Domingo, Agosto 10, 2008
Qual o alcance dos acontecimentos que envolvem os militares?
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Por Adalto Barreiros
Um pouco mais exposta à mídia a reação no Clube Militar não deve ser vista além dos seus limites. É evidente que há forças civis e militares que estão se reagrupando no rumo de barrar essa caminhada em direção ao "socialismo" do Foro de S. Paulo. Também é cristalino que desta vez ficou mais exposta a condução coordenada de uma "reação" que conta, sem dúvida, com apoio da Ativa. Mas, tudo ocorre dentro de limites do Estado de Direito que de "direito", na verdade, resguarda muito pouca coisa ou quase nada.
Membros do Alto Comando fora do Rio não foram ao Clube. Muito menos o das outras Forças. Nem uma gama muito grande de patentes subalternas fardadas. Essa é outra coisa que mudou nos corredores do Clube e em sua história e só quando essas patentes subordinadas intervieram lá, o Clube foi que foi. A elevação do tom do Figueiredo (grata performance, por sinal) é indício claro que as coisas mudaram e que os ataques diretos aos membros do governo em suas ligações com as FARCs e a exposição pública e oficial de seus atos pretéritos, nas condições em que foram feitas, é um dado novo.
Entretanto, têm importância sim as repercussões da mídia, pois é ela que vai dar o curso das coisas. Explico por que.
Primeiro. Figuras como as que o Oliveiros S. Ferreira descreve em seu livro - "Elos Partidos" - não existem mais e nem se projetam no cenário nacional nas condições políticas hoje existentes. Figuras e condições são muito diferentes. Logo, o AC (Alto Comando) agirá como um "Conselho do Almirantado", portanto de forma coletiva. Não há ascendência de nenhum Cmt de força sobre os demais membros dos AC. No caso do EB não há. Foi o que ocorreu agora nesse apoio tácito ao Encontro do Clube Militar.
E já houve caso antecedente de não se atender a posição recomendada em determinado assunto. As manifestações de oficiais da Ativa de patente inferior é fato isolado e quando ocorreu, o próprio manifestante não foi além da internet e, diga-se de passagem, são soldados disciplinados que dificilmente sairiam fora da cadeia de comando. Tem-se que levar em conta também que nem todos são Gen Cesários no AC e muito menos na Marinha e mais ainda na FAB. Tenho dúvida se fosse outro o CML, se ele teria o mesmo desempenho. Gostaria muito que sim. Mas, esse Encontro, reconheço, serviu para selar uma "aproximação" entre a ativa e a reserva das três Forças, como também evidenciou o desgaste público dessas relações do governo Lula com coisas pouco recomendáveis. Há o apoio da Ativa. Não há dúvida. Acho que é a primeira vez que o governo está sob alguma forma de pressão real. Mas, já ocorreu antes, em alguns casos. Mas , ainda assim o foco é específico - os ataques aos militares e à Lei da Anistia e a problemática que a envolve. Aliás, Agosto e Abril são períodos muito propícios a esse tipo de "ressucitamento" do perigo militar aos direitos humanos. Todo o ano ocorre. Faz parte do tal projeto de poder.
Mas, nada ocorrerá exceto quando a população for "atingida" pelo caos ou por alguns de seus aspectos dominantes, como é o caso da segurança pública e/ou do quadro econômico que se desenha mais à frente, nos dois anos finais do governo reeleito. Muita coisa está vindo à tona. Mas, há ainda um cuidado e uma opinião pública contrária à intervenção dos militares. Só o caos vai cristalizar essa mudança.
Na mídia você vê três grupos de "processos" e "fontes" de formação de opinião. Um que aponta os problemas do governo Lula (todos), mas faz ressalvas aos militares e nele, por conseqüência, há a manutenção do "Estado de Direito" e a não admissão de "volta ao passado". Na verdade, a maioria da opinião pública brasileira está convencida de que os militares efetivamente cometeram tortura de forma institucional (principalmente os mais jovens). E isso decorre do próprio processo que está em curso.
Vivemos, pois um quadro de revivência de luta ideológica (e isso ocorre em toda América do Sul) e ele decorre do próprio projeto de poder da esquerda (e quando falo em esquerda refiro-me ao leque amplo que a abrange e mais especificamente aos dois irmãos gêmeos PSDB E PT) e de sua retroalimentação. A esses dois pólos interessa, também e muito, a polarização entre eles e isso mantém as coisas com a inércia que vemos em tudo. Desde a apuração e responsabilização de crimes mais que explícitos e evidentes, até a satanização dos militares. Isto contamina todo arcabouço jurídico do país e se expande pela política, sob a forma de corrupção que se alastra e de atos de governo contra a própria soberania do país. Na verdade o governo não governa. Administra as crises que ele mesmo gera no dia a dia, enquanto o seu Presidente viaja.
As coisas são muito claras. A exposição do Coutinho foi a mais eficiente das três. Cristalina, racional e lastreada nos fatos. Mas, ela nunca chegará à mídia. O Ribas está propondo claramente um núcleo conspiratório e a do ex-Juiz do STJ propõe simplesmente que se faça o que fazem os sindicalistas que dominam o governo (ou seja, passeatas sem armas), o que vale a dizer façamos uma "guerra", dentro do “estado de direito”.
Outro grupo de formação de opinião frontalmente defende as posições dos governos, até porque ele está efetivamente sob pressão dos fatos. Aí estão todos e tudo que é agregado a esses movimentos ideológicos. Esse grupo explica as notícias "plantadas" que tentam dizer que o AC desestimulou o comparecimento dos Cmt da Ativa (nem precisava fazer isso, pois eles não vão mesmo, exceto dentro dos limites constitucionais) e que minimizam os efeitos da tal "crise" e mantém as coisas no lugar, como dizer, por exemplo, que menos de 100 militares estiveram no Clube. Todos sabem como é essa “guerra” na mídia e como as notícias se produzem. A plumagem tucana da editorialista da Folha, por exemplo, se situa nesse grupo e está a serviço da tal polarização entre PT e PSDB.
Por sinal, este último partido se serve do silêncio conveniente. Com isso desgasta o governo e por baixo do pano alimenta a idéia de que os militares são mesmo torturadores e assim alimenta as tais notícias que colocam os militares sob a ótica em que foram colocados nos últimos 25 anos.
Há outro grupo que é minoria absoluta que prega a necessidade de intervenção no curso das coisas, mas mesmo esse, muito longe admitir o processo que está em marcha e menos ainda é capaz de expor publicamente os mecanismos que alimentam esse processo. De vez em quando um ou outro autor arranha.
Assim, o alcance dos acontecimentos fica ai. Se tomado sob a ótica interna dos militares pode-se admitir mudanças, algumas até significativas. Sob a ótica externa que a meu ver é relevante para o próprio curso dos acontecimentos, podem ser situadas nestes três grupos de formação de opinião. Por enquanto é isso.
Adalto L. Lupi Barreiros é Coronel Reformado do Exército Brasileiro.
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