segunda-feira, 13 de junho de 2011

A ascenção dos impérios pós-americanos

Mídia Sem Máscara

Daniel Greenfield | 10 Junho 2011
Artigos - Conservadorismo

Para o ocidental, a imagem de um manifestante solitário enfrentando um tanque na Praça da Paz Celestial é uma mostra da coragem moral de um indivíduo. Para o ambicioso cidadão chinês, é um ato desprezível de um louco egoísmo sendo devidamente suprimido por um estado paciente e amoroso que chegou a seu limite.

Nós nos vemos no manifestante. Eles se vêem no tanque.

Quando os utopistas da esquerda falam sobre um mundo pós-americano, eles querem dizer um grande globo sem fronteiras, governado por leis internacionais, onde não há mais cidadãos ou nações, apenas pessoas que por acaso gostam de viver em Nova Iorque, Xangai ou Islamabad. Esta versão jet set, globocrática e digital da 'Imagine' de John Lennon é o resultado que eles contemplam para a globalização. Nada de governos. Só um único e abrangente governo mundial.

Mas o que os utopistas nunca perceberam é que esta idéia não é universal, ela brota de um messianismo esquerdista ocidental que dá ênfase a um governo progressista e desdenha das identidades nacionais e tribais. E isto quer dizer que esta é uma idéia da qual a maior parte do globo não compartilha. E é provável que nunca compartilhe. Os utopistas querem um fim do poder nacional e do imperialismo cultural, mas sua idéia globalista é um imperialismo cultural apoiado em um poder nacional.

As Nações Unidas são uma vila potemkin apoiada nos exércitos dos Estados Unidos e da Europa. Se os Estados Unidos caírem, o aconchego de seu arranha-céus modernista em Turtle Bay cairá junto. Os Estados Unidos se baseiam na formação de um consenso de apoio para a política americana ou na formação de um consenso de oposição para contê-la. Mas, de um modo ou do outro, ele funciona em resposta a uma potência mundial. Não tem força própria.

Os utopistas idealizam um mundo administrado por leis internacionais. Um sem-número de acordos sobre direitos humanos foram assinados pelos piores infratores, sem que nenhuma mundança interna ocorresse. E por que deveriam? A "comunidade internacional" tem apenas dois grandes mecanismos coercitivos, as sanções comerciais e a invasão armada. As primeiras acionam o poder econômico ocidental, a segunda aciona o poder militar ocidental. Retire o Ocidente e mesmo estes limitados mecanismos coercitivos se acabam.

Não é que o Paquistão, a China e a Rússia não pudessem concordar a respeito de um conjunto de sanções ou enviar seus próprios soldados como capacetes azuis da ONU. Mas seu objetivo não seria a manutenção da paz, seria a colonização. Retire o Ocidente e a atual fachada das leis internacionais seria reduzida a campanhas ativas e reativas por Espaço Vital, realizadas por potências mundiais em salas de conferência. Uma nova era de colonização ocorreria sob a bandeira azul da ONU e com a sanção das leis internacionais. E seu Conselho de Segurança se tornaria uma aliança frouxa de hegemonias rivais, a chinesa, a russa, a islâmica, a bolivariana, trocando territórios pelas tropas "de paz" umas das outras. A ONU viraria por fim um pacto Hitler-Stálin. E todo mundo mais seria a Polônia.

Esta é a face do mundo pós-americano. Ou a construção de impérios ou uma nova idade das trevas. Ou os dois. Pode escolher. [N. do T: Greenfield certamente escreveu este artigo tendo em mente as idéias (?) de um verme como Fareed Zakaria, autor de um esquerdista e fantasioso até não poder mais The Post-American World]

Os utopistas estão apaixonados demais por sua idéia de governo progressista para conseguirem vê-la como algo além do inevitável. Salvo por alguma imensa catástrofe natural, asteróide ou guerra nuclear, eles vêem o mundo inteiro se tornando cada vez mais esquerdista, atirando para longe seus costumes, identidades e crenças para se juntar em um grande número musical com sabor de arco-íris. Eles vêem o triunfo de seu lado como inevitável. É uma falácia natural ver 'seu lado' como o resultado inevitável do desenvolvimento econômico e social, ao invés de um cacoete filosófico de intelectuais desempregados e escritores charlatães do século XIX. [N. do T: aqui me vem à mente Obozo e seu hábito presunçoso e nojento de se refererir a políticas, indivíduos e idéias esquerdistas como representantes do "lado certo da história"]

Os intelectuais que estiveram errados sobre a inevitável colisão entre o trabalho e seus proprietários estão igualmente errados sobre a dissolução dos estados em um vasto corpo de um governo mundial. Os estados estão de fato se dissolvendo, mas ao velho modo romano. Impérios e nações estão se deteriorando e se despedaçando porque não possuem nenhuma razão para continuar. Eles se tornaram gigantescos berços falidos, supervisionados por homens e mulheres que não acreditam mais em nações nem em nada além do destino manifesto de um berço global administrado por eles mesmos.

O que estes homens e mulheres não entendem é que seu poder tem origem nos estados e não de alguma consciência crescente de que seu lado está certo. Submerja as nações da Europa na UE. Submerja os Estados Unidos na ONU e eles não ficam no controle de mais nada, com exceção da papelada em seus próprios escritórios. As ruas do lado de fora viram as do Terceiro Mundo e os homens e mulheres que supõe estar ditando os destinos das nações têm que ser conduzidos em limosines blindadas através do caos lá fora. É assim que caem os impérios. É assim que eles estão caindo neste exato momento.

Os impérios têm sua origem nas pessoas, não são as pessoas que têm sua origem nos impérios. O Ocidente construiu impérios comerciais porque sua classe média ascendente era de mercadores. Agora, a classe média ocidental é cada vez mais constituída de burocratas governamentais e logo ela está ocupada construindo para si um estado burocrático mundial. Os impérios mercantis ocidentais voltavam sua atenção para matérias-primas e territórios do mundo real. Os impérios burocráticos do novo Ocidente são obcecados com regulamentações e tratam o dinheiro como um número imaginário. É assim que um império em degeneração se comporta.

A China não é um império em ascenção porque suas mães abusam dos filhos ou porque sua educação científica é melhor, nem por qualquer uma das idéias ainda mais bobas defendidas nas páginas do Wall Street Journal. É um império em ascenção porque é um império comercial. Seus dirigentes sabem que seu poder está no comércio, não em leis. Eles fazem todo o possível para construir sua base produtiva, se apoderar de recursos minerais e estabelecer as regras do comércio internacional em seus próprios termos. Isto é algo que os líderes americanos entendiam, até duas guerras mundiais tê-los convencido de que seu poder estava em fazer regras para todos os outros seguirem. Até agora, isto não deu muito certo. E em um mundo pós-americano, estas regras se tornarão armas a serem utilizadas por exércitos selvagens e novos impérios coloniais destrinchando a África em busca de seus recursos naturais.

Embora os utopistas sonhem com castelos mundiais de areia, o resto do mundo está planejando arrancar um naco do império pós-americano. A China e o mundo muçulmano são os mais escancaradamente ambiciosos do bando, mas há outros, também. E à medida em que o colapso do Ocidente se tornar mais óbvio, mesmo nações como o Japão, que tiveram a possibilidade de se entregar ao lazer do pacifismo sob um guarda-chuvas americano, terão que aprender a guerrear de novo.

Obama foi o messias globalista dos utopistas, o presidente pós-americano da Terceira Cultura, que deveria fazer uma ponte entre a velha e a nova ordem mundial. E seu fracasso diz muito sobre a falta de futuro da idéia globalista. Obama não só falhou em ganhar influência entre os inimigos, mas ganhou o desdém de velhos aliados. E agora a potência mundial que ele dirige está sozinha e com pouca ou nenhuma influência. Obama e os globalistas lutam para levar crédito pela 'Primavera Árabe', como se mais um conjunto de guerras civis entre facções rivais do Oriente Médio fosse algo de novo ou significasse o surgimento de um mundo melhor.

Os Estados Unidos ainda são uma potência mundial graças a sua população, sua economia e suas Forças Armadas. Mas não há o que se agradecer a seus líderes, entusiasmados em abrir mão de todo este poder a serviço de uma hegemonia global. Mesmo seus conservadores vêem as leis internacionais como um meio de levar os direitos humanos ao globo inteiro. Mas eles esquecem que os direitos humanos americanos não existem por causa de leis internacionais, mas porque intelectuais coloniais defenderam uma revolta popular contra a taxação onerosa e o governo centralizado, e a prosperidade e a oportunidade econômica expandiram a classe média e seus direitos legais junto consigo.

Não se pode exportar uma revolução baseada nos direitos do indivíduo para culturas que não acreditam na supremacia do indivíduo sobre o sistema. O confucionismo chinês e o fascismo teocrático do Islam têm suas próprias definições de lei e eles não derivam do indivíduo. Embora os americanos louvem em êxtase a democracia, eles não vêem o cerne da questão. Não há nada de especial em "um homem, um voto" para culturas que não acreditam que um homem não conta para nada, a menos que morra gloriosamente em batalha ou empilhando estrume em uma fazenda coletiva.

Nestas culturas, o indivíduo só adquire valor sacrificando-se pelo grupo. Uma eleição democrática lá é uma eleição contra o indivíduo egoísta e a favor da identidade coletiva do grupo. Identidade, não bem-estar social. Grupos coletivos são governados por oligarquias e a cabine de votação afirma seu poder em defesa da identidade de grupo. O indivíduo só importa quando é parte daquele grupo. Se não for, então é rápidamente pisoteado e jogado de lado. E o grupo se regozija com a sensação de poder que isto lhe dá. Seja pisando em cima de corpos espancados de mulheres ou queimando igrejas, a crueldade da multidão é o mais próximo que o indivíduo médio chega da auto-determinação.

Para o ocidental, a imagem de um manifestante solitário enfrentando um tanque na Praça da Paz Celestial é uma mostra da coragem moral de um indivíduo. Para o ambicioso cidadão chinês, é um ato desprezível de um louco egoísmo sendo devidamente suprimido por um estado paciente e amoroso que chegou a seu limite. Nós nos vemos no manifestante. Eles se vêem no tanque. Do mesmo modo, para o ocidental, a garota muçulmana ensanguentada pelo espancamento após fugir com um rapaz é uma acusação terrível contra uma cultura. Para um muçulmano, é uma acusação terrível contra ela.

Tais culturas não vão aprovar leis de igualdade. Pelo contrário, seus valores mais elevados são leis que perpetuam a desigualdade em nome da moralidade.

A Primavera Árabe não é um despertar contra a repressão. É um chamado à repressão representativa. Em sua maior parte, os protestos não foram motivados por uma oposição à ditadura, mas apenas a ditaduras que não refletem seus valores ou filiações tribais. As idéias filosóficas européias sobre direitos humanos e a virtude da auto-gestão não chegaram lá. Nem vão deitar raízes nestas areias desérticas. Não quando o modelo dominante de crença rejeita o indivíduo imperfeito em prol da perfeição da lei maometana.

O mundo muçulmano gostaria de usar a ONU para impor ao mundo a perfeição da lei maometana. Os progressistas têm suas Escrituras e sua fé e os muçulmanos têm as deles. O vácuo de uma ordem mundial pós-americana significa que mais de 1 bilhão de muçulmanos estarão em melhor posição para impor ao mundo suas leis que matam mulheres por apedrejamento e tratam os não-muçulmanos como cidadãos de segunda classe. À medida em que a Europa cair na repressão representativa da demografia da migração, suas catedrais se tornarão mesquitas e suas mulheres se tornarão cidadãs de segunda classe.

Os muçulmanos entendem o que o Ocidente esqueceu: que as nações são definidas por seus cidadãos. Encha-se qualquer país europeu com homens que acreditam que as leis do Corão são absolutas e se aplicam a tudo e não importa o quanto ele esteve na vanguarda do pensamento, ele logo se tornará tão desesperadamente atrasado quanto os lugares de onde seus novos cidadãos vieram.

Haverá breves períodos em que vai parecer que a maré pode ser virada. Os novos cidadãos vão aprender a língua franca, torcer pelos times esportivos locais e conseguir títulos de PhD nas universidades locais. Eles vão aparecer em programas de mesa redonda para explicar o quão bem eles equilibram suas duas identidades e por que o país poderia suportar mais algumas dezenas de milhões deles. E a elite andando para cima e para baixo em limosines blindadas ficará muito impressionada. Pelo menos até suas netas porem a burca e anunciarem que seus novos nomes são Fátima e Aisha e que sua sombra de olho favorita é o roxo. E tudo isto vai acontecer sob os auspícios de organizações com nomes pomposos, envolvendo direitos civis e humanos.

Se isto está acontecendo no Ocidente, que esperança há de que um estado mundial de leis internacionais seja algo além do que sempre foi -- um carimbo para a tirania e a opressão, mas sem a esperança de socorro para suas vítimas?

O surgimento da democracia ocidental foi o surgimento da classe-média que protegia seus direitos e interesses. Agora, a classe-média está morrendo e sendo substituída por uma classe de trabalhadores profissionais do governo, subsidiados pelas indústrias moribundas que um dia moveram o comércio de uma nação poderosa. Ela não pode ser exportada por ONG's nem replicada por acordos globais. Não quando os mesmos progressistas jurando exportar a democracia e os direitos humanos estão dando duro para esmagá-la em casa.

O ideal progressista é um trágico mal-entendido terminando em catástrofe nacional. A idealização do governo não é só a segunda melhor rota possível para a tirania, mas também a morte das instituições que geram a vitalidade de uma nação. Os reformadores defendem a mudança, mas sua idolatria ao governo leva a sistemas estáticos que tornam a mudança e a reforma impossíveis. Sua idéia final de governo mundial é um fracasso idealizado desde o começo. Sua incapacidade em entender a natureza do poder e até onde seus próprios ideais são culturais, ao invés de universais, condena sua ordem mundial inevitável a ser não apenas inevitável, mas impossível.




Daniel Greenfield: Sultan Knish, 7 de junho de 2011

Original: The Rise of the Post-American Empires

Tradução:
DEXTRA

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