Mídia Sem Máscara
Percival Puggina | 28 Julho 2010
Artigos - Religião
A campanha em si é como frango refrigerado, não tem pé nem cabeça. Só serve para que os revolucionários se sintam fazendo revolução. Seu único produto é a aporrinhação ideológica, tão ao gosto da Teologia da Libertação, para a qual a pobreza será superada mediante a total destruição da riqueza.
Era bem antiga a minha curiosidade sobre como os grupos radicais da CNBB conseguiam dar trânsito às suas estapafúrdias propostas e fazer com que elas venham a público sob as bênçãos da entidade, para serem acolhidas como se representassem a posição da Igreja. Essa curiosidade ressurgiu quando eu soube que a CNBB acolhera e dera curso à Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra.
Como uma coisa dessas passa pelo plenário? Eu sabia que, para vários efeitos, havia uma diferença entre os documentos de capa verde da CNBB (estudos para discussão) e os de capa azul (oficializados pela instituição). Mas quantas pessoas no País são capazes de fazer essa distinção? Pois foi com esse devastador argumento, o de que a proposição do plebiscito sairá com capa verde e não com capa azul, que os bispos proponentes da campanha conseguiram a concordância dos colegas.
O leitor não acredita?
Vá ao blog de D. Cristiano (www.domcristiano.com.br) e leia o artigo Um plebiscito para dividir fazendas? Ali, o bispo de Jequié acende a luz do plenário e mostra (viva a internet!) que o processo usado pela ala canhota da CNBB para fazer o que lhe dá na veneta é o mesmo dos mal-educados que chegam tarde e querem assistir ao show na primeira fila: metem uma perna por baixo, um ombro por cima e se posicionam onde querem, contando com a inerte tolerância dos demais ("quando um bispo assume posições muito definidas, os outros não gostam de apresentar opiniões diferentes").
Quanta falta de firmeza, eminências! É assim, então, que irá às ruas, com o selo da CNBB, o plebiscito que visa a colher apoio popular para fixar em 35 módulos rurais a máxima extensão legal das propriedades de terra no Brasil.
A campanha em si é como frango refrigerado, não tem pé nem cabeça. Só serve para que os revolucionários se sintam fazendo revolução. Seu único produto é a aporrinhação ideológica, tão ao gosto da Teologia da Libertação, para a qual a pobreza será superada mediante a total destruição da riqueza. A iniciativa segue a constrangedora tradição do anterior plebiscito pelo calote da dívida externa, prestidigitação sacada da mitra de alguns prelados, em 2000, como um achado de cartola de mágico. Você lembra, não é, leitor? "Não se deve pagar a dívida com o sangue do povo!".
Todos riam na foto que registrou o momento solene em que alguns bispos entregaram ao presidente Fernando Henrique o resultado do tal "plebiscito". As grandes bobagens são assim, provocam grandes risadas. A CNBB endossava o discurso dos petistas que hoje riem, orgulhosos, por estarem pagando a dívida antecipadamente. Há quem goste de fazer esse tipo de papel.
Agora, a CNBB entra na linha do PNDH-3 e o artigo de D. Cristiano dá o serviço sobre como se passaram as coisas na reunião dos bispos em Brasília. O esclarecimento ganha relevo porque contém o relato da infrutífera resistência do autor ao trânsito da matéria pelo plenário: a proposta, assumida por pastorais, foi apresentada por uma comissão nomeada pela presidência e foi endossada pela maioria em virtude daquela tolerância que os moderados têm perante a intolerância dos imoderados.
De nada valeu, bem se vê, a eloquente e firme exortação feita por Bento 16 aos bispos brasileiros do Sul III e IV em fins de dezembro do ano passado quando os advertiu para "o perigo que comporta a assunção acrítica, feita por alguns teólogos, de teses e metodologias provenientes do marxismo, cujas sequelas mais ou menos visíveis, feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa e anarquia fazem-se sentir ainda, criando, nas vossas comunidades diocesanas, grande sofrimento e grave perda de forças vivas". Tudo indica que o discurso do Papa entrou por um ouvido e saiu pelo outro.
É surpreendente essa inclinação da CNBB para a autofagia pastoral, ora se associando a iniciativas e teses tresloucadas, ora sapecando a sua sigla e marca em tolices como as que povoam os Documentos-Base das últimas Campanhas da Fraternidade. É um fato tão lamentável quanto verdadeiro: qualquer empresa privada é mais zelosa com sua imagem e com o que é feito em seu nome do que a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
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