quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Uribe: o Churchill da América do Sul

Mídia Sem Máscara

Armando Ribas | 11 Agosto 2010
Internacional - América Latina

Essa guerra centra-se não entre os estados mas dentro de cada estado. Ou seja, o verdadeiro risco é enfrentado pelos povos dos distintos estados, e essa realidade parece óbvia hoje na Colômbia, pois a liberdade ali enfrenta as FARC e na Venezuela enfrenta a Chávez.

As recentes declarações do presidente Uribe a respeito do plano da UNASUL, para o restabelecimento das relações entre a Colômbia e a Venezuela, colocam-no como o Churchill da América do Sul.

Como se recordará, Chamberlain e Deladier concorreram à reunião de Munique, com Hitler, onde entregaram a Checoslováquia às hostes nazistas. Ao regresso de Chamberlain à Inglaterra, Churchill fez a seguinte declaração pública: "Perderam a honra para evitar a guerra, e agora terão a guerra sem a honra". Suas palavras foram lamentavelmente proféticas, e com o tempo, Hitler violando o tal acordo invadiu a Polônia em conivência com Stalin, de conformidade com o pacto Ribbentrop-Molotov para repartir a Europa.

O fato da aproximação do final do seu mandato, de conformidade com a lei colombiana, não obstante seu reconhecimento popular, coloca a Uribe na situação inversa à que enfrentara Winston Churchill em 1939. Naquela oportunidade Churchill estava longe de ser popular e tanto que, segundo lembro, não o publicavam no Financial Times. Portanto, o fracasso da falácia de Munique permitiu que os "spitfires" aparecessem como dissera Churchill: "Nunca antes, tantos deveram tanto a tão poucos".

As palavras de Uribe são contundentes e, desde meu ponto de vista, testemunhas da realidade que enfrentamos, à qual denominara em alguma oportunidade como "a paz quente". Assim disse Uribe, referindo-se ao suposto acordo para se discutir na Cúpula da UNASUL: "Se querem ajudar a que se recupere o problema guerrilheiro, que então digam à guerrilha que está lá (na Venezuela) que se desmobilize, que os fiscais da Colômbia vão até eles e os tragam aqui, submetidos a todas as garantias". E com mais razão ainda, o chanceler colombiano, Jaime Bermúdez, advertiu que apresentará "um arsenal de provas contra a Venezuela".

Esperemos que a reversão situacional à qual me referi, não implique em que o acesso ao poder do presidente Santos se constitua no Chamberlain desta nova Munique da América, reconhecida como a Cúpula da UNASUL. Como disse antes, a América Latina, talvez em maior extensão que o resto do denominado mundo Ocidental, vive em suas entranhas a Paz Quente. Quer dizer, o enfrentamento entre a liberdade como expressão do Rule of Law (os limites do poder e o respeito pelos direitos individuais), e o que denominei o "obscurantismo da razão", expressado na ideologia marxista e hoje vivendo sob o disfarce da demagogia supostamente democrática. (Olocracia, segundo Polibio). Isto é, a substituição do direito divino das leis pelo direito divino dos povos, ou seja, a "razão de Estado".

Como disse muito bem Vladimir Bukovsky recentemente no CATO: "A guerra fria foi uma confrontação entre a democracia liberal e o socialismo totalitário. Foi uma batalha ideológica, uma guerra de idéias. E uma guerra que nunca ganhamos". Podemos dizer que a Paz Quente, independentemente do atual enfrentamento entre a Colômbia e a Venezuela, essa guerra centra-se não entre os estados mas dentro de cada estado. Ou seja, que o verdadeiro risco é enfrentado pelos povos dos distintos Estados, e essa realidade parece óbvia hoje na Colômbia, pois a liberdade ali enfrenta as FARC e na Venezuela enfrenta a Chávez. Quer dizer, a luta não é pela suposta dominação mundial, senão por alcançar o poder político absoluto interno. Em outras palavras, uma Cuba continental.

O fracasso na recente reunião da UNASUL para conseguir um acordo que superasse o conflito entre a Colômbia e a Venezuela, mostra às claras a natureza do entrevero. O que se pode fazer para evitar um enfrentamento, quando é óbvio que a ideologia totalitária de Chávez condiz com a das FARC? E o que a Colômbia pode fazer, quando tem em suas fronteiras um amigo de seu inimigo? Certamente toda a tentativa da Colômbia de que Chávez não apóie as FARC, que são seus aliados ideológicos, é um sonho de uma noite de verão. E não esqueçamos que o movimento 26 de Julho que impera em Cuba por mais de 51 anos, é o reflexo sinistro das FARC colombianas. E assim como parece que o mundo pretende ignorar os crimes de Fidel Castro e seu irmão (Raúl), não é difícil conceber que se está fazendo o mesmo com a guerrilha colombiana.

É evidente que o "politicamente correto" se encontra na esquerda, em nome dos direitos do povo, não obstante que na prática esse discurso se constitui na opressão dos povos em seu próprio nome, tal como disse o Padre Félix Varela. No continente, é óbvio que Lula também está mais perto de Chávez e Castro do que de Uribe. Portanto, independentemente de seus logros no Brasil sua ideologia continua sendo supostamente aquela que o levou ao poder, e que agora se amplia com seu apoio à candidata guerrilheira Dilma Rousseff.

Foi assim que se manifestou, dizendo que o enfrentamento entre a Colômbia e a Venezuela não era real senão verbal, e portanto está disposto a falar com Santos e Chávez. Aparentemente houve uma desaprovação pela ausência de Kirchner, porém, acaso cabe alguma dúvida de qual lado se encontra o governo argentino entre Chávez e Uribe?

Certamente já sabemos, por mais que a Srª Clinton o ignore, de qual lado se encontra o presidente do Equador. E recentemente tivemos uma má notícia a respeito do Chile nesta guerra psicológica. Segundo as pesquisas, a popularidade do presidente Piñera caiu para 45%. Diz-se que é por causa da situação econômica, porém se é assim, o que se ignora é que a reavaliação do peso, de 52% entre 2001 e 2010, não foi culpa do atual presidente. Desde meu ponto de vista, é provável que sua posição na luta continental algo ambígua, dado suas origens, pode ter causado uma certa decepção entre seus partidários.

Em geral, pretende-se ignorar as últimas notícias referentes às guerrilhas das FARC dispersas pelo continente e que estimam-se em uns 15.000 homens. Tanto é assim, que o presidente eleito da Colômbia parece encaminhado a fazer o papel de Chamberlain em Munique. Assim, ao menos soam suas palavras, que tal como chegaram a meus ouvidos, dizem: "que respeita Uribe e que vai cuidar do seu legado, porém que não vai comprar suas brigas". Primeiro, não está claro qual é o legado que vai cuidar, e não suas brigas, quando a realidade é que Uribe não gerou suas brigas com as FARC, senão que é o povo da Colômbia quem as sofre, nem tampouco o fato evidente de que Chávez apóia seu inimigo.

E por último, qual é a posição dos Estados Unidos? Já vimos que na Segunda Guerra Mundial foi necessário esperar por Pearl Harbour. Por outra parte, a guerra contra o terrorismo começou com o atentado de 11 de setembro. Porém, o terrorismo não se esgota no mundo muçulmano, senão que aflora em nossas terras da mão do obscurantismo da razão, engendrado pelo totalitarismo marxista prevalecente.

Que mal lhes pese, não há dúvidas de que a liberdade no mundo através da história dependeu da Casa Branca, não obstante os erros de política que podemos lamentar. Creio que está na hora de que se dêem conta de quem são os que estão contra a liberdade em nosso continente, e me pergunto qual é o fato que poderá determinar que tomem alguma decisão a respeito.

Fonte: Diario las Américas (Miami).

Tradução: Graça Salgueiro

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