Mídia Sem Máscara
Escrito por Eduardo Mackenzie | 01 Outubro 2011
Internacional - América Latina
No processo do coronel Plazas houve não só um ataque ilegal contra a dignidade de um homem inocente, herói da Colômbia, que não cometeu delito algum. Houve também um ataque frontal contra as Forças Armadas e contra a tradicional juridicidade colombiana.
A justiça da Colômbia está em um impasse. Nenhum de seus graves problemas se resolverá realmente até que os magistrados do Tribunal Superior de Bogotá (TSB) absolvam, com todas as garantias da lei, o Coronel Alfonso Plazas Vega.
O TSB deve declará-lo inocente, pois ao fazê-lo dará de novo vida e um impulso considerável ao devido processo na Colômbia, o qual foi pisoteado de fato pelo mal exemplo que se depreende desse processo-montagem.
Com sua absolvição, o TSB poderá trazer à baila os horrores que a promotora Buitrago e juíza Jara cometeram. Esses horrores, se o sistema judicial não os repudia com franqueza e com inteireza de caráter, abordando não um ponto ou dois do mesmo, senão todos os que constituíram esse engendro, continuarão alentando outros operadores venais a continuar nisso. Toda a justiça acabará devorada por estes demônios. Pois esse processo é um modelo que quer penetrar todo o corpo judicial colombiano. É um câncer que ameaça todo o edifício.
No processo do coronel Plazas houve não só um ataque ilegal contra a dignidade de um homem inocente, herói da Colômbia, que não cometeu delito algum. Houve também um ataque frontal contra as Forças Armadas e contra a tradicional juridicidade colombiana, da qual milhões de colombianos vivíamos orgulhosos.
Nesse processo não houve só dois testemunhos acusadores falsos (T. Sáenz e R. Gámez), senão que um terceiro ator, que foi mostrado como a principal testemunha de acusação (E. Villamizar), resultou ser inexistente: um impostor sem nome substituiu a palavra e a presença de um homem real e tudo sob a cumplicidade da promotora. E algo mais: um ex-seqüestrador do M-19 (R. Guarín) orientava a investigação a seu bel prazer e alimentava a imprensa com notícias falsas.
Pior: nesse processo ocorreu algo muito mais insólito, que produz calafrios em quem o descobre pela primeira vez: 27 cadáveres foram refundidos, escondidos, escamoteados em circuitos labirínticos de três instituições nacionais durante 25 anos, com a anuência do Ministério Público, para que um triste “coletivo de advogados” pudesse fabricar a lenda dos “11 desaparecidos do Palácio da Justiça”, em desprezo total à verdade processual e burlando-se miseravelmente, todo esse tempo, até hoje, das famílias dessas vítimas do terrorismo do M-19. Pois havia que fabricar essa grotesca lenda para poder inculpar o coronel Plazas, o general Arias Cabrales e nove militares mais.
Como a Colômbia poderá seguir seu caminho sem um restabelecimento pleno da verdade e da justiça? Sem que seja lavada a mancha que esta farsa processual deixa, digna das piores ditaduras? Que respeito os colombianos poderão ter pela justiça se esta se agacha e, por covardia ante os violentos que montaram e sustentaram esse complô, deixa que este, mediante uma sentença iníqua, transite em julgado?
Como a Colômbia pode continuar crendo que é uma nação livre se o poder judicial, uma parte da classe política e os meios de informação mais prestigiosos se deixam impor semelhantes manipulações?
É necessário saudar o enorme serviço que o Coronel Plazas continua prestando ao país. Apesar de estar detido e sob uma pressão psicológica bestial, ele não deixou um minuto de lutar e de resistir contra a arbitrariedade. Graças a ele, a seu exame crítico constante do processo, dos excelentes livros que escreveu sobre o tema, e graças a seu advogado Jaime Granados, e a um punhado de jornalistas independentes, dentro do qual se destaca Ricardo Puentes Melo, a verdade veio à tona. Graças a eles, agora conhecemos muitos detalhes de como foi lançada e estabilizada essa montagem. Hoje está ao alcance do público conhecer a relojoaria mais íntima desta farsa judicial. O país quer ir mais longe e conhecer cada uma das engrenagens desse assunto e um dia saberá. Quando os intrigantes escolheram o coronel Plazas para ganhar seu combate pela democracia não sabiam que ele acabaria desnudando-os e mostrando as sofisticadas técnicas que eles usam para intoxicar a opinião pública e os governos. Foi por isso que trataram de calar-lhe definitivamente, quando a promotora Buitrago o tirou violentamente de um hospital para injetar-lhe uma substância misteriosa e enviá-lo ilegalmente a La Picota?
O ministro da Justiça, Juan Carlos Esguerra, deveria se inteirar destas coisas e intervir no assunto. Ele não pode dar as costas ao que se passou e ao que está se passando.
A Colômbia não pode continuar vivendo na mentira. Não pode continuar acreditando nas falsas explicações. O que sabemos do massacre das bananeiras de 1928, do 9 de abril de 1948, da terrível explosão de Cali em 1956, do assassinato de José Raquel Mercado em 1976, do assalto e destruição do Palácio da Justiça em 1985? Muito pouco ou nada. Pois ante esses terríveis eventos, ante a falta de investigações eficientes, sempre a trapaça conseguiu se impor sobre a verdade, sempre uma mistificação inventada pela minoria assassina tratou de roubar a verdade do país.
Por acaso não disseram que o massacre das bananeiras havia sido o Governo, que o 9 de abril foi o Governo (e o “imperialismo”), que “o povo” assassinou José Raquel Mercado, pois não se “pronunciou” para que seus verdugos o perdoassem? Não disseram que o culpado do Palácio da Justiça foi o Governo por ter “descumprido” o M-19? E continuamos nisso.
Ou continuávamos, pois graças ao processo do Coronel Plazas e à tenacidade de uns poucos, quer dizer, a uma sociedade que se cansou de engolir embustes, a falácia que o terrorismo inventou para culpar o Governo e se vingar dos militares, e para evitar a prisão aos autores intelectuais desse estarrecedor golpe na democracia, veio ao chão.
Foi muito reveladora a reação de Alfredo Molano ante a carta assinada por 30 personalidades que perguntaram por que o Coronel Plazas continua na prisão. Com sua vulgaridade habitual, Molano disse que “os cacaus” queriam impressionar a justiça. Os “cacaus”? O leitor sabe o que é isso? Na linguagem dos leninistas, “cacau” quer dizer “inimigo do povo”, quer dizer, gente fuzilável a qualquer momento e sem pretexto. Essa é a visão e essa é a linguagem cifrada que alguns utilizam, vinte anos depois do fim da Guerra Fira, para tratar seus “inimigos de classe”!
Tradução: Graça Salgueiro
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