Mídia Sem Máscara
| 31 Agosto 2011
Internacional - América Latina
Estão urdindo uma nova lenda para impedir que o Tribunal Superior de Bogotá absolva definitivamente, como todo o país espera, o Coronel Plazas Vega?
Que mal perdedor é o coletivo de advogados Alvear Restrepo. Em vez de admitir que a derrubada do iníquo processo que montou contra o coronel Alfonso Plazas Vega é inelutável, pois as três únicas “provas-rainha” que haviam avançado contra ele acabaram murchando, graças à ação da defesa do coronel e de alguns jornalistas independentes, sem esquecer da sábia posição adotada pela Procuradoria Geral, que nunca acreditou na culpa de Plazas e recebeu o desmentido contundente do verdadeiro sub-oficial (r) do Exército Edgar Villamizar Espinel, esse grupo de litigantes esquerdistas tenta agora uma manobra desesperada para impedir o naufrágio definitivo de sua causa.
Não lhes será fácil fazê-lo, pois o que tentam nestes dias é tão grotesco e fraco quanto o que fizeram no passado, sobretudo com relação às três “testemunhas-estrela” que queriam fazer valer contra o coronel Plazas Vega, contra o general Arias Cabrales e contra outros militares que intervieram no histórico resgate do Palácio da Justiça, em 6 e 7 de novembro de 1985.
O doutor Daniel Prado, advogado das vítimas, aspira a tirar de sua manga um novo “testemunho” contra o coronel Plazas. Um testemunho que não havia sido esgrimido (vá se saber por que!) pelos acusadores do Coronel. Argúi Prado que a Comissão da Verdade, da Corte Suprema de Justiça (CSJ), sobre os fatos do Palácio da Justiça, havia registrado um “testemunho” despercebido em três parágrafos. Entretanto, este já era em si suspeito, pois trata-se de um “depoimento” dado não por uma testemunha presencial, senão que por uma terceira pessoa: o ex-magistrado do Conselho de Estado, Jorge Valencia Arango, teria ouvido o ex-chofer de seu filho dizer algo. O doutor Valencia não se lembra bem se ele chama-se Jaime Arenas ou Jaime Buitrago.
Daniel Prado trata agora de tirar o ex-magistrado Jorge Valencia Arango, de 85 anos, de sua merecida aposentadoria a força, para expô-lo a toda sorte de peripécias. O ex-magistrado irá querer sair a estas alturas para dançar sob a música do coletivo de advogados?
Seria muito estranho que Jorge Valencia faça de bom grado o que lhe pedem, pois ele nunca se sentiu obrigado a prestar testemunho algum à justiça que investigava os fatos do Palácio da Justiça. Se ele tinha um testemunho, por que o ocultou durante quinze anos? Essa não é uma conduta anômala em um magistrado de sua qualidade? Ainda mais curioso: o próprio Daniel Prado, embora acreditasse conhecer essa história do chofer por terceiras pessoas “desde abril de 1998”, tampouco quis dizer nada à justiça até hoje por razões obscuras.
Muito a contra-gosto, segundo conta a imprensa, o ex-magistrado Jorge Valencia Arango deu, em 2001, uns dados sobre um suposto episódio do qual ele só tem lembranças fragmentadas. O doutor Daniel Prado quer tirar disso um testemunho capital que “confirmaria”, segundo ele, que o coronel Plazas ordenou “desaparecer” onze pessoas. Nada é mais improvável. O que teria dito o ex-chofer não tem nada a ver com “desaparecidos”. O misterioso personagem, cujo paradeiro ninguém conhece, só teria dito que havia sido “torturado” no Cantão Norte. Essa pessoa, se lê-se bem o que disse El Tiempo e El Espectador, nunca acusou o Coronel Plazas nem disso, nem de “desaparição” alguma.
E o que é pior (para Daniel Prado): o personagem invisível não depôs o que lhe atribuem ante juiz algum. Por que calou-se? Porque estava “ameaçado”, pretende o doutor Valencia. Entretanto, outros ex-reféns do M-19 que saíram do Palácio e provavelmente sofreram maus tratos dos soldados durante os interrogatórios na Casa del Florero, depuseram depois ante a justiça sem que lhes acontecesse nada. É o caso, para citar dois exemplos muito conhecidos, de Eduardo Matson Ospino e de Yolanda Santodomingo Albericci, que foram deixados em liberdade na mesma noite de 6 de novembro de 1985.
O ex-magistrado Valencia dirá, por fim, os nomes dos altos comandos militares a quem pediu que pusesse o chofer em liberdade? O Ministério Público fará aparecer não só este, mas também o soldado que chamou o ex-magistrado Valencia?
Daniel Prado quer que o chofer seja procurado por terra, mar e ar para que vá contar não se sabe o quê, a não se sabe quem. Estão preparando uma variante do que fizeram com Edgar Villamizar? Estão preparando alguém para que assuma a identidade de outro e aceite ir prestar, em um lugar estranho, um falso testemunho adicional? Estão urdindo uma nova lenda para impedir que o Tribunal Superior de Bogotá absolva definitivamente, como todo o país espera, o Coronel Plazas Vega?
Essa jogada seria perigosa para o falso depoente e para quem o patrocina. Todavia, não se deve descartar que alguém queira assumir esse triste papel, pois esse método ilícito já foi utilizado nesse e em outros processos com os resultados que conhecemos. Os intrigantes conseguiram fazer valer falsos testemunhos, como o de Tirso Sáenz, o de Ricardo Gámez Mazuera, e o de Edgar Villamizar durante um tempo, pois contavam com a cumplicidade da ex-promotora Ángela María Buitrago Ruíz. Porém, ela já não trabalha no Ministério Público pois o ex-Promotor Geral, Guilermo Mendoza Diago, pediu em agosto de 2010 sua renúncia, pelas faltas profissionais que ela havia cometido. Quinze dias antes dessa destituição, Mendoza Diago e a opinião pública haviam se inteirado com estupor que Buitrago havia aceitado René Guarín como testemunha principal, um seqüestrador do M-19 anistiado que dissimulou sua horrível condição para poder orientar o processo a seu bel prazer.
Por sua parte, a “testemunha” Tirso Sáenz, delinqüente encarcerado, ameaçou revelar ao tribunal que lhe haviam prometido transferi-lo a Bogotá, se acusasse o Coronel Plazas das piores coisas. Sua ameaça surtiu efeito pois o homem foi transferido rapidamente da penitenciária de Cómbita para La Picota. Seu testemunho foi rechaçado.
O fato de que aventuras tão escabrosas como as que afetaram o processo do Coronel Plazas e como as que os diários importantes de Bogotá acabam de descrever, mostra até que ponto a manipulação da justiça e dos meios de informação é um câncer que avança rapidamente e que acabará por abolir as liberdades dos cidadãos na Colômbia se o governo e a sociedade em geral, incluindo os próprios juízes e os próprios jornalistas, não se mobilizarem para pôr-lhe um fim.
Daniel Prado mentiu aos jornalistas de El Espectador quando lhes disse, convencido de que talvez estes não verificariam o que disse, que o testemunho de Yolanda Santodomingo havia sido “determinante” para “condenar” o coronel Alfonso Plazas Vega. Isso é falso. Eu desafio o doutor Prado a que mostre onde há, na longa sentença da juíza María Stella Jara, uma só frase acusadora de Yolanda Santodomingo contra o Coronel Plazas.
O doutor Prado foi exato quando falou de Gámez Mazuera, pois disse que o testemunho dele “não foi aceito porque não se fez ante um promotor”. A história real é muito mais saborosa: este falso testemunho afundou-se em 1990 porque Gámez Mazuera “foi citado pelo Ministério Público em Bruxelas e não quis comparecer, [porque] comprovou-se que ele não foi policial regular, [porque] não esteve nos fatos do Palácio da Justiça e [porque] não foi membro dos serviços de inteligência do Exército”, como diz textualmente a sentença da juíza Jara na página 43. Esse testemunho foi redigido por gente do semanário comunista Voz e apresentado em 1989 ante um notário, pelo sulfuroso padre Javier Giraldo. Gámez Mazuera fugiu em seguida para a Alemanha e não voltou.
Por outro lado, Daniel Prado assegura que o depoimento de Edgar Villamizar foi desvirtuado por um “erro mecanográfico”. Por um erro? A defesa do Coronel Plazas, o Ministério Público e alguns jornalistas independentes demonstraram, com efeito, em junho de 2011, que quem depôs em nome de Edgar Villamizar (ou Villarreal) não era senão um usurpador da identidade do verdadeiro Edgar Villamizar Espinel. Este, o autêntico, apresentou-se ante o Procurador Geral Alejandro Ordoñez Maldonado, identificou-se e lhe explicou que nunca havia deposto ante a promotora Buitrago, nem na Escola de Cavalaria, nem no Ministério Público, e que não havia participado sequer do resgate do Palácio da Justiça. “Essa não é minha assinatura”, afirmou, “nem o que diz aí foi meu depoimento. Eu jamais declarei estas coisas ante nenhuma entidade”. Ele indicou que jamais o Ministério Público o havia citado para depor. E, para finalizar, sublinhou que temia por sua vida porque havia trabalhado com o CTI do Ministério Público e sabia do que este é capaz de fazer. “Minha sentença de morte é segura”, advertiu.
Estamos, pois, diante de um prato muito tóxico que já foi servido: uma história opaca que sai do nada, uma testemunha oculta, cujo nome é impreciso (como no caso de Villarreal-Villamizar), e que nunca depôs ante a maior investigação e recopilação de fatos, provas e documentos que tenha sido feita acerca do atentado contra o Palácio da Justiça: a que fez o Tribunal Especial de Instrução que, sob a direção de dois grandes magistrados, Jaime Serrano Rueda e Carlos Upegui Zapata, e com a cooperação de dez juízes de instrução, com jurisdição em todo o território nacional, investigou desde 18 de novembro de 1985 até 31 de maio de 1986.
O chofer Arenas (ou Buitrago) terá que explicar, se aparecer, não só como e por quem foi torturado, senão que terá que dizer por quê aceitou cumprir tarefas ordenadas pelo terrorista Almarales, como carregar corpos e transferir feridos até o quarto andar do Palácio da Justiça, durante a sangrenta tomada. Pois El Espectador afirma que foi esse o papel de Arenas (ou Buitrago), como refém, durante esse terrível atentado.
Doutor Prado: jogue a bola. Já veremos como e onde cai.
Nota da tradutora:
Para completar as denúncias deste magnífico artigo, sugiro ouvirem a gravação da entrevista dada pelo advogado do Coronel Plazas, Doutor Jaime Granados, à W rádio no dia 27 de agosto passado, onde ele detalha esta aberração.
Tradução: Graça Salgueiro
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