DESARMAMENTO INFANTIL E ANDROGINIA
O fato de que os homens e as mulheres são diferentes ofende as sensibilidades dos modernistas. As feministas deveriam mesmo é processar Deus por dar às mulheres seios, vaginas e um instinto maternal e por dar aos homens pênis, testosterona, ética de guerreiro e uma inclinação natural de servir (e proteger o que costumava ser chamado de o sexo mais frágil). Por isso, fingimos que os homens e as mulheres são produtos substituíveis — que qualquer coisa que ele possa fazer, ela pode fazer melhor — ou então bem do mesmo jeito.
Don Feder
Contrary to what many feminists argue today, (…) boys are not deformed by society’s conditioning. They do not need to be rescued. They are not pathological. They are not seething with repressed sentiments or imprisoned in “straitjackets” of masculinity. Being a boy is not a defect in need of a cure.
Christina Hoff Sommers
Autora do livro The War Against Boys.
Se as campanhas pelo desarmamento dos cidadãos de bem são relativamente recentes, as que defendem o desarmamento infantil já existem há décadas. Explicando o que entendo por “desarmamento infantil”: a idéia obtusa e psicologicamente fajuta de que “crianças não devem brincar com armas”. Já houve campanhas de boicote contra indústrias que fabricam armas de brinquedo, tentativas de proibição legal de tais brinquedos, até mesmo campanhas para a meninada entregar suas armas para serem destruídas – vi uma vez uma cena pungente de meninos tristíssimos e mamães exultantes estimuladas por alguma ONG da chamada “cultura da Paz”, enquanto seus “perigosíssimos” brinquedos eram destruídos por um trator. Toda esta idéia se baseava num lamarckismo ultrapassado que diz que impeça as crianças de brincar com armas e, em uma ou duas gerações não haverá mais violência armada no mundo, pois criança que brinca com armas desenvolve uma cultura de violência. Disse lamarckismo como poderia dizer behaviorismo de Skinner ou, reflexologia pavloviana, em que se ensinam crianças como os cães, cujas reações não vão muito além do reflexo condicionado.
Só que as crianças possuem um aparelho mental altamente sofisticado que é capaz de distinguir entre brincadeira e realidade melhor do que a maioria dos educadores modernos. Se eles brincam no playground, p. ex., de personificar o rei-leão, isto não significa que algum dia vão sair caçando antílopes só com as mãos – ou que se brincam de polícia e ladrão, que vão enfrentar um bandido de verdade com armas de brinquedo ou vão assaltar alguém. Quem perdeu o senso da realidade não foram as crianças mas os formuladores das modernas técnicas educacionais. Um estudo realizado em Rochester, NY, pelo Escritório de Justiça Juvenil e Prevenção da Delinqüência dos EUA (http://www.ncjrs.org/pdffiles/urdel.pdf) provou mais longe ainda: entre as crianças do primeiro e segundo grau que tiveram acesso a armas de fogo de verdade, através de seus pais, nenhuma veio a cometer crimes com armas de fogo, além de se beneficiarem por terem aprendido precocemente a lidar com instrumentos tão perigosos.
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Mas antes de prosseguir é preciso situar o tema num contexto mais amplo, o da evolução – ou involução? - do sistema educacional. Até poucas décadas atrás a educação era meramente informativa. Os pais punham os filhos na escola para que estes fossem informados daquilo que eles próprios não eram capazes, mas estes retinham total ou parcialmente o poder na formação de seus filhos. Parcial no caso dos pais religiosos que delegavam à escola parte de seu poder formativo no que se refere à religião e à moral. Total, no caso de pais que optavam por ensino público ou privado laico. A escola restringia-se à área intelectual. Aos poucos, num movimento paralelo entre a onipotência da casta professoral e gerações de pais inseguros de suas próprias crenças – cuja formação, por sua vez, já fora insegura – e ávidos por abrirem mão do peso de darem formação a seus filhos, foi-se estabelecendo a crença de que a escola, além de informar, tinha também um papel formativo. Mais e mais a casta professoral foi assumindo arrogantemente o papel de semideuses na vida das crianças, freqüentemente competindo com os próprios pais. Falo aqui exclusivamente de países com um certo grau de liberdade e democracia; nas ditaduras é muito pior: o Estado onipotente educa as crianças para serem escravas da ideologia totalitária. Mas mesmo as democracias mais perfeitas não são invulneráveis às sutis atitudes ditatoriais dos mestres sobre as crianças – que se encontram num estado altamente sugestionável – principalmente quando em casa não encontram o que precisam para sua formação. Enquanto a casa permite uma formação individual e conseqüentemente plural, a escola só pode dar uma formação coletiva, uniformizada. Com a entrada em cena no século passado das teorias coletivistas e igualitárias, esta tendência cristalizou-se numa ideologia que nada fica a dever à escravidão totalitária dos países comunistas – mesmo que os mestres, conscientemente, se digam ou mesmo adotem posturas liberais em suas vidas pessoais, mediante uma dissonância cognitiva que resulta da corrupção mental que as ideologias promovem.
Finalmente, o golpe de misericórdia, o desastre final. O desenvolvimento da psicologia e sua aplicação à educação através da psicologia educacional e da psicopedagogia levaram as escolas a se tornarem, além de formativas, terapêuticas! Ou melhor dito, arrogantemente pseudo-terapêuticas. O método educacional mais adequado para se desenvolver esta seqüência (informação à formação à terapia) é o construtivista, inventado por Maria Montessori e utilizado desde 1907. Em suas próprias palavras: educação não é o que o professor dá, mas um processo natural espontâneo levado a efeito pelo indivíduo, não através de escutar palavras mas de experiências no ambiente. (...) A tarefa do professor é preparar uma série de motivos culturais num ambiente especialmente preparado (...) Os professores humanos só podem ajudar o grande trabalho que está sendo feito, como servos ajudam seu senhor (...) Assim poderão testemunhar o desvelar da alma humana e o surgimento de um Novo Homem (...). Não por coincidência Montessori era médica psiquiatra. O Programa de Educação Infantil baseado no construtivismo estrutura-se no conceito de educação integral (cuidar e educar), visando o desenvolvimento da criança na sua totalidade: cognitivo, psicomotor, físico, social, intelectual, afetivo. A psicologia escolar tem como objetivo assessorar o trabalho pedagógico. Na escola montessoriana, a criança encontra um ambiente preparado para o seu aprendizado, o que permite a autoconstrução de seu desenvolvimento cognitivo e psicomotor. Quando isso não acontece, o professor funciona como um investigador para saber o que há de errado, tendo o acompanhamento do psicólogo na busca de “soluções".
Mas o construtivismo não passa de uma falácia, uma utopia. Mesmo sem ter sido esta a intenção de sua criadora, foi e continua sendo um meio fértil para a introdução das ideologias coletivistas e a preparação, entre outras coisas, de um mundo andrógino e portanto anódino. Pois o tal ambiente preparado pode ser preparado para qualquer coisa e utiliza-se a noção de autoconstrução para esvaziar a mente dos alunos dos valores que traz de casa e “construir os seus”. Ora, isto é uma impossibilidade, a criança aprende inicialmente imitando; só posteriormente irá fazendo suas próprias opções e criando outras. O que ocorre é uma verdadeira lavagem cerebral, bem ao gosto dos sistemas totalitários. Pode-se, então, introduzir qualquer coisa como se fosse “construção” ou “criação” da própria criança, aumentando falsamente a auto-estima. Nada mais eficaz do que o doutrinado acreditar que inventou a doutrina. Os métodos para isto são bem conhecidos: mastering learning (dominando o aprendizado), técnica que usa modificações comportamentais para mudar crenças, atitudes, valores; o estudante deve “dominar” o que aprende até acreditar que é seu e passar a novas “aquisições”, sucessivamente; cooperative learning (aprendizado coletivo), ensino não mais individualizado mas através de grupos nos quais os mais capazes e/ou mais estudiosos “puxam” os demais e o grupo recebe uma nota comum, eliminando a competitividade e o individualismo e estimulando a cooperação – certamente ao promover o coletivismo acaba baixando o nível de aprendizado, nivelando por baixo; consensus building (construindo o consenso), sendo que o “consenso” é sempre ditado pelos mestres e suas ideologias, embora com a aparência de “criação do grupo”, mudando crenças através da pressão para se conformar com o pensamento grupal (é uma forte tendência das ideologias coletivistas resolver tudo pelo consenso, execrando o método de votação pelas maiorias); e finalmente, conflict resolution (resolução de conflitos) e é aí que entram os onipotentes psicólogos educacionais e psicopedagogos utilizando técnicas psicológicas para manipular os sistemas de crenças e valores da criança, “negociando” antigos valores absolutos aprendidos em casa por soluções de compromisso, o mais das vezes levando à mesma dissonância cognitiva de que estão tomados. O aluno que não se conforma e tem idéias próprias e as defende, está errado e precisa terapia para se adaptar ao pensamento grupal, que não passa da ideologia dos mestres e psicólogos! É a psicologia a serviço da plastificação deformadora, a antítese de qualquer processo terapêutico sério! É por isto que já se esboça uma reação nos EUA e na Inglaterra: o retorno ao homeschooling, aprender em casa com mestres escolhidos pelos pais e por eles monitorados.
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Já é tempo de retomarmos o tema original, deixando para outra oportunidade a continuação de tão fascinante estudo. A experiência britânica sugere que os meninos respondem melhor às formas tradicionais de ensino e são os que pagam mais caro pelos novos modismos educacionais, principalmente o desestímulo à competitividade e a abolição do antigo sistema de avaliação individual. Janet Daley, do Daily Telegraph diz: “Um mundo no qual ninguém pode ser chamado (individualmente) de vencedor e não existem perdedores, não exerce nenhuma atração para a mente dos meninos”. E este é um dos objetivos que se pretende alcançar através das técnicas faladas acima: eliminar ou diminuir ao máximo as características masculinas que são o grande óbice ao avanço do coletivismo. As mulheres, mais passivas e receptivas, são mais adaptáveis a valores tais como cooperação e dar de si mesmas o máximo para outrem – nisto reside a característica maternal. Os interesses, preferências e comportamentos característicos de machos e fêmeas são biologicamente diferentes e, por conseguinte, as diferenças de estilo emocional também. Mas as modernas teorias sócio-psicológicas – que orientam a psicopedagogia – estatuem que as diferenças são oriundas de condicionamento social imposto por uma cultura patriarcal para subjugar as mulheres. Na verdade, estas dúvidas é que vêm sendo “plantadas” por condicionamento, desde a segunda metade do século passado, pois até ontem se sabia que as diferenças entre meninos e meninas vão muito além dos caracteres sexuais secundários físicos. De maneira geral, os homens são mais reservados quanto às suas expressões emocionais, não têm nenhum interesse em “discutir relações” ou em se abrir. O uso de turmas mistas tem servido ao propósito de humilhar os meninos, dizendo a eles que eles devem, como as meninas, serem mais abertos às experiências emocionais. As técnicas acima apontadas são utilizadas, principalmente o conflict resolution, para caracterizar a reserva natural dos meninos como “algo que não vai bem”, no fundo que é uma patologia que os homens não sejam como as mulheres. Na Inglaterra já toma corpo a tendência a retornar às turmas separadas por sexo com diferentes métodos pedagógicos. Mas isto não interessa aos grupos feministas e gays que pressionam no sentido de eliminar estas óbvias diferenças e para tanto inventaram até um neologismo que vem se espalhando como metástases cancerosas: o sexo está morto, viva o gênero! Este absurdo invadiu até as mais vetustas associações psiquiátricas e psicanalíticas que rapidamente aboliram a abominável palavra sexo pelo neologismo politicamente correto. Ora, tratam-se meninos e meninas como se fossem automóveis e cadeiras que pertencem – aí sim – a gêneros distintos.
Tenta-se fabricar um mundo futuro de andrógenes – seres nem homem nem mulher – mas não às custas de renúncias por parte de ambos os sexos mas de abolição das características psicológicas masculinas, patologizando-as. Além da medicalização da Sociedade – com médicos semideuses que dizem o que podemos fazer ou comer de “saudável” - que atinge ambos os sexos, temos a psicologização que age como uma re-engenharia do sexo masculino nesta etapa fundamental da formação do ser humano, a infância. Outra sandice politicamente correta é convencer os homens de que não são as mulheres que engravidam, mas o casal: estamos grávidos, uma rematada tolice que faz enorme sucesso – mesmo que o cara nem saiba se o filho é dele, um dos maiores pesos da condição masculina! Mas esta é uma das mais sutis expressões da androginia: um ser psicologicamente híbrido, que contrasta com as formas mais cruas e mais fáceis de rejeição, como o travestismo, o transformismo, a “transexualidade”, tão em voga. O Brasil, como não poderia deixar de ser, além de um aplicado imitador de bobagens alheias, inova sempre para pior: já circula um folder do Programa Nacional sobre a AIDS do Ministério da Saúde – mas com a indefectível chancela da OMS - denominado “O Travesti e o Educador – Respeito também se aprende na escola”, com regras para orientar os mestres a como se comportarem com travestis, e as escolas a respeito de novas instalações sanitárias.
Ora, por que proibir os meninos de brincarem com armas? Porque desde tempos imemoriais são os homens os encarregados da caça, da defesa da família e do território e as brincadeiras infantis com armas são treinamentos seríssimos para exercer esta função, enquanto as meninas brincam de bonecas, também preparando sua futura função maternal. Proíbam-se os meninos de brincar de polícia e ladrão e teremos futuramente uma sociedade adulta amorfa e indefesa e massa de manobra fácil para totalitários e tiranos. Não por condicionamento lamarckiano mas por pura e simples falta de treinamento. Ao não permitir o treinamento mais importante – a brincadeira infantil – consegue-se abolir o adestramento necessário para a defesa. A melhor ditadura é aquela em que os oprimidos pensam que são eles que mandam e aceitam tudo passivamente.
Heitor De Paola, MSM, em 18 de abril de 2005
http://www.heitordepaola.com/publicacoes_materia.asp?id_artigo=181
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