Mídia Sem Máscara
| 16 Outubro 2011
Artigos - Cultura
“A origem da História é a consciência humana (…) a História é constituída pela consciência.”
Eric Voegelin, em ‘A Consciência do Fundamento’.
Este conceito de “História” consta de um opúsculo precioso de Eric Voegelin, o “filósofo maldito” que muita pouca gente estuda — se bem que eu duvido que muitos licenciados em filosofia tenham a capacidade necessária para entender Eric Voegelin; não estudar Eric Voegelin é desculpar insuficiências próprias. Penso até que Eric Voegelin se tornou ininteligível: o conceito de Fundamento deixou de ter um sentido na experiência humana objectiva: o Fundamento sobrevive, recalcado, sob a crusta do embotamento espiritual do Homem ocidental.
Os “intelectuais” ocidentais têm muita culpa no cartório. Gente cega; e o pior cego é aquele que não quer ver. E são esses “intelectuais” os principais responsáveis por situações como esta: as redes sociais em geral censuram a ética cristã.
No tempo de Plutarco, não ter consciência do Fundamento era ser considerado irracional; hoje, dá-se um fenómeno inverso, e absurdo ad Nauseam: se, por um lado, a subjectividade é hoje elevada a um valor supremo através da sacralização dos direitos subjectivos, por outro lado as experiências humanas — subjectivas portanto — em relação ao Fundamento são consideradas absurdas ou idiossincráticas, obrigando o sujeito a remeter a sua expressão para o âmbito exclusivamente privado.
Para onde quer ir esta gente? Eu não os consigo entender. Quando leio, por exemplo, Edgar Morin (um dos “intelectuais” mais badalados depois da queda do muro de Berlim), deparo-me com um “metafísico anti-metafísico”, a contradição e ambiguidade personificadas, um ateu que já não é ateu mas que procura um “novo ateísmo”.
E qual é o Fundamento dessa “nova religião” ateísta de Morin? Simplesmente não tem fundamento nenhum: a nova religião de Morin é um castelo de cartas desprovido de uma fundação metafísica firme, experiencial e lógica. Morin procura a resposta em Montesquieu e nos mentores ideológicos do jacobinismo que diziam que a religião ideal seria o “Cristianismo sem Cristo”. Estes modernos intelectualóides de urinol não conseguem perceber uma ideia tão simples como esta: a História não é a mera reificação do tempo e do espaço humanos: “a História é constituída pela consciência”…
Não conseguem compreender que a nossa ideia acerca do Fundamento sofreu, ao longo de milénios, uma acumulação e sobreposição de novos conceitos, mas sem que a ideia original e mitológica de Fundamento possa desaparecer sem se sacrificar a coerência de uma qualquer nova religiosidade (imanente, que seja), e até colocar em perigo o futuro do Homem.
Essa ideia original de Fundamento mantém-se presente na “consciência humana” que é “a origem da História”. Erradicar as noções axiológicas primordiais de Fundamento, ligadas à cosmogonia e ao nosso lugar no universo, é separar o Homem de si mesmo em um exercício colectivo de dissociação existencial; é condenar o Homem à não-existência subjectiva; é matá-lo por dentro.
A política não pode ignorar esta dimensão da realidade humana.
O que os “intelectuais” e ideólogos (como Morin, Slavoj Zizek, e quejandos) estão a fazer é colaborar em um crime contra a espiritualidade humana. Ao mesmo tempo que o Cristianismo e a sua ética são perseguidos pelos intelectuais de merda, vemos nos jornais situações como esta: “Uganda: el negocio del sacrificio ritual de niños”. E como é que Morin protestaria contra esta barbaridade? Defendendo um Cristianismo sem Cristo, ao mesmo tempo que diz que Karl Marx não teve nada a ver com o estalinismo?
Como é possível ao intelectual moderno ser tão estúpido?
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