem proclama que os israeleses são feios, bobos e cafonas. É o movimento organizado e influente pela destruição literal do lar judeu e de seus ocupantes. Boicotar uma máfia dessas me parece um gesto razoável. Mas observem o que o editorialista diz a seguir. É o trecho que considero mais intrigante:

"Que alguém possa ter uma opção ideológica dessa natureza é um direito legítimo de quem é cidadão numa sociedade livre. O grave é quando essa leitura se torna impositiva e um obstáculo real para que outras pessoas possam ter acesso a informações de outro tipo. Ou - o que é mais grave ainda - contamine qualquer outra abordagem, mesmo que não tenha relação direta com a objeção principal, como é o caso de um filme sobre a vida do presidente brasileiro que (levado por razões de Estado, numa área pertinente à sua soberania), decidiu manter relações normais com o personagem visado".

É a mente deformada do esquerdista: se o empresário tem o direito de ignorar o filme de Lula (que nem a Dilma Rousseff assistiu), por que o editorialista se queixa de maneira tão hiperbólica, a ponto de enxergar no episódio uma ameaça ao Estado de Direito? Porque Lula é seu totem. O empresário pode ter opiniões, mas deve guardá-las para si, dentro dos limites do crânio. Ao passar do pensamento ao ato, boicotando um bandido que viabiliza a bomba nuclear de outro, o distribuidor de filmes comete a falha de usar "um direito legítimo de quem é cidadão numa sociedade livre". O direito que ele tem é o direito de calar a boca e ficar quieto.

Por causa de uma opinião que, como nos ensina o editorialista, não deveria motivar uma atitude, o empresário condenará a América a não ver a puxação de saco cinematográfica de Lula. Torço para que os Estados Unidos consigam se recuperar do prejuízo cultural. Se bem que, ao encerrar minha intervenção, sou tomado por um cortante sentimento de culpa. Não pega bem debochar em cima de coisa tão grave. Não se trata apenas de um filme. Para o editorialista do jornal O Povo, o mesmo que faz assessoria de imprensa para as Farc e o Hamas, os americanos tiveram sua LIBERDADE COAGIDA.

Bruno Pontes é jornalista - http://brunopontes.blogspot.com

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