terça-feira, 9 de junho de 2009

A cruzada estadônica

Mídia Sem Máscara

O editor estadônico não quer saber da parte ruim da análise do consultor. Fez a manchete como se se tratasse de um fato consumado e não de uma previsão sujeita a imponderáveis de toda sorte.

Eu adoro ler o Estadão, pois é inevitável terminar a leitura de bom humor. Rio-me de suas manchetes. Tenho sempre nelas um mote a explorar para o nosso Media Watch, brinde de seus dedicados editores. Ao leitor desavisado o resultado da leitura pode ser ainda mais alentador, se aceitar com credibilidade as manchetes e as matérias otimistas do vetusto jornal, coisa que o leitor do Mídia Sem Mascara não pode fazê-lo. O leitor desavisado vai achar, lendo-o, que o Brasil e o mundo e ele mesmo terão um futuro brilhante, ainda que os dados objetivos da realidade informem precisamente o contrário. Mas quem se importará com os fatos, senão os leitores do MSM ou os da minha própria página pessoal? Tudo que o Estadão produz tem o duplo objetivo de exaltar a administração de Lula e exorcizar a crise econômica, mesmo que ao preço de faltar com a verdade.

Todo dia pela manhã, em minha religiosa rotina, deparo-me com a edição diária a me olhar com olhos de esfinge, fazendo-me a pergunta imortal do Groucho Marx: "Em quem você vai acreditar? Em mim ou nos seus próprios olhos?" Claro que, de há muito, esse papel sujo não me engana mais, a mim que prefiro acreditar nos fatos e não em mentiras impressas.

Eu quero falar da edição domingo (7), que mantém a cruzada permanente de ser o portador das boas notícias, em ajuda permanente à causa petista. Manchete principal de capa: "Consumo terá reforço de 100 bi". Não é uma maravilha? Manchete principal do Caderno de Economia repete a chamada de capa: "Consumo terá reforço de 100 bi". Não satisfeito, o editor fez uma manchete secundária: "Consumo vai bancar a recuperação". Nas palavras do Estadão:

"O consumo das famílias e do governo deverá ser responsável por 100% do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) no segundo semestre deste ano. Da expansão de 2,2% no PIB prevista para o período, em relação ao segundo semestre do ano passado, o consumo das famílias deverá representar 1,4 ponto porcentual, aponta a consultoria MB Associados. O restante (0,8 ponto porcentual) virá do consumo do governo".

Convenientemente o jornal se reporta a uma consultoria externa, de duvidoso valor heurístico e não devidamente qualificada. A MB Associados tem como um dos executivos o José Roberto Mendonça de Barros, que na mesma edição é o entrevistado de destaque, recebendo uma página inteira para suas longas respostas. Diga-se que na entrevista o tom ufanista da previsão estadônica é moderado pela previsão de que a dinâmica de comportamento da economia mundial venha ter a forma de W, isto é, queda seguida de recuperação e nova queda abrupta. Algo sensato e razoável como análise, que o economista é dos mais brilhantes.

O editor estadônico não quer saber da parte ruim da análise do consultor. Fez a manchete como se se tratasse de um fato consumado e não de uma previsão sujeita a imponderáveis de toda sorte. A MB Associados não endossaria o tom ufanista dado às suas conclusões analíticas, a dar crédito à entrevista de seu principal executivo.

Eu arriscaria dizer que as famílias brasileiras serão cada vez mais conservadoras nos seus gastos e terão cada vez maior propensão a poupar e maior aversão ao endividamento. Eu mesmo tenho dito a isso a quem me perguntar, que deve ser prudente ao gastar e fugir como puder de qualquer forma de endividamento. O futuro de curto e médio prazos é muito incerto. A análise da MB Associados parte do discutível suposto de que uma maior oferta de crédito encontrará demanda automática. Penso que isso é ainda uma hipótese sujeita à confirmação e não creio que venha a ser confirmada.

Se você, caro leitor, quiser ser bem informado, não leia o Estadão. Leia o Mídia Sem Máscara.

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