quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Más “notícias”

por Thomas Sowell em 20 de agosto de 2008


Resumo: O ciclo de 24 horas de notícias pode exigir que alguém diga algo no ar o tempo todo. Mas isso é um problema da mídia – e ele não deve ser resolvido à custa da ruína da vida das pessoas.

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Já nos esquecemos em tal medida das conseqüências imediatas dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, que muitas pessoas podem não se lembrar dos mortais esporos de antrax que foram enviados pelo correio para vários políticos proeminentes e para vários profissionais de destaque da mídia.

Nenhuma das vítimas escolhidas foi morta pelo antrax, mas cinco outras pessoas o foram, inclusive dois trabalhadores do correio, que aparentemente se tornaram vítimas porque manusearam as cartas contendo esporos de antrax.

Das pessoas escolhidas para levar imediatamente a culpa da situação, o biólogo Steven J. Hatfill foi publicamente chamado, por autoridades do governo, de “uma pessoa de interesse” no caso. Ele se tornou, para a mídia, o villain du jour.

O governo foi obrigado finalmente a publicar uma retratação e concordou em pagar ao biólogo, num acordo judicial, 5 milhões de dólares. Mas retratações nunca chamam a atenção das acusações originais, que vão enodoar a vida desse homem, por mais longa que ela seja.

Mais recentemente, uma investigação do governo federal se deteve em alguém que trabalhava no mesmo laboratório de Hatfill. Dessa vez, o novo suspeito estava para ser processado, ao invés de ser julgado pela mídia – e cometeu suicídio.

Isso pode marcar o fim da história do antrax, mas a precipitada destruição da reputação de pessoas, a ruptura e a deterioração de suas vidas, ainda continuam na mídia.

Há muito que dizer da prática inglesa de limitar o que pode ser noticiado sobre alguém sob julgamento, até que o julgamento termine.

Uma vez que se levante uma acusação e que ela seja noticiada de costa a costa – senão internacionalmente – a retratação posterior nunca terá a mesma publicidade, de forma que o dano não pode ser desfeito. Não se pode “destocar” o sino.

A maior parte do que se noticia na mídia – especialmente na mídia dos tablóides – consiste de vazamentos, especulação ou insinuação, tudo isso repetido 24 horas por dia, entra dia, sai dia, não importa que algo seja provado alguma vez.

Algo que alguém pensa sobre o que vai acontecer não é notícia. Depois de acontecido, aí sim, é notícia.

O ciclo de 24 horas de notícias pode exigir que alguém diga algo no ar o tempo todo. Mas isso é um problema da mídia – e ele não deve ser resolvido à custa da ruína da vida das pessoas.

A perda não é só das pessoas escolhidas para serem alvos das acusações ou insinuações.

Cidadãos bem informados são o fundamento de um governo democrático; por conseguinte, cidadãos mal informados são um perigo.

Indivíduos que nunca foram difamados podem ser também afetados. Pessoas altamente qualificadas, cujos conhecimentos e julgamentos são muito necessários em altos postos, podem recusar a nomeação para altos cargos no governo, se isso significar o risco a suas reputações conseguidas ao longo da vida, que podem ser jogadas na lama nas audiências parlamentares de confirmação, conduzidas como se fossem circos romanos.

Tais indivíduos altamente competentes podem ser substituídos por pessoas desqualificadas, como o juiz Robert Bork foi substituído pelo juiz Anthony Kennedy, depois que a difamação do juiz Bork pela Comissão de Justiça do Senado impossibilitou sua nomeação.

Mas o país todo continua até hoje a pagar amargamente por ter Anthony Kennedy no Supremo Tribunal, tomando decisões intelectualmente idiotas.

Uma das cruzadas perenes da mídia tem sido a de transmitir pela TV mais decisões governamentais. O interesse deles é óbvio. Mas os benefícios da exposição de procedimentos governamentais – se existe algum – devem ser pesados em relação ao enorme dano que isso pode trazer, não só para os indivíduos, mas também para o país.

A televisão transmite informação falsa tanto quanto verdadeira. As audiências parlamentares não são vislumbres da verdade. Elas são palco em que se perpetuam algumas distorções políticas.

A transmissão de tais shows políticos somente prejudica a habilidade do Congresso em fazer um trabalho sério privadamente, ao invés de gastar tempo se exibindo para a audiência.

Tanto os indivíduos quanto o país merecem maior proteção contra o abuso de publicidade.

Publicado por Townhall.com

Tradução de Antônio Emílio Angueth de Araújo

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