segunda-feira, 25 de agosto de 2008

DESARMAMENTO OU USO IRRESPONSÁVEL DAS ARMAS?

DESARMAMENTO OU USO IRRESPONSÁVEL DAS ARMAS? - FREDERICO DE PAOLA


Frederico De Paola

Face ao referendo sobre o desarmamento que será votado no próximo dia 23 de outubro no Brasil, cito três casos relativos a armas de fogo nos Estados Unidos. No primeiro podemos perceber como funciona a propaganda anti-crimes cometidos por armas de fogo e como se comporta parte do povo americano em relação ao tema. No segundo, um crime bárbaro foi cometido. Veremos a decisão da justiça, o que fazer uma vez que a sentença foi dada, assim como o que poderia ser feito para evitar a tragédia; e ainda como grupos que se dizem preocupados com a paz, como os que temos no Brasil, agem em desacordo com o que promovem. No terceiro e último caso, veremos como pode ser o futuro de uma nação que permite que seus cidadãos se armem e ensina-os como proceder perante armas de fogo desde a tenra idade.





Primeiro Caso: Saint Louis, Missouri. Imaginem a fotografia de uma rodovia norte-americana indo em direção ao nada, em algum estado com vegetação desértica, com seus famosos tufos esvoaçantes. A foto é bastante desfocada e num tom cinzento muito sombrio. Ao seu lado, uma outra foto menor e também desfocada, mas esta em cores, de um sujeito sem expressão atrás das grades. Sobre a primeira foto lê-se o seguinte texto:





DROP YOUR GUN OR WE'LL DROP YOU 600 MILES FROM NOWHERE!



(Solte sua arma ou nós o soltaremos a 600 milhas de lugar nenhum!)



It’s a Federal prison in the middle of nowhere.



(Trata-se de uma prisão Federal no meio do nada.)



Nobody you know has a clue where it is.



(Ninguém que você conhece tem noção de onde fique.)



There's no airport, no bus, no AMTRAK.



(Não tem aeroportos, ônibus ou trens por perto.)



In the summer time, the mosquitoes are mean and hungry because there are not a whole lot of people around.



(No verão, os mosquitos são famintos e perversos porque não tem muita gente por perto.)



COMMIT A GUN CRIME AND YOU'RE ALL ALONE. AT YANKTON.



(Cometa um crime com uma arma de fogo e você estará completamente sozinho. Em Yankton.)





Pois bem, isso não é uma propaganda sobre desarmamento, mas sim um aviso federal para aqueles que usarem armas de fogo erroneamente. Um recado direto e sem rodeios. "Mate ou fira alguém com uma arma e ficará um bom tempo afastado da sociedade, pois não merece fazer parte dela". O Federal Advertisement acima encontra-se afixado dentro de um ônibus que corta a cidade de St. Louis, Missouri, indo de East St. Louis (uma das regiões mais perigosas e turbulentas do país, junto com partes de New York e Los Angeles) para uma outra região menos violenta mas também onde vivem pessoas pobres e algumas são causadoras de confusão. O recado é para esse último tipo de gente.





A NRA (National Riffle Association) anunciou recentemente que seu centésimo trigésimo sexto Encontro e Exibição Anual será em St. Louis em 2007 [1]. A cidade está localizada no centro da Nação, a um dia de distância de carro de 1/3 da população e a 300 milhas de 400.000 membros da NRA. "St. Louis representa a verdadeira entrada para o coração da América (...) A segunda emenda diz respeito à liberdade e não tem lugar melhor para celebrar a liberdade do que St. Louis", disse Wayne LaPirre, o vice-presidente executivo da NRA. O governador Republicano de Missouri comemorou o anúncio: "Esta é uma bela notícia. Os cidadãos de Missouri acreditam e protegem a Segunda Emenda. Estou muito satisfeito que a NRA tenha nos escolhido como local para seu evento". No último mês de abril a convenção teve lugar em Houston e gerou US$ 20 milhões para a cidade.





O cartão postal de St. Louis é um arco imenso às margens do Mississippi voltado para o Oeste e marca a entrada para o Far West. A abertura do país rumo ao Oeste até a chegada à costa do Pacífico e o ouro da Califórnia deu um impulso monumental e gerou riquezas criando as bases para que os EUA chegassem ao que são hoje economicamente. Muitos índios (americanos nativos) foram mortos na chamada "Corrida do Ouro", outros se adequaram à cultura mais avançada – e mais bem armada. E aqui a história prova que quem está mais bem armado leva vantagem; não fossem as armas de fogo talvez não existisse a civilização atual. A história mundial é repleta de exemplos que mostram a superioridade proporcionada pela tecnologia bélica, então, por que não deixar que os cidadãos de bem se armem? O Bem tende a prevalecer.





Segundo Caso: Castle Rock, Colorado. Aqui nos EUA não existe Estatuto do Desarmamento, muito menos uma campanha como a brasileira, dirigida à sociedade pacífica pagadora de seus impostos e cumpridora de seus deveres, pois esses sabem que não podem usar armas de fogo que não seja para caçar ou para se defender; então, para que incomodá-los? Mas existem alguns focos isolados contra armas de fogo como grupos anti-violência doméstica e grupos de mulheres, por exemplo, a Associação Nacional de Mulheres Advogadas e a Organização Nacional da Mulher.





O caso Castle Rock x Gonzáles ilustra bem a necessidade de se permitir que os cidadãos se armem e aprendam como usar armas para sua própria defesa e de sua família. É também uma lição para tais grupos que rejeitam a posse de armas como possível solução para a violência doméstica e pedem maior policiamento. Ser contra a violência doméstica é ajudar as vítimas e as vítimas em potencial a saírem dessa situação e colocá-las numa posição de poder frente à violência.





Em 1999, Gonzáles obteve uma ordem judicial contra seu marido Simon, que agia de forma estranha e violenta. A ordem limitava seu acesso às filhas do casal. Em 22 de junho de 1999 Simon seqüestrou suas três filhas. Após ter suas filhas tomadas por seu marido insano, Gonzáles telefonou repetitivamente para a polícia pedindo assistência. A polícia foi até a casa e acreditando que Simon não era violento e sabia se articular, somado ao fato que já havia uma ordem judicial contra ele, os policiais nada fizeram. Na manhã seguinte, Simon cometeu o que se chama nos EUA de “suicídio por policiais” (suicide by cop). Ele atirou várias vezes numa delegacia de polícia e foi morto pelos policiais que revidaram os tiros. Os corpos assassinados de Leslie, 7, Katheryn, 9 e Rebecca, 10, foram encontrados no porta-malas da caminhonete de Simon.





Gonzáles processou a polícia em US$ 30 milhões. Ganhou no Tribunal de Apelações mas perdeu na Suprema Corte. Por 7 votos a 2, a Suprema Corte decidiu que Gonzáles não tinha direito de processar o Departamento de Polícia por ter falhado em se proteger e proteger sua família contra seu marido. Ora, se o governo não tem condições de proteger os cidadãos, então que não se criem obstáculos à defesa pessoal e familiar. Pois como o caso demonstrou, chamar a polícia nem sempre resolve. Adultos responsáveis têm o direito de defender sua família com força letal, se for o caso. Se os diversos grupos "pela Paz" tivessem focado sua defesa em colocar uma arma nas mãos de Gonzáles e a ensinado a usar, suas três filhas poderiam estar vivas. Talvez ela estivesse na prisão por usar arma de fogo contra seu marido, mas o processo correria na presença de suas filhas. Ela tinha condições de defendê-las com uma arma. É claro que esse caso representa dificuldades para aceitar que cidadãos comuns se armem, pois Simon tinha uma arma. Mas a proibição não limita o acesso às armas a quem as quer, como estamos acostumados nos morros cariocas.





Quando grupos como a Organização Nacional para Mulheres (NOW em inglês) falam sobre a posse de armas, dizem: "Armas e violência doméstica é uma combinação letal, que fere e mata mulheres todos os dias", defendem a proibição de que homens, tidos como molestadores, tenham acesso a armas, mas ao fazê-lo, ignoram metade da questão. Mulheres vítimas de violência têm maiores probabilidades de defesa quando portam armas contra seus agressores.





"Grupos anti-violência doméstica e grupos de mulheres criam a impressão de que as armas são sempre parte do problema e nunca parte da solução. A atual corrente feminista (...) é uma expressão do liberalismo de esquerda. Elas rejeitam soluções privadas baseadas no direito individual, em prol de leis que têm por objetivo atingir resultados sociais. Um indivíduo responsável com uma arma para se defender, não faz parte de sua visão de sociedade", diz Wendy McElroy [2].





Temos como conclusão que os advogados que defenderam Gonzáles não confiaram na capacidade de julgamento de sua cliente. Parecem não crer que Jéssica Gonzáles e suas três filhas estariam mais bem protegidas se ela tivesse uma arma e fosse treinada para usá-la.





Terceiro Caso: Kern County, Bakersfield, Califórnia. Daqui a pouco todas as crianças do Jardim de Infância do condado de Kern aprenderão as lições de prevenção de acidentes de Eddie Eagle, graças aos esforços de Edward R. Jagels, District Attorney e Dr. Larry Reider, Superintendente das escolas do condado [3].





"Meu filho tem cinco anos e a primeira vez que ele viu Eddie Eagle na TV ele não queria parar de ver o vídeo, e corria pela casa cantando a mensagem de salvamento de Eddie. Ainda hoje, meses depois ele se lembra da lição e a repete", diz Jagels.



O programa Eddie Eagle Gunsafe é um programa de prevenção de acidentes para crianças do pré-Jardim de Infância até a terceira série e já atingiu mais de 18 milhões de crianças nos 50 estados, Canadá e Porto Rico. Criado por Marion P. Hammer, ex-presidente da National Rifle Association (NRA), e supervisionado por psicólogos, professores escolares e oficiais de polícia, o programa dá às crianças um simples e efetivo recado no caso de encontrarem armas de fogo sem a presença de adultos: "Ao encontrarem armas de fogo, PAREM! Não toquem nela. Deixem a área. Chamem um adulto”.





Quando Jagel viu a reação de seu filho ao ver o vídeo ele percebeu que isso seria de muita ajuda para as crianças do condado, foi falar com o Superintendente Reider sobre a possibilidade de se incluir esse programa no currículo escolar e Reider aceitou. E as escolas recebem o material de graça, graças as Fundações NRA e Amigos da NRA. Desde a inclusão do programa, os crimes fatais com armas de fogo reduziram-se mais do que em dois terços, de acordo com o Centro Nacional de Estatísticas da Saúde. Para saber mais sobre o programa: www.nrahq.org/safety/eddie. As organizações que defendem o direito ao uso de armas aí no Brasil, como a Associação Paulista da Defesa dos Direitos e das Liberdades Individuais (APADDI) e o Movimento Viva Brasil, são execradas pelos “da paz” como lobby das armas ou das balas, enquanto aqui a NRA é respeitadíssima como entidade que ajuda as pessoas a se protegerem.





Todos os três casos são cenários muito distantes da realidade brasileira. Neste caso (desarmamento ou não) como em muitos outros, o Brasil não está atrasado em relação ao mundo civilizado, pois atraso significa que estão na mesma linha, apenas anos os separam. O Brasil caminha numa linha contrária aos Estados Unidos; nunca chegará ao lugar certo. Chegará ao lugar errado e atrasado, pois caminha na mentira.





"Que não se fie na mentira: ficará prisioneiro dela; a mentira será sua “recompensa”. Segundo discurso de Elifaz; Jo 14.15



[1] http://www.nra.org/Article.aspx?id=3573 St./ Louis

[2] Wendy McElroy é a editora de ifeminst.com e coopera com o The Independent Institute of Oakland, CA. Ela é autora e editora de muitos livro e artigos, incluindo o novo livro “Liberty for Women: Freedom and Feminsm in the 21th Century” (Ivan R. Dee/Independent Institute, 2002). Vive com seu marido no Canadá.

[3] http://www.nra.org/Article.aspx?id=3607


MSM, 25 de agosto de 2005

http://www.heitordepaola.com/publicacoes_materia.asp?id_artigo=281

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