sábado, 21 de agosto de 2010

A análise de Elio Gaspari

Mídia Sem Máscara

Temos os institutos de pesquisa sob suspeita e a mídia, exemplificada pela própria ação de Elio Gaspari, enganando o eleitorado leitor de forma vil. E a covardia habitual das lideranças do PSDB para enfrentar o continuísmo petista, um perigo para as instituições democráticas.

Quero comentar aqui o artigo de Elio Gaspari ("Modelo Serra Palin emborcou") publicado ontem (18) na Folha de São Paulo, pois ele é muito relevante como instrumento para explicitar os desacertos da candidatura de José Serra à Presidência da República e o modo de operação do PT, que está firmemente determinado a se manter no poder a qualquer preço.

O primeiro ponto é que o articulista da Folha de São Paulo aceita como de boa fé o resultado das pesquisas eleitorais de intenção de votos que têm sido divulgadas. Nem mesmo a variação extrema que apresentam entre si leva Elio Gaspari a pensar que pode haver algo de muito estranho acontecendo dentro dos institutos. Eu tomo o que já apontei anteriormente no Datafolha para duvidar que essas pesquisas estejam corretas: aquele instituto registrou crescimento na intenção de votos na candidatura de Geraldo Alckmin para governador do Estado e queda na preferência por José Serra no eleitorado paulista. Não houve qualquer fato novo para que os paulistas viessem a repudiar seu antigo governador, aliás tido como bom governante e que tem amplo amparo partidário no Estado, sem as traições verificadas em outras localidades em que o PSDB governa.

Essa óbvia inconsistência não foi sequer notada. Os demais institutos parecem estar praticando o campeonato para ver quem aumenta mais a vantagem de Dilma Rousseff em relação a José Serra, sem qualquer pé na realidade factual. Tenho a sensação que essas pesquisas estão enviesadas pelo esmagador poder econômico e político do governo federal, controlado pelo PT. Não tem havido qualquer fato novo que justifique esse descolamento da candidata Dilma Rousseff de José Serra. Tais notícias sobre pesquisas mais parecem fato midiático inventado para induzir o eleitorado para os braços do PT. Ao menos para o eleitorado paulista eu ponho em dúvida a veracidade dos resultados divulgados.

Que paralelo há entre Sarah Palin e José Serra? Nenhum. Serra sempre foi de esquerda, sempre apareceu sereno e tranqüilo aos seus eleitores e não tem nenhuma verve mais exaltada. Sarah, ao contrário, abraça abertamente as teses da direita mais radical, é implacável na sua retórica e sempre se opôs de forma inflexível ao adversário, Barack Obama. O jornalista Elio Gaspari foi muito infeliz na sua analogia e mais parece querer passar a mensagem para seus leitores de que José Serra é um "perigoso" direitista. Propaganda subreptícia da Dilma? A mim me parece. Propaganda enganosa, diga-se.

O discurso destoante de José Serra em relação ao seu passado de esquerda se concentra em três pontos, que nada contêm de radicais: 1- Rever a política econômica, sobretudo a política monetária, que tem sido o instrumento pelo qual os rentistas do Brasil têm se apropriado de forma crescente do orçamento público. Nenhuma racionalidade econômica justifica a manutenção artificial dessa taxa de juros básica elevada, a maior do mundo. Claro que isso colocou a plutocracia contra ele, tanto que sua candidatura tem tido dificuldades de levantar recursos para financiar a campanha. O candidato dos muito ricos é Dilma Rousseff, não José Serra, suposto direitista. 2- Sua proposta de enfrentar com força federal o tráfico de drogas e o crime organizado. A ver o que se passa no México, na Colômbia e em outros países dominados pelo narcotráfico, José Serra está certo. Claro que isso equivale a uma declaração de guerra às FARC, aliadas do PT no âmbito do Foro de São Paulo e acusadas de ter financiado a candidatura de Lula anteriormente; e 3- Mudança na política exterior, acabando com a relação promíscua do governo brasileiro com governos delinqüentes, como o do Irã e da Venezuela.

Assim Gaspari fechou o artigo: "Quatro meses de campanha crispada renderam nada aos tucanos. Em março, ao deixar o governo de São Paulo, Serra lembrou-se de Guimarães Rosa: 'Mestre não é quem ensina, mestre é quem, de repente, aprende'". Campanha crispada? Quem viu isso? Tirando a coragem do candidato a vice do Serra, de fazer a ligação direta entre o PT e as FARC, o que se tem é uma campanha de compadres, com José Serra se recusando a adotar o único campo não controlado pelo PT, a centro-direita, que lhe garantiria as eleições. O telhado de vidro do PT é imenso, basta que o candidato venha a público contar o que aqueles que são bem informados já sabem e que, ao invés de pôr Índio da Costa para bater no ponto das FARC, ele mesmo o faça. Guimarães Rosa entrou aí como Pilatos no Credo. Nada a ver. Serra sempre soube ser esquerdista de carteirinha.

Em resumo, temos os institutos de pesquisa sob suspeita e a mídia, exemplificada pela própria ação de Elio Gaspari, enganando o eleitorado leitor de forma vil. E a covardia habitual das lideranças do PSDB para enfrentar o continuísmo petista, um perigo para as instituições democráticas. Os brasileiros são vítimas da conspiração midiática e da covardia e omissão das únicas lideranças que poderiam servir de obstáculos aos planos hegemônicos e continuistas do PT.

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