segunda-feira, 25 de agosto de 2008

PETIÇÃO DE PRINCÍPIO

PETIÇÃO DE PRINCÍPIO - FREDERICO DE PAOLA




Frederico De Paola



Em 01/12/2004 O Globo festeja a liberdade de 12 dissidentes políticos em Cuba e na mesma edição acusa os EUA de maus tratos a prisioneiros na base de Guantánamo (acusados de terrorismo internacional). Fico imaginando o que os EUA não fariam a Michael Moore e tantas estrelas de Hollywood se lá houvesse uma ditadura como a de Cuba. Cegueira é pouco. E o liberdade acima precisa de no mínimo umas cem aspas para chegar perto da liberdade propriamente dita, pois freedom em Cuba só da costa para fora, como bem verificou Percival Puggina em suas duas viagens à Ilha (2001 e 2002), que geraram um brilhante e acurado estudo sobre o que realmente ocorre por lá, “Cuba A Tragédia da Utopia” Ed. Literalis (parabéns pela decência de publicá-lo). Para não parecer mais realista que o Rei, como o mediador que refaz a palestra do palestrante, para (a)parecer também erudito, apenas explanarei alguns números e opiniões coletadas por Puggina, numa demonstração de coragem e serviço à inteligência mundial. Já me estendi muito...



Antes da revolução.



• Estimativas de 1862 indicavam que 90% do era produzido em Cuba ficava com a Coroa Espanhola. Entre os anos de 1868 e 1878, muito sangue foi derramado na Guerra dos 10 anos e mais ainda na Guerra de 1895, tudo contra a Espanha. Em 1898, após três anos de guerra, os EUA intervieram no conflito desembarcando 100.000 soldados e deram fim à contenda. “O que os cubanos não haviam obtido em duas guerras e em 13 anos de convulsão militar, os EUA conseguiram em 50 dias.”



Na Revolução, dia 09/01/59.



• Primeiras palavras de Fidel no comando: “Y quiero decirle al pueblo y las madres de Cuba que resolveré todos los problemas sin derramar una gota de sangre...”



No dia seguinte, 75 soldados do quartel Moncada (defensores de Batista) foram fuzilados, e em La Cabaña, outras 55 pessoas foram ao paredón. Estima-se que o número de mortos nos primeiros dias da Revolução chegue a 500.



• Fidel demorou seis meses para estabelecer sua hegemonia, um pouco mais que seu tutor, Lênin, que o fez em 12 semanas.



• Ainda em janeiro de 1959, cinco eram os cabeças da Revolução: Fidel, seu irmão Raul, Che Guevara, Camilo Cienfuegos e Hubert Matos. Matos foi condenado a 20 anos de prisão por querer sair do movimento e Camilo foi assassinado.



• Foi instituído na Ilha os CDRs (Comitê de Defesa da Revolução). Eles estão em todos os cantos da Ilha e investigam a todos. Puggina, ao conversar com um cubano sobre os CDRs ouviu o seguinte: “El tipo conoce hasta el color de las bragas (calcinhas) de mi madre”.



• “Nos meses que se seguiram ao sucesso da Revolução (...), mais de 700.000 cubanos deixaram o país”, o que representava, em 1960, 10% da população. “Hoje, 20% da população cubana vive longe da pátria.”



Baía dos Porcos.



• “A insensata (e desastrosa) operação, (...) liderada por um jovem voluntarioso que meteu os EUA em várias enrascadas (Kennedy), forneceu ao ditador cubano uma autorização implícita (...). E ele, passados 43 anos do episódio, cuida de mantê-la vigente e atualizada na memória popular”.

Propaganda

• “É preciso entender como funcionam as coisas nos países comunistas. Toda comunicação é oficial”. O povo só sabe o que interassa ao Partido através dos dois jornais existentes Granma e Juventud Rebelde, a Rádio de Havana e os dois canais de TV. Nos hotéis existe TV à cabo, mas as camareiras (cubanas) não têm acesso aos aparelhos.

Economia Cubana

• “O salário da maioria dos cubanos fica na casa dos 200 e poucos pesos, (uns 9 dólares)”. E aqui vão alguns preços praticados na Ilha: 1 litro de leite - US$ 1,48; 1 quilo de café – US$ 6,00; 1Kg de arroz – US$ 0,95; 1 Kg de macarrão – US$ 0,75; 1 sabonete – US$ 0,30; 1 frasco de shampoo – US$ 3,00; 1 pacote de sabão em pó – US$ 2,40; 1 pacote de fraldas descartáveis – US$ 3,00. Isso tudo por la libre (no mercado livre), pois existe também por la libreta. “A libreta surgiu logo nos primeiros anos da Revolução, como solução provisória”, mas continua até hoje. “É muito forte entre os cubanos, (...), a convicção de que a libreta, constitui uma espécie de condenação perpétua que serve a um sistema econômico falido, e convém ao exercício de controle do governo sobre a população civil, que dela depende para sobreviver em condições mínimas”.



• As palavras a seguir são de Vladimiro Roca Antúnez, que enfrentou quase cinco anos de prisão, junto com outros colaboradores por emitirem um documento intitulado “La pátria es de todos”: “O trabalhador cubano trabalha 24 dias para receber o salário de um dia e o resto entrega grátis ao governo”. “Pela libreta corresponde mensalmente a cada cubano: 2,7Kg de arroz; 0,45Kg de massa; 2,25Kg de açúcar; 0,45Kg de sal; 8 ovos; 0,45Kg de peixe; 0,45Kg de carne moída texturizada com soja; 1,35Kg de batatas; 2,25Kg de batata doce; um pãozinho”. Isso gera uma dieta miserável de 300 gramas/dia/pessoa, se houver família...



• A frota de automóveis de Cuba é composta por carros americanos das décadas de 40 e 50 e por Ladas russos dos anos 80.



• “Estima-se num valor da ordem de US$ 200 bilhões o montante dos recursos que a URSS transferiu para Cuba sob várias formas”.



• Num jantar com uma família de classe média da Ilha, ocorreu a Puggina perguntar como é que se pode ter tal classe de pessoas naquela prisão caribenha. Ao que a dona da casa respondeu: “Todo seria mucho peor si no hubiera tanta gente com fe”. O autor desconcertou-se e a Sra. prontamente indagou: “Sabés lo que es fe? Fe es la sigla local para familiar en los Estados Unidos”. Estima-se que 60% da Ilha tenha acesso a essa mesada.

O custo Fidel

• “(...) Em 1958 Cuba despontava entre os mais prósperos países da América Latina, ocupando a quinta posição (...) e estava entre as 22 nações mais desenvolvidas do mundo”.



• “Estudo de um professor da Universidade de Stanford mostra que no período entre 1953 e 1958 o padrão de vida da sociedade cubana era o mesmo dos estados sulinos dos EUA”.



• “Existem hoje nos EUA 40.000 empresas constituídas por exilados cubanos. (...) O produto econômico dos dois milhões de cubanos no exílio é superior ao PIB da Ilha”.



• “(...) as contas cubanas em dólares ficam assim: a) turismo: 2 bi; b) vendas de bens e serviços: 1,6 bi; c) ajuda aos familiares oriundas do exterior: 1 bi (que não aparecem nas contas nacionais oficiais); d) investimentos estrangeiros em bens nacionais: ½ bi. Total: 5 bi. (...) Os números reais só são conhecidos por Fidel” e quem ele quiser.

Prisões e Similares

• “Estima-se que mais de 100.000 cubanos foram recolhidos à prisão, ao longo da Ditadura de Fidel e que outros 20.000 sofreram pena de morte”.



• No ano de 1959 o sistema penitenciário de Cuba “(...) era formado por 3 presídios nacionais, 9 provinciais e 13 municipais. A pena máxima era de 30 anos e não havia pena de morte. (...) Estima-se que durante a Ditadura de Fulgêncio Batista tenha ocorrido 500 prisões políticas. (...) Atualmente, os números são impressionantes: 52 prisões de maior segurança, 47 de menor segurança, 450 correcionais e uma para estrangeiros”. Além da própria Ilha em si. E os motivos para o cárcere são ótimos: “(...) um site sobre economia, um artigo de opinião escamoteado para fora do país, um panfleto pedindo liberdades políticas, uma reunião para trocar idéias e, é claro, a acusação de receber dinheiro dos EUA para urdir conspirações contra o regime”. E que tal a declaração do poeta e jornalista Raúl Rivero, hoje cumprindo 20 anos no presídio Canaleta, em Ciego de Ávila: “Yo no conspiro, escribo”. ? As prisões têm “(...) péssimas condições de higiene, incorporam torturas, salas de castigo e “gavetas” onde os presos são obrigados a permanecer de joelhos”. Muito diferente do que vi na Fox News, onde soldados americanos entregavam bandejas com alimento aos supostos terroristas em Guantanamo. Só um pão dos que vi seria motivo de briga entre os moradores da Ilha.

Sistema Eleitoral

• “(...) o artigo 62 da Constituição garante a liberdade de reunião, associação e expressão ‘desde que não seja usada contra a existência e fins do Estado socialista’, o que em outras palavras significa que é concedido aos cubanos o direito de estar de acordo com o governo. (...) Não só o processo (eleitoral) é público (...) como também é obrigatório que toda nominação de candidato seja feita por exposição oral dos motivos que a determinam”.



• “Ricardo Alarcón, presidente da assembléia Nacional do Poder Popular, respondendo a acusações de outros países, que apontavam mazelas no sistema eleitoral cubano, (...) afirmou o seguinte: ‘Nós sim é que dizemos a ninguém que copie nosso modelo, porque conseguimos alcançar a realização democrática do gênero humano. Será como dizer que efetivamente realizamos a utopia.’”

Educação e Saúde

• Quando alguém ataca as atrocidades que se cometem em Cuba, ouve-se logo a mesma ladainha: “Ah! Mas lá todos têm educação e saúde!” Para refutar isso basta o relato de dois cubanos, prisioneiros em liberdade na Ilha: “Tenemos los servicios de educación e salud más caros del mundo, señor (Puggina), porque hace 50 años los pagamos com nuestra hambre y libertad”.



• E por educação entende-se estudar aquilo que se deseja, sem que ninguém interceda, mas a educação cubana só ensina a odiar os americanos e a louvar o sistema que promove a pobreza. E a saúde, mesmo que fosse boa (o que não é para todos) não compreende a mental e a intelectual, portanto não figura dentro dos padrões que a ONU determina.

Lula e Brasileiros

• Barbudo de cá ao barbudo de lá: “Apesar de que o seu rosto já esteja marcado pelas rugas, Fidel, sua alma continua limpa porque você nunca traiu os interesses do seu povo”. E mais: “Obrigado, Fidel, porque vocês continuam existindo”.



• Alguns brasileiros ilustres (ilustres não, famosos) que endeusam o “Serial Killer do Caribe”: Beth Carvalho, Oscar Niemeyer, Emir Sader, João Pedro Stédile, Miguel Urbano, Luis Sepúlveda, Adalberto Santana, Victor Heredia, Thiago de Melo e Chico Buarque de Holanda e sua letra (de uma boa canção) “apesar de você, amanhã há de ser outro dia”. Muitos outros dias se passaram e a situação na Ilha só piora.



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Espero não ter roubado um leitor sequer do Sr. Puggina, ao contrário. E se o possível leitor se contentar com essa meia dúzia de dados, é porque não merece saborear o excelente e elucidativo livro e saber das dificuldades (contra um Big Brother que deixaria pasmo George Orwell) que o autor encontrou para deixar essa pérola para a posteridade. PARABÉNS AO SEÑOR PERCIVAL PUGGINA..



Em Lógica, petição de principío consiste em tomar como premissa aquilo que se quer provar. Do documento “La patria es de todos” escrito por Vladimiro Roca Antunez, Félix Bonne, René Gómez e Martha Beatriz Roque, heróis cubanos presos em 16/07/1997


MSM, 09 de dezembro de 2004

http://www.heitordepaola.com/publicacoes_materia.asp?id_artigo=280

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