sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Caetano canta Marina

Mídia Sem Máscara

Nivaldo Cordeiro | 12 Novembro 2009
Artigos - Cultura

Do ponto de vista político Caetano revelou-se um completo idiota. Ora, a tradição liberal inglesa e anglófona é precisamente aquela que prega o Estado Mínimo. Caetano ouviu falar disso, não sabe exatamente o que é, mas enfiou na entrevista porque achou chique. Nada mais distante das tolices socialistas de Marina Silva do que as idéias do liberalismo clássico. Que confusão mental, a do cantor!

A entrevista concedida pelo cantor Caetano Veloso ao Estadão (05/11) é exemplar para nos dizer da confusão mental em que nossa classe artística está metida, com as exceções de regra. Os leitores devem se lembrar da uma exceção memorável: Raimundo Fagner. E não é porque sou cearense, não, mas como artista, como cantor e compositor e como homem Fagner é muito superior ao Caetano. Mais afirmativo e mais corajoso. Comparar ambas as entrevistas é um exercício pedagógico.

Mas aqui quero comentar a imensa confusão mental em que Caetano está metido. O fato de ser confuso, todavia, não o isenta da responsabilidade diante das pessoas que gostam de sua arte e o tomam por formador de opinião. Ele deveria guardar, diante de temas sobre os quais nada tem a dizer, como a política, um silêncio respeitoso. Mas, como bem lembrou o notável Fagner, "Caetano tem um problema de ego: quer sempre aparecer. Quando não tem assunto, vai à mídia e diz que é melhor que o Chico Buarque e o Milton Nascimento juntos".

Ao declarar seu voto na Marina Silva o fez em grande estilo, achando que estava fazendo o máximo. Quem é Marina? Quais são as forças em torno de Marina Silva? Marina está à esquerda de Lula, todos os radicais que acham o governo de Lula "de direita" estão com ela, para implantar um outro mundo possível por aqui. Caetano não percebe o descenso político e moral que isso representa, o perigo que se alarga em entregar o poder de Estado para gente desse naipe. Ele fala como se isso fosse algo bom.

Declarou, hiperbólico: "Pode botar aí. Não posso deixar de votar nela. É por demais forte, simbolicamente para eu não me abalar. Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é uma cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem. Mas olha, eu concordo com o Mangabeira sobre a vanguarda tecnológica e o desbravamento. Parece uma contradição? Mas é assim". Tem razão, Marina junta o que há de pior em Lula e Obama. Racismo às avessas e muito confuso, pois Marina não é preta coisa nenhuma, é uma legítima cabocla, com cara de índia.

Gente confusa como Caetano troca as bolas ao achar que cor de pele e origem social faz de alguém um bom governante. Essa é nossa tragédia. É a mesma idéia que transformou um apedeuta com cara de torcedor de futebol idiota em presidente da República. Lula é cabo eleitoral dos sindicalistas e dos revolucionários, herdeiros do antigo Partidão. Tomaram conta do poder. Marina é o cabo eleitoral da faccão mais aloprada das esquerdas. Sua eventual chegada ao poder seria o equivalente a pôr Hugo Chávez na Presidência da República. Um desastre para o Brasil.

Pergunta: "A Marina teria condições de gerir um país deste tamanho?" Resposta: "Acho que ela é muito responsável e muito sensata. Se empenhar as energias para ganhar e se tornar capaz disso, ela levará a sensatez ao ponto de poder gerir. Suponho que agora ela não parece ter essa capacidade, com as coisas como estão". Ora, governar nem é mera questão técnica (que ela não tem) e nem mera questão de sensatez. Sempre foi a virtude que aproxima o estadista do filósofo. A coitada da Marina, com toda a sua boa vontade, está longe disso. E, pior, ainda é usada como cabo eleitoral por aqueles que querem fazer desse país uma Cuba tropical.

Do ponto de vista político Caetano revelou-se um completo idiota. Pergunta: "Qual a função do Estado no processo de desenvolvimento?" Resposta: "Não tenho uma ideia precisa. Simpatizo muito com a tradição liberal inglesa e anglófona. Mas não me identifico plenamente com a ideia de Estado mínimo, de liberdade para as transações". Ora, a tradição liberal inglesa e anglófona é precisamente aquela que prega o Estado Mínimo. Caetano ouviu falar disso, não sabe exatamente o que é, mas enfiou na entrevista porque achou chique. Nada mais distante das tolices socialistas de Marina Silva do que as idéias do liberalismo clássico. Que confusão mental, a do cantor!

"Eu tinha uma certa raiva daquela onda de Margaret Thatcher e Ronald Reagan, embora simpatize com o liberalismo de língua inglesa". É de matar de rir. Ele disse isso: "Simpatizo com o liberalismo clássico, mas detesto os governantes liberais". Tem cabimento? Não tem pé nem cabeça o que fala.

Para coroar as sandices, Caetano falou: "O português é considerado assim o 'túmulo de espírito'", citando Padre Antonio Vieira. Isso não era verdade nem nos tempos antigos. Cervantes, do maravilhoso Dom Quixote, citou Camões, e esta citação sozinha já faria do português uma língua notável, acolhida pelo maior dos romancistas. Mas tivemos depois Machado de Assis, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Bruno Tolentino... E em Portugal? Ficasse só com Fernando Pessoa e Caetano Veloso teria que lavar a boca para falar da nossa língua sagrada. Mas idiotas não costumam fazer higiene bucal periódica, a menos que alguém os force. Deve ter falado isso diante da última tolice escrita do José Saramago. Se o fez, dou o desconto. Saramago contamina a nossa língua com suas bobagens. O torna ainda mais burro o mais estúpido dos homens.

Prefiro Fagner cantando Gonzagão e seus forrós celestiais aos falsetes caetaneados. Tem mais poesia e mais verdade nessa música do que nas declarações malucas de Caetano Veloso.

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