segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Cruzado de esquerda

Mídia Sem Máscara

Battisti foi condenado na Itália por matar quatro pessoas: um policial quando chegava à casa da namorada, um joalheiro que havia reagido durante assalto anteriormente praticado pelo grupo, um açougueiro pelo mesmo motivo e um comandante regional. Conceder-lhe tratamento privilegiado e armar um barraco internacional para mantê-lo longe da justiça italiana é levar a afinidade política a um patamar perigoso.

Passei os últimos dias ouvindo as mais doutas exposições - contraditórias entre si como costumam ser as refregas acadêmicas - sobre a natureza dos crimes políticos. Quanto mais ouvia, mais bordoada levava o meu bom senso. Para agravar a situação, em meio a divagações doutrinárias, sobreveio um farrapo da realidade: há mais de quatro mil refugiados políticos no Brasil. Fui atrás do dado. O site do Conselho Nacional de Refugiados não informa quantos são criminosos. O que se sabe é que a maior parte dos refúgios concedidos pelo Brasil envolve vítimas de criminosos políticos. São congoleses, angolenses e liberianos fugidos das guerras civis ou étnicas que sangram seus países de origem.

O segundo maior contingente, por país, se refere à Colômbia, o que sugeriria a possibilidade de se tratar de pessoal das FARC, mas não. A grande maioria dos refugiados colombianos é gente miserável que igualmente procura evadir-se das zonas de conflito. São vítimas dessa organização terrorista que tem até "embaixador" no Brasil. Então abrimos os braços nas duas direções? Para os criminosos e suas vítimas? Ou Cesare Battisti é o único? Parece improvável. Afinal, a quantidade de doutrinadores para os quais os crimes políticos se definem pela "natureza jurídica do bem afetado" escancara uma porta bem larga.

Enfim, nessa história de refúgio para criminosos políticos, o meu bom senso levou um cruzado de esquerda e foi jogado para a quinta prateleira de um armário de velharias, atrás de um pesado pedal de máquina de costura. Teimando em fazer-se ouvir, ele berra que, nesse caso, a turma do mensalão, nos dois lados do balcão, cometeu crimes políticos. Ou não? E que os tais 40 réus, em vez de estarem contratando advogados, deveriam ir direto ao Ministério da Justiça pedir refúgio porque não faz sentido o país conceder a bandidos estrangeiros regalias que recusa aos meliantes nativos. Afinal, os votos eram comprados para garantir base parlamentar ao governo e o dinheiro arrecadado servia para financiar campanhas eleitorais. Podem ser mais políticos esses crimes? Os bens tutelados são a democracia por partidos e o processo de deliberação parlamentar! Tudo político. E, ao fim e ao cabo, o que ocorreu ali parece bem menos hediondo do que seqüestro, assassinato e tráfico de drogas para financiar revolução.

Tempos atrás, escrevi que o criminoso político não é melhor do que o criminoso comum. Antes, é muito pior. Os mais operosos tarados de bairro, os mais encarniçados e evasivos serial killers não conseguem competir em poder de destruição e malignidade com um delinqüente político lutando pelo poder ou (mais funesto ainda) instalado no poder.

Mudando de viés. Battisti foi condenado na Itália por matar quatro pessoas: um policial quando chegava à casa da namorada, um joalheiro que havia reagido durante assalto anteriormente praticado pelo grupo, um açougueiro pelo mesmo motivo e um comandante regional. Conceder-lhe tratamento privilegiado e armar um barraco internacional para mantê-lo longe da justiça italiana é levar a afinidade política a um patamar perigoso. E usar a palavra fascista para designar quem se opõe aos movimentos da esquerda é fazer política com aquele linguajar perante o qual toda esquerda é comunista e toda a direita é fascista. Já foi melhor o nível desse salão onde até o Ahmadinejad é bem-vindo.

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