Mídia Sem Máscara
Márcia Vaz | 17 Outubro 2010
Artigos - Conservadorismo
Aos primeiros, melhores e mais convincentes dos professores, os pais.
Que educam na mais adequada das escolas, o lar.
E aos que ajudam a educar sem a presunção de querer tomar o lugar da família, ou pior ainda, tomar os filhos dos pais.
A estória das Mil e Uma Noites surgiu há muitos e muitos anos atrás, na Pérsia. Lá viveu um rei de nome Chahriar que foi traído por sua mulher e um dos escravos. Passou então a executar um plano vingativo e cruel: casava-se com uma jovem e após a noite de núpcias mandava matá-la para que não corresse o risco de ser um marido traído. Muitas jovens donzelas foram esposas apenas por uma noite e mulheres para a eternidade.
Até que aparece uma moça de nome Sherazade. Além de muito formosa era inteligente, de memória invejável, daquelas que se interessa por livros dos mais variados temas: filosofia, artes, história da humanidade, culinária, astronomia, poesia, política e religião. Ela se apresenta para ser a próxima esposa do rei. Não que tal homem tivesse despertado um grande amor no coração de Sherazade. É que vendo a situação de extermínio das donzelas do reino ela se compadeceu e também temeu que sua irmã mais nova fosse escalada para "esposa de uma noite". Nesta circunstâncias é que Sherazade se faz noiva do rei.
Após o casamento, na noite de núpcias, ela graciosamente pede ao marido que lhe permita contar apenas uma linda história que conhece. Num ato de benevolência o esposo lhe dá a devida permissão e Sherazade inicia sua fala que é interrompida propositalmente na melhor parte do enredo sob a alegação de que ela estava muito cansada para continuar. Curioso e querendo saber o desfecho, Chahriar acaba por adiar a condenação da esposa concedendo-lhe só mais um dia de vida.
Sherazade vai se saindo muito bem. Prossegue se empenhando para dar fim à história da noite anterior e iniciar outra mais interessante interrompendo sempre na melhor parte. E o rei, já gostando de atrasar a sentença de morte, vai permitindo que ela sobreviva um dia a mais, outro dia, até... Mil e Uma Noites.
Após este longo período ela apresenta a Chahriar os três lindos filhos que tiveram e faz com que ele perceba que está curado do seu trauma. Tanto assim que o rei acaba por suspender definitivamente a pena de condenação à morte a qual Sherazade estava destinada.
Muitos educadores gostariam de entender melhor os métodos pedagógicos utilizados por Sherazade. O que exatamente ela fazia durante as "Mil e Uma Noites"? Contava historinhas?
Ora, ela não fazia nada mais do que se preocupar em "EDUCAR". Com seus conhecimentos diversificados e suas histórias selecionadas a dedo ela educou um homem que traumatizado com a infidelidade da primeira esposa terminou se tornando um estúpido assassino. Mostrou-lhe os filhos que haviam nascido como prova do amor que acabou existindo entre eles e mais - ainda soube usar de sua beleza, foi paciente, esforçou-se por fasciná-lo contando suas melhores histórias do modo como só ela mesma sabia fazer.
Se durante a noite Sherazade educava o rei, o que será que ela fazia durante os dias? Com certeza educava ela mesma, em pessoa, seus três pequenos amores. Claro, porque se para um adulto doente e vingativo ela gastou seu precioso tempo educando-o. O que não terá feito por suas crianças inocentes?
Principalmente porque sempre dormia sem saber se amanhã seria agraciada com mais um dia de vida. Beijava e abraçava-os a cada dia como se fosse o último. Sentia através da pele dos filhos a maciez, o cheiro e a temperatura de cada um deles. Alisava e penteava os cabelos espevitados dos filhos. Brincava, cantava cantigas, declamava, ralhava, vez por outra dava-lhes umas boas palmadas, ensinava-lhes as orações que aprendera na infância... Tudo, tudo (até as palmadas) como se não houvesse o amanhã. Contava-lhes na sua doce voz um arsenal de historinhas infantis que eram quase que encenadas.
Com tais métodos de amor é que educava seus pequenos. Dava-lhes uma educação sólida. Preparava-os para um futuro que ela nunca sabia afirmar se estaria na terra ou no céu.
Sábia mulher aquela Sherazade... Quem dera pais e professores comprometidos com a educação soubessem educar assim adultos e crianças, filhos e alunos. Educar pacientemente para o amor, o belo, o que é bom, para as coisas do alto. Educar transmitindo não qualquer coisa ou utilizando qualquer palavra, qualquer livro. Mas temendo que aquela seja sua úlltima chance, seu último dia.
Educar para um futuro no qual os pais e professores não têm a certeza se ainda estarão com os seus aprendizes; desconhecem o sistema de governo que haverá no país; não sabem se a religião deles sofrerá com perseguições; se pais serão proibidos de ensinar seus próprios filhos; se os filhos serão jogados contra os pais; se todos terão que ser alfabetizados precocemente com uma cartilha de educação sexual de baixo nível; se serão obrigados a ler os mesmos livros de doutrinação; assistir aos mesmos filmes; ouvir uma única fonte de notícias; cantar as mesmas músicas; marchar ao som de hinos estranhos; se vestir com o mesmo estilo de roupas; se animaizinhos prenhos e plantinhas serão mais valorizados que os seres humanos; se serão vacinados mesmo a contra gosto; se a família que é a "célula mater" (célula mãe) da sociedade terá que ceder lugar à Mãe Terra e ao Partido Verde; se um Partido Vermelho tomará as terras para si; se os pais terão que pedir permissão ao Governo para gerar filhos que, a propósito, só podem nascer da união de um homem e uma mulher.
Enfim, educar sem saber se suas crianças serão obrigadas a viver num país onde leis injustas possam ser assinadas e fartamente rubricadas mesmo sem terem sido lidas.
Márcia Vaz é escritora, mãe de cinco filhos, e sofreu perseguição por insistir em escolarizá-los em casa.
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