Mídia Sem Máscara
| 05 Julho 2010
Internacional - América Latina
Por que ninguém protesta contra os infames ataques contra, por exemplo, três mulheres comprometidas com Cuba à sua maneira? Como não lhes aborrece a caça às bruxas contra Graça Salgueiro, Zoé Valdés ou Margarita García Alonso?
Existe um limite para uma campanha de difamação e para um movimento de ódio?
Yoani Sánchez
Cada dia creio menos... E pensar que um dia eu também acreditei...
As coisas que leio não fazem mais do que confirmar meu prejuízo-convicção (e como conseqüência de horas e horas de leitura de impropérios, mesquinharias, cultura de botequim e demais danos colaterais) de que os cubanos somos o grupo humano mais emporcalhado que habita sobre a Terra. Isto inclui, certamente, vários "companheiros" infiltrados na diáspora, o que nos torna internacionalmente infames, para dizer de uma forma amável. Como se sentem tantos come-merda destripando-se uns aos outros pela via dos blogs e ensinando as mil e uma misérias acumuladas em forma de intrigas e petardos, como se se tratasse de excelentes dotes de inteligência e intelectualidade?
A quem devemos apoiar: a Payá Sardiñas, a marionete favorita de José María Aznar e do Partido Popular (PP), ou Yoani Sánchez, a protegida com peruca de Moratinos e do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE)? Como apoiar nada além de que peça turismo norte-americano e não, mais liberdades aos cubanos? Não sabem por acaso, esses gentis anfitriões, que a metade do povo americano adora e apóia Fidel Castro? De que tratará a próxima carta a ser assinada pelo 73 e um quarto? Receberei alguma convocatória para apoiar a renovação da escada do edifício de uma blogueira, ou deverei doar algo para que atualize o cartão gráfico e possa ver Youtube? Vai que com qualquer das iniciativas e cartinhas que escrevemos estamos feitos...
Pois vejam, há tantas razões para não apoiar a nenhum desses "famosos" que já nem sei por onde começar. Primeiro, são essas declarações solenes de apolíticos (sinônimo de "não fui eu") que denota uma ausência total de ideologia. Segundo, é sua lealdade, porém já conheço essa foto passada pelo Photoshop: um grande travesti. E como ocorre com todos os grandes guerreiros por nossa liberdade, o terceiro são suas grandes verdades (Cuba será muito em breve livre e próspera) que são muito mais importantes que os fatos (em Cuba restam decênios de miséria e oportunismo político). Ah, essas grandes verdades veladas dos célebres dissidentes e demais personalidades da confraria cubana: (A) a fama, (B) o poder e (C) viver do conto.
São essas celebridades de gralha e pandeirinho as que os cubanos querem como governantes para o futuro? Talvez não, porém talvez sejam as que muitos mereçamos.
Deixando de lado a meia tigela cotidiana, por que ninguém se pergunta quem são Francisco Chaviano, Mike Falworth, José Luís Sito, ou quantos pseudônimos covardes aparecem e desaparecem na blogsfera? Por que ninguém protesta contra os infames ataques contra, por exemplo, três mulheres comprometidas com Cuba à sua maneira? Como não lhes aborrece a caça às bruxas contra Graça Salgueiro, Zoé Valdés ou Margarita García Alonso? Já vejo. Que doloroso que alguém triunfe e que patada nos pequenos mamilos, se esse êxito ocorre na América do Sul, ou no exílio na França, essa velha e servil república que apóia o castrismo em plena Europa!
Aquele que ataque a uma verdadeira opositora de Castro pelo simples fato de não ser cubana, não sabe o que é a solidariedade. Aquele que diga que uma novela é má por não se ajustar à realidade histórica, não viveu na novela de terror cubana. Aquele que ameaça de morte a filha de uma mulher intelectualmente superior, é um impotente sexual, ou como diriam em Marianao: não se o detém. Em Cuba, que eu saiba, só há um opositor: o tipo é mulato, está preso há um montão de anos e não digo seu nome para que não lhe caiam em cima, para que ninguém o converta em outra celebridade, ou para que os blogueiros não o insultem como gostam.
Como se sente o leitor com o protagonismo de uma pessoa que não pára de ganhar prêmios políticos, que pode inclusive entrevistar o presidente Obama e que não se sente dissidente do regime de Castro? Genuína come-merda, essa é a palavra ou me equivoco? E como devem se sentir as que levam tantos anos lutando honestamente pela liberdade de Cuba, quando quatro tipinhos (para não chamá-los de veados), vêm ofendê-las camuflados no anonimato com todo tipo de injúrias pessoais? Se a liberdade de Cuba passa pela defesa injuriosa destas celebridades havaneras fabricadas em Madri, ou por alguma pena desses impenitentes e covardes, só aspiro morrer no exílio.
Todos sabemos que os blogs são propícios à porcalhada. A mim me deram pauladas em todos eles. Desde "Secretos de Cuba" até o "Abicú Liberal" serviram de plataforma de insultos contra mim. Porém, ainda me surpreendo com o papel ridículo que seus proprietários fazem (e aparentemente ignoram) ao publicar tanta porcaria. Quem quer que hoje publique artigos difamatórios contra Graça Salgueiro, Zoé ou Margarita, já se sabe para quem trabalha. E que conste: todos trabalhamos para ganhar dinheiro, para melhorar nosso presente e o futuro de nossos filhos, porém, as três mulheres insultadas por estes sicários do regime o ganham honestamente, não puxando o saco de nenhum tirano. Esse detalhe já vale uma nota em sua defesa.
Cada dia creio menos, sobretudo quando uma blogueira vê os insultos escritos contra outra que não chegou a atirar a primeira pedra, e não é capaz de sair em sua defesa, embora mesmo que seja só pelo fato de ser mulher. Não, Yoani não há limites à sua pergunta, sobretudo se a cotovelada é recebida por outra. Porém, que cada um apóie a quem lhe dê na telha porque, em meu caso, apoiar a uma célebre filóloga seria como votar para que o chiclete com sabor de maçã torne-se o prato nacional cubano. Pior ainda (se é que alguém pode imaginar ainda pior) seria como desejar a Cuba outros 50 anos mais da mesma merda que hoje vivemos.
E eu, que disse em Milão que não escreveria mais... ponto e na mesma linha.
Bienne, 1 de julho de 2010
* Cientista cubano, ex-preso político exilado na Suíça.
Tradução: Graça Salgueiro
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