segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Kropotkin, o Zeitgeist e a economia libertária

Mídia Sem Máscara

Escrito por Orlando Braga | 31 Outubro 2011
Artigos - Movimento Revolucionário

O que movimento Zeitgeist defende é uma versão actualizada do “tira do monte” de Kropotkin.


A solução que advogamos é um modelo económico baseado nos recursos naturais, em oposição a uma gestão monetária ou política, e que se baseia no método científico, onde se tem de fazer um levantamento dos recursos que existem para saber qual a capacidade de carga do planeta.”
Em “Movimento “Zeitgeist” tem coordenador português a criticar sistema económico actual”.

A utopia mais perigosa é aquela que se afirma como sendo antiutópica, porque nega a sua própria condição e não tem consciência dela. Foi o caso do nazismo. Thomas More sabia que a sua utopia era utópica; Hitler recusava a condição utópica da sua utopia.

Uma coisa muito boa nos blogues é que ficamos sempre melhor informados do que através dos me®dia: soube da existência do movimento “Zeitgeist”, que é uma versão contemporânea da famosa utopia de “tirar do monte”, de Kropotkin. Passo a descrever sucintamente a utopia do russo.

Kropotkin quis criar uma alternativa a Adam Smith e Ricardo, por um lado, e a Karl Marx, por outro lado. Assim, Kropotkin propunha a prática de “tira do monte” aos bens existentes em abundância, e o que é menos abundante ou até raro será medido, racionado, e partilhado equitativamente. E Kropotkin dá um exemplo: se uma comuna possui um bosque, por exemplo, enquanto a lenha miúda não falta, cada um tem o direito a apanhar tanta quanto quiser, sem outro controlo e para além da opinião pública dos seus vizinhos. Quanto à lenha grossa, que nunca é bastante, recorre-se ao racionamento. O mesmo se passa com os prados comunais: enquanto há bastantes prados frescos para a comuna, ninguém controla o que as vacas de cada família comeram, nem o número de vacas nos prados. Porém, segundo Kropotkin, recorre-se à partilha — ou ao racionamento — quando os prados são insuficientes.

O que movimento Zeitgeist defende é uma versão actualizada do “tira do monte” de Kropotkin. Trata-se de uma visão arcaica da economia que, de modo algum, se pode aplicar às sociedades industriais modernas e contemporâneas onde a extrema complexidade das trocas exige a intervenção de um sistema de gestão monetário e político. E, naturalmente e como convém, o movimento Zeitgeist chama a esse neo-arcaísmo de “método científico”: é a melhor estratégia para se ganhar alguma credibilidade em uma sociedade contemporânea em que prevalece o mito da ciência.

***

Eu não quero dizer com este texto que a modernidade e a contemporaneidade sejam tempos melhores ou piores do que os tempos passados: apenas quero dizer que o movimento Zeitgeist é uma reinvenção do “tira do monte” de Kropotkin. De resto, estou de acordo com G. K. Chesterton:

“An honest man falls in love with an honest woman; he wishes, therefore, to marry her, to be the father of her children, to secure her and himself. All systems of government should be tested by whether he can do this. If any system— feudal, servile, or barbaric— does, in fact, give him so large a cabbage-field that he can do it, there is the essence of liberty and justice. If any system — Republican, mercantile, or Eugenist — does, in fact, give him so small a salary that he can’t do it, there is the essence of eternal tyranny and shame.”

— G. K. Chesterton, “Illustrated London News”, Março de 1911.

O problema do nosso tempo — e ao contrário do que pensa o movimento do “tira do monte” — é ético e não propriamente económico.

Nota do editor: A expressão ‘economia libertária’ do título não se refere, como ficou claro, aos postulados de Murray Rothbard, Hans Hermann-Hoppe, etc, não menos revolucionários, mas por outras razões, ainda que análogas.

http://espectivas.wordpress.com/

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